11 milhões de euros por 60 por cento de passe, contrato válido até 2019, cláusula de rescisão estabelecida em 60 milhões de euros. Os números não enganam: Adrián López chegou em julho ao FC Porto rotulado como craque e lacrado em edição especial, premium.

Quatro meses depois, o que sobra dessa expetativa criada pelos responsáveis e adeptos portistas?

O bom senso manda não antecipar sentenças definitivas. No futebol, cenário fértil para a imprevisibilidade, as opiniões vagueiam ao sabor da tormenta competitiva e os adjetivos tropeçam na incoerência com a facilidade de um golo feito de baliza aberta. E nem estes, aliás, são garantidos.

Tomando esta dose de precaução como certa, vamos aos números de Adrián López com a camisola do FC Porto.

No campeonato: 5 jogos (3 a titular), 260 minutos, 0 golos.
Na Taça Portugal: 1 jogo a titular, 76 minutos
Na Liga Campeões: 3 jogos (1 a titular), 103 minutos, 1 golo.    

A isto há a juntar sete presenças no banco, na condição de suplente não utilizado.

Onde está o problema? No estilo de jogo da equipa? Na forma como Lopetegui o coloca em campo? Há alguma limitação física? Ou será que tudo tem a ver com questões emocionais?

O pai de Adrián, José Luís Lopez, traçou ao Maisfutebol o retrato psicológico do filho, aquando a transferência para o FC Porto: «É um rapaz sério e nobre. Vai para o Porto cheio de sonhos. É feliz em Madrid, mas tem de jogar todos os domingos».

As ideias encontram eco no palmarés de Adrián. Um jogador que ganhou uma Liga Europa, uma Supertaça Europeia, um campeonato espanhol, uma Taça do Rei e um Euro sub21 – e que já tem duas internacionalizações pela seleção A de Espanha – não pode lidar bem com o estatuto de suplente.

Adrián não lida. Em Madrid não lidou. Os registos da sua carreira identificam um abaixamento brutal de produtividade nas duas épocas mais recentes, já com Diego Simeone.

Adrián López, época a época:

2004/05: Oviedo, 4 jogos/1 golo
2005/06: Oviedo: 29 jogos/3 golos
2006/07: Deportivo, 21 jogos/2 golos
2007/08: Deportivo, 18 jogos/0 golos
2008/09: Málaga, 32 jogos/3 golos
2009/10: Deportivo, 39 jogos/4 golos
2010/11: Deportivo, 40 jogos/12 golos
2011/12: Atlético Madrid, 57 jogos/19 golos
2012/13: Atlético Madrid, 47 jogos/4 golos
2013/14: Atlético Madrid, 39 jogos/3 golos

Por outras palavras, Adrián reage mal à adversidade. Ao invés de combatê-la, enleia-se nela.

Repare-se: Adrián sai em 2011 endeusado do Deportivo Corunha e faz de imediato uma temporada de sonho no Atlético Madrid. 57 jogos e 19 golos, 11 deles na Liga Europa, o que é ainda um recorde.



As duas últimas temporadas acabaram por não ser uma sequência lógica de tudo o que lhes antecedeu. Para Adrián há um antes de 2012 e um depois de 2012. É no verão desse ano, de resto, que também participa sem sucesso nos Jogos Olímpicos de Londres.

Eliseu, agora lateral do Benfica, foi colega de Adrián no Málaga e ao nosso jornal, em julho, não poupou nos elogios.

«O valor dele é indiscutível. Estamos a falar de um jogador feito, maduro. Era uma grande figura na liga espanhola. É muito parecido com o David Villa, mas para mim superior. Tem bons pés, é rápido e faz golos. O FC Porto contratou um grandíssimo jogador».   

O pai deixou mais uma pista: «Se estiver fisicamente bem - e essa é uma grande preocupação nossa - o Adrián vai fazer um ano de sonho no FC Porto».

OPINIÃO: o «efeito Adrián»

Sob as ordens de Luís Milla, o atacante foi campeão da Europa de Sub21. O técnico, pouco falador, diz que Adrián «precisa de ser acarinhado» e de «ter espaço e muita mobilidade» para render realmente aquilo que pode. «É um avançado inteligente, adivinha muito bem os espaços certos».

«É um executante de grande nível, não tenho dúvidas sobre isso», conclui.

Vamos, então, para a derradeira questão: em que posição pode Adrián encaixar no modelo de Julen Lopetegui?

Primeiro, Eliseu. «No Málaga jogava especialmente pelas alas, esquerda ou direita. No Atlético é normalmente um segundo avançado e já o vi também como ponta-de-lança»
.

Agora, José Luís Lopez. «Ele prefere jogar sobre a direita, mas joga perfeitamente como segundo avançado ou até a ponta-de-lança. É rápido, muito rápido, e tem bons pés».

Finalmente, o próprio Adrián. «Estou habituado a jogar em diferentes posições no ataque, gosto de ter mobilidade e espaço. Tenho de adaptar-me ao que o mister pedir».

Conclusões? Poucas. Certezas? Uma, pelo menos. Adrián López não está a render nem metade daquilo que pode.

Os cinco jogos de Adrián López a titular no FC Porto:

23 de agosto: 90 minutos em Paços Ferreira, extremo (nota 3)
31 de agosto: 90 minutos contra Moreirense, extremo (nota 3)
17 setembro: 90 minutos contra BATE, segundo avançado (um golo)
18 de outubro: 74 minutos contra Sporting, segundo avançado
9 de novembro: 62 minutos no Estoril, segundo avançado (nota 2) *

* Nota: o Maisfutebol só atribui pontuação individual nos jogos da Liga