Os episódios sucedem-se a um ritmo vertiginoso. Como se folheássemos a biografia de uma estrela rock, de um Keith Richards nascido em Buenos Aires e trasladado no fim da adolescência para os sabores da la dolce vita italiana.

É um argumento suculento, um one man show apocalíptico, onde ninguém está suficientemente seguro, muito menos os idiotas úteis de turno. Quem? Os alvos da fúria de Pablo Daniel Osvaldo, novo ponta-de-lança do FC Porto.

Ivan de la Peña ao Maisfutebol: «Há poucos no mundo como Osvaldo»

Novembro de 2011, Erik Lamela. Udinese-Roma, Lamela não passa uma bola fácil a Osvaldo, o ponta-de-lança explode. «Sou maior do que tu e isto não é o River. Responde-me quando falo contigo!».

Erik, encolhido, reage. «Cala a boca, não és o Maradona».

Não, invocar em vão o nome de D10S na presença de Dani? Nem pensar. Osvaldo avança e a cena é feia.

Janeiro de 2014, José Fonte. Treino do Southampton, o central português entra duro sobre Dani. Osvaldo, rapaz do gueto argentino, avança com a testa e os punhos. Fonte publica numa rede social o resultado da agressão.

O Maisfutebol convida o internacional português a falar sobre o novo reforço do FC Porto. Educado, como sempre, recusa. «Não faz sentido, não temos qualquer relação».      

Janeiro de 2015, Mauro Icardi. Juventus-Inter, Dani Osvaldo entra a cinco minutos do fim. Amuado. Logo a seguir, em boa posição, não recebe o passe de Mauro Icardi. E rebenta. Corre em direção do compatriota, Fredy Guarin, qual capacete azul da ONU, agarra-o e evita o pior.  

Março de 2015, Leandro Desábato. Estudiantes-Boca, efervescência, agressividade, danos colaterais. Desábato avança para o árbitro, Osvaldo mete-lhe a mão no peito, segura-o. Dani está farto de sofrer faltas. Pega num pedaço de relva e leva-a à boca do truculento carcereiro.

«Toma, burro, come pasto».  

D10S estampado num Mini (e ao volante, Osvaldo)

Excêntrico, insolente, barba desgrenhada, caminhar indiferente. Pablo Dani Osvaldo é diferente, assume-o com orgulho, despreocupado.

«Estudo guitarra e piano. Não sou amante de futebol. Jogo-o e basta. Depois desligo-me», confessa em 2011, numa entrevista à Gazzetta.   

Dani, homem de emoções quentes e coração bom, abre a alma noutra conversa. Esta em Barcelona, ao El Pais.

«Preciso de ser mimado e sentir-me importante. Necessito que se preocupem comigo».

Rolling Stones, sempre, The Doors, Pink Floyd. As bandas de referência, o escape perfeito de Dani, uma estrela rock nos relvados do futebol. Bipolar, por vezes esquizofrénico, um dia estupidamente inspirado e inspirador, no outro desolado. E desolador.
 

O famoso Mini de Dani Osvaldo

A palavra a Dani.

«Sou um lunático. Tanto me sinto forte, poderoso, come me sinto obrigado a reagir. Tudo em excesso. Fui forçado a crescer, mas há uma parte de mim que rejeita a ideia. Por vezes faço coisas estúpidas, mas quando as faço parecem-me justas«, desabafa em entrevista ao La Repubblica, em 2012.

«Não quero ser um revolucionário, um Che Guevara. Sonho amar uma mulher, criar uma família. Às vezes sinto-me triste, perdido, e sonho com o meu bairro de infância, em Lanús. Dava tudo para voltar atrás e ser outra vez criança». 

Ídolos? Poucos, pelo menos no futebol. Riquelme, Ronaldo Fenómeno, Batistuta, De la Peña e Messi. Maradona é outra coisa, é D10S.

«É o meu mito futebolístico. Tive o prazer de conhecê-lo quando era um menino. Foi uma coisa fantástica. Recordo isso com emoção, como se tivesse sido ontem. Maradona é o maior de sempre».

Osvaldo venera D10S e leva-o para todo o lado. Em Barcelona, o seu Mini Cooper torna-se famoso. Nas portas tem a imagem de El Pibe e uma inscrição suprema: D10S é argentino.

Na pele traz tatuado o símbolo pirata («sou fascinado por eles»), o emblema dos Rolling Stones,  um pedaço do The Wall, dos Pink Floyd. Música favorita? Wild Horses, dos Stones, claro.