1. É um dos poucos amigos de José Mourinho no futebol

José Peseiro e José Mourinho estudaram juntos na universidade. Conhecem-se desde muito jovens e, numa entrevista ao Maisfutebol e à TVI em setembro de 2014, Mourinho deu conta da ligação a Peseiro: «Se me perguntares se tenho amigos treinadores, tenho. E amigos é uma palavra com algum significado. Posso dizer que sou amigo do Peseiro, por exemplo.»

Além de colegas de faculdade, Mourinho e Peseiro foram colegas de curso de treinadores. Jorge Silvério foi professor de ambos e também deu conta, em 2003, da relação que existia: «Faziam parte de um grupo muito bom, muito participativo e empenhado, onde, para além deles os dois, havia o Couceiro, o Carvalhal, o Carlos Brito. Eles os dois, particularmente, eram pessoas que davam grande importância ao treino psicológico numa equipa de futebol. E isso nota-se nas equipas deles, embora de formas diferentes.»

Apesar disso, nem sempre a relação foi muito boa. No segundo ano no Sporting, perante críticas de Mourinho, Peseiro chegou a perder a paciência e a abordar o caso publicamente: « Não percebo porque está sempre a falar negativamente, sinceramente não percebo. Infelizmente o Mourinho só vê defeitos no treinador do Sporting. Fico contente pelo sucesso que ele está a ter, até por ser português. Reafirmo que, para mim, é o melhor treinador do mundo, mas é claro que fico magoado com o que ele diz.»

2. Ganhou a fama de «treinador do quase»


Costuma dizer-se que mais vale cair em graça do que ser engraçado e José Peseiro ainda não se conseguiu livrar do rótulo de «treinador do quase», ganho em 2004/05, quando, no espaço de uma semana, perdeu na Luz e ficou afastado do título para, depois, falhar, também, em casa, na final da Taça UEFA, frente ao CSKA Moscovo.

Como se não bastasse, juntou-lhe a terceira derrota na mesma semana, em casa, frente ao Nacional, na última jornada da Liga (o último jogo da carreira de Pedro Barbosa) e com estrondo, também: não só pelos números (2-4), mas por entregar ao FC Porto, que empatara com a Académica, o apuramento direto para a Champions.

Também não ajudou, contudo, o falhanço na seleção da Arábia Saudita, com contornos dramáticos: foi eliminado no playoff de acesso ao Mundial 2010, depois de se ter colocado em vantagem já em período de descontos, em casa, frente ao Bahrain. Marcou aos 90 e sofreu o empate, que apurou os visitantes, aos 90+3.

3. Vai estrear-se contra o Marítimo, como Lopetegui ou…Mourinho

O primeiro jogo de José Peseiro no banco do FC Porto, tudo indica, será a receção ao Marítimo, no próximo domingo. O dado encerra uma curiosidade extra: o seu antecessor, Julen Lopetegui, também fez o primeiro jogo oficial pelos dragões frente aos insulares, no Dragão, na 1ª jornada da Liga 2014/15. Ainda mais curioso, por também ter pegado no FC Porto a meio da época, é o facto de também José Mourinho, em 2002, ter feito o primeiro jogo pelo FC Porto contra o Marítimo, então nas Antas. Lopetegui venceu 2-0, Mourinho venceu 2-1.

Já agora, o Marítimo também irá estrear um novo treinador no Dragão e, no caso, um velho conhecido de Peseiro: Nelo Vingada. Não só foi professor do novo timoneiro portista no curso de treinador como foi o responsável indireto pelo seu despedimento do Sporting. O último jogo de Peseiro foi uma derrota em Alvalade, por 0-1, frente à Académica de Vingada.

4. O principal título da carreira foi ganho…ao FC Porto

Apesar de ter sido campeão da II Divisão pelo Nacional da Madeira, o principal título da carreira de José Peseiro será mesmo a Taça da Liga ganha ao serviço do Sp. Braga e à custa do FC Porto. Foi a 13 de abril de 2013, em Coimbra, num jogo ganho por 1-0, com o golo a surgir na conversão de uma grande penalidade, por Alan.

O Sp. Braga não voltou a conquistar qualquer título, desde então.



5. É o «pai desportivo» de João Moutinho e Varela

Durante a sua passagem pelo Sporting, José Peseiro deu oportunidades na equipa principal a alguns jovens da Academia, sendo que João Moutinho é o caso mais flagrante. Então com 18 anos, foi levado para um estágio de pré-temporada em Inglaterra e encantou Peseiro pela «maturidade» que apresentou. Mais tarde viria a jogar no FC Porto, como se sabe, depois de Pinto da Costa até o ter descrito como um jogador à imagem da equipa.



No livro «Incrível Porto», da redação Maisfutebol, Peseiro discordava da referência: «Não faz muito sentido. Foi um rótulo criado pelo presidente por entender que ele tinha uma série de características que o identificavam com o espírito do clube, mas não creio que faça muito sentido.»

Também Silvestre Varela teve a primeira das poucas oportunidades de leão ao peito pela mão de José Peseiro. Agora será o reencontro.

6. Conhece Casillas desde 2003

Para além de Silvestre Varela, apenas existe no plantel do FC Porto um jogador que já trabalhou com José Peseiro: Iker Casillas. Durante a passagem pelo Real Madrid, como adjunto de Carlos Queiroz, em 2003, Peseiro lidou de perto com o guarda-redes espanhol.

Curiosamente, e numa altura em que as performances de Casillas estão debaixo de forte escrutínio, recupera-se uma entrevista de Peseiro ao jornal «A Bola», em outubro de 2014, quando o espanhol vivia, também, um momento difícil no Real Madrid. E as palavras não foram simpáticas: « Veremos por quanto tempo continua a ser titular na baliza do Real Madrid. Não se pode trocar de guarda-redes todas as semanas, mas nenhum treinador consegue aguentar um guarda-redes que esteja constantemente a dar erros. O fim de Casillas está próximo.»



7. Adepto de dois avançados mas adapta-se ao 4-3-3

Não é fácil definir um esquema tático de eleição para José Peseiro, que tem fama de adaptar-se bem às características dos jogadores à sua disposição. No Sporting, por exemplo, apostou muito no 4-4-2 losango, uma espécie de 4-1-3-2, com uma dupla de ataque composta por Liedson e Sá Pinto. Mas não descurava soluções para as alas, como Douala ou Rodrigo Tello.

No Sp. Braga, contudo, aproximou-se mais do 4-3-3, tendo em Alan, Hélder Barbosa e, mais tarde, Ismaily os homens das alas.

Em 2002, quando dava os primeiros passos na carreira ao serviço do Nacional. José Peseiro aceitou um convite do Maisfutebol para contar, na primeira pessoa, toda a preparação para um jogo com o Benfica. Recupere essa reportagem AQUI.

8- Na Europa alterna o ótimo com o mau

A performance de José Peseiro nas competições europeias é incaracterística. De extremos. O dado mais visível é mesmo a caminhada até à final da Taça UEFA 2005, pelo Sporting, que teve o desfecho que todos conhecem.

Começou por eliminar o Rapid Viena com uma vitória em casa e um nulo fora, passou um grupo no antigo formato de apenas um jogo contra cada adversário, vencendo Panionios e Dinamo Tblisi mas perdendo em casa com o Sochaux, afastou Feyenoord e Middlesbrough só com vitórias nas rondas seguintes, deslumbrou ao golear o Newcastle em Alvalade (4-1) nos quartos de final e apurou-se para o jogo decisivo com uma vitória e uma derrota tangencial com AZ Alkmaar. Na final, a vencer ao intervalo, ruiu no segundo tempo. Um descalabro que o CSKA Moscovo capitalizou por 3-1.

No ano seguinte foi uma sombra. Afastado na 3ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões contra a Udinese (e com duas derrotas), caiu à primeira, também, na Taça UEFA frente aos suecos do Halmstads.

No Sp. Braga, voltou a ter um início muito bom, afastando a Udinese e chegando à fase de grupos da Champions, onde ficou em último de um grupo com Manchester United, Galatasaray e Cluj. Alternou momentos brilhantes, como a vitória em Istambul e os primeiros 20 minutos em Old Trafford, quando vencia 0-2, com outros deprimentes, como a derrota caseira com o Cluj e…o resto do jogo de Old Trafford, que permitiu aos ingleses virar para 3-2.

9- Apenas uma derrota com Jesus e outra com Rui Vitória

Analisando a performance de José Peseiro frente aos treinadores dos principais rivais em Portugal, a vantagem é mesmo do novo treinador do FC Porto.

A amostra é mais pequena com Rui Vitória. Apenas quatro jogos entre os dois, com duas vitórias de Peseiro, um empate e um desaire. Aconteceram todos na época 2013/13, quando Peseiro treinava o Sp. Braga e Rui Vitória o V. Guimarães. O Sp. Braga levou a melhor nos dois jogos do campeonato (2-0 fora em 3-2 em casa), empatou sem golos para a Taça da Liga e foi eliminado, no prolongamento, para a Taça de Portugal.

Peseiro vs Vitória: 4 jogos; 2 vitórias; 1 empate; 1 derrota



Conta Jorge Jesus, José Peseiro já jogou sete vezes e venceu três, registando ainda outros tantos empates, um deles que acabou em vitória nos penaltis. Foi na época 2012/13, nas meias finais da Taça da Liga. Aliás, se excetuarmos a primeira edição, a única final da competição que não teve o Benfica foi culpa do Sp. Braga de Peseiro. Nessa época, ainda empatou na Luz (2-2) e sofreu, em casa (1-2), a única derrota frente ao, agora, treinador do Sporting.

O primeiro duelo entre os dois foi na II Liga, em 2000/01. Peseiro estava no Nacional e Jesus no V. Setúbal: vitórias insular em casa (3-2) e empate 2-2 no Bonfim. Jesus mudou-se para o Estrela da Amadora mas, na época seguinte, voltou a perder com o Nacional de Peseiro (2-0). Reencontraram-se em 2004/05, com Peseiro no Sporting e Jesus no Moreirense. Ganhou o primeiro por 1-3, em jogo realizado em Moreira de Cónegos.

Peseiro vs Jesus: 7 jogos; 3 vitórias; 3 empates; 1 derrota


10- José Peseiro já é nome de estádio


Para o final fica uma curiosidade: se passar em Coruche, terra natal do novo treinador do FC Porto, poderá visitar o Estádio Professor José Peseiro, onde joga, habitualmente, o Coruchense. Foi inaugurado em 2007 e tem uma capacidade para 1500 pessoas.

EXTRA: José Peseiro na primeira pessoa:


Um comentário bem disposto em relação ao novo nome do campeonato português em agosto de 2002, quando se preparava para estrear na Liga, pelo Nacional:

«Superliga? Deve ser pela minha estreia...»


Sobre as constantes críticas à arbitragem por parte de treinadores portugueses, também em agosto de 2002:

«Não nos podemos preocupar com outras coisas que não o falar sobre futebol. Os treinadores deviam dar o exemplo e falar sobre futebol, ver qual a forma de chamar mais gente aos estádios e proporcionar melhores espectáculos. Daqui por uns dias, continuando estas críticas, pressões e desconfianças, já nem conseguimos motivar os espectadores que ficam em casa a ver os jogos pela televisão. É bem provável que mudem para outro canal e fiquem a ver a novela.»


Aquando da mudança para o Real Madrid, para ser adjunto de Carlos Queiroz, em 2003:

«Se gosto de ver estrelas, pelo menos vou ver muitas. Pelo menos, entusiasmado vou estar sempre.»


Em setembro de 2004, antes de um jogo com o Rapid de Viena, já como treinador do Sporting:

«Prefiro 50 mil pessoas a assobiar do que duas mil a aplaudir»


Em dezembro de 2004, questionado sobre o caso Apito Dourado:

«Se há corrupção na nossa sociedade não sei porque o futebol tinha de ser um exemplo. Existe em todo o lado, em todas as atividades, é tudo feito pelos mesmo homens. É normal e natural que as coisas possam acontecer também no futebol. O que é não é natural é que se possa falar que o futebol é a única coisa pura na nossa sociedade. É impossível.»


Face à irregularidade exibicional do seu Sporting, comentou o seguinte em janeiro de 2005:

«As grandes equipas são as que conseguem expressar a sua qualidade de jogo sem serem determinadas pelo estado de espírito, de euforia ou frustração.»


Antes de um duelo com o Benfica de Giovanni Trapattoni:

«Trapattoni é um senhor do futebol. Gostava de conquistar 20 por cento dos títulos que ele tem.»


Após o apuramento para a final da Taça UEFA que iria jogar em Alvalade:

«Não há vantagens numa final. Portugal também tinha vantagem no Euro-2004 sobre a Grécia e perdeu a final»


Defendendo o futebol português, a propósito da terceira final europeia seguida de equipas lusas, em maio de 2005:

«Temos futebol que não está longe dos outros e por isso as nossas equipas ganham como os outros . Eu não consigo ver o Norwich com o Aston Villa. Vocês conseguem? Eu não.»


Antes do dérbi com o Benfica, na Luz, que mudou o rumo do campeonato a favor dos encarnados em 2005:

«Se isto fosse patinagem ou ginástica artística, tínhamos a melhor nota»


Questionado sobre o novo treinador do Benfica Ronald Koeman, em setembro de 2005:

«O tempo que no ano passado não me quiseram dar, espero que deem ao senhor Koeman»


Uma nova defesa do valor do futebol português, desta vez após críticas de Co Adriaanse, na altura treinador do FC Porto:

«Nos últimos três anos fomos Campeões Europeus, Campeões Intercontinentais de Clubes e ganhámos uma Taça UEFA. Foi o futebol português que conquistou isto e ainda por cima foi o clube onde o Co Adriaanse treina»


Depois de pedir a demissão do Sporting, em outubro de 2005:

«Assumo o insucesso do futebol do Sporting sem equívocos.»


Na apresentação como treinador do Sp. Braga, em junho de 2012:

«Não vamos colocar de lado a possibilidade de lutar pelo título. É possível. A responsabilidade maior não é do Braga. Mas vamos lutar, não até à morte, mas até à exaustão»


Após a derrota por 1-3 com o Manchester United, em casa, quando estava ao serviço do Sp. Braga:

«Até aos 80 minutos, não vi o Manchester United».


No rescaldo de um triunfo por 3-2 frente ao V. Guimarães, num dérbi do Minho:

«Prefiro ganhar 3-2 do que 1-0»


Antes da final da Taça da Liga, frente ao FC Porto:

«Pode não ser um treinador bem-amado, mas a verdade é que o Vítor Pereira criou uma identidade no jogo do F.C. Porto.»


Comentando o ano mais negro da carreira de Jorge Jesus, quando perdeu três títulos no espaço de uma semana:

«Sei o que Jorge Jesus está neste momento a passar. Quando não há sucesso as coisas viram-se para o treinador.»