Mundo de fantasia. Herói frágil, caricaturado por trocas de identidade, errático e irresponsável até ao ano de superação: 2014. Jesus Corona parece saído da tela criativa de Tim Burton, um Eduardo Mãos de Tesoura decidido a trocar o drama final pela felicidade no FC Porto.
Trama complicada no início. Por culpa da rivalidade entre duas marcas de cerveja. Arranquemos por aí a história, sorrisos e encolher de ombros.
Jesus chega ainda adolescente ao Monterrey. O apelido Corona não é aceitável. Corona, fresca e com uma rodela de limão, é a cerveja rival da empresa que patrocina o clube: Cervecería Cuauhtémoc Moctezuma.
Para evitar situações constrangedoras, risca-se o Corona e inventa-se uma alcunha: Tecatito. Encaixa bem na pequena estatura (173 centímetros) do novo dragão, não ofende ninguém e é o diminutivo de uma outra cerveja, a vermelha Tecate. Fica assim.
Jesus pensa ter encerrado em definitivo a brincadeira com os nomes de cervejas. Nada disso. Em janeiro de 2013 muda-se do México para o Twente holandês. E o clube de Enschede é patrocinado por… isso mesmo, uma marca de cerveja: Grolsch.
Ora, a cerveja Grolsch é concorrente da Heineken, que integra o grupo da Cervecería Cuauhtémoc Moctezuma, o mesmo da cerveja Tecate. Mais uma incompatibilidade, portanto, para Jesus.
Segue-se Portugal, o FC Porto e um passo gigante na carreira de Corona. A partir de agora não se fala mais de cerveja.
Precoce: aos 14 anos conquista um torneio no Maracanã
Futebol, só futebol. E Jesus Corona tem muito nos pés. Principalmente no direito.
Para já, a primeira avaliação de quem o conhece bem. Raul Gutierrez, atual selecionador dos sub21 do México e campeão do mundo em 2011 com os sub17, não poupa nos elogios.
«Conheço o Jesus desde 2009. Cresceu brutalmente, em todos os aspetos. Tecnicamente é um diamante raro, procura sempre espaço para cruzar ou rematar de pé direito».
Raul acrescenta alguns adjetivo: «atrevido», «corajoso», «irrequieto» encaixam no perfil de Corona. «Sabe resolver problemas à sua equipa. Prefiro vê-lo na direita do ataque, mas joga em qualquer flanco».
Terceiro de cinco filhos do matrimónio entre Martha Ruiz e Narciso Corona (antigo basebolista profissional), Jesus começa a escrever uma história no mundo da bola aos seis anos. Narciso Iván, o irmão mais velho, é a primeira influência do agora jogador do FC Porto.
No Pumas, da Liga OXXO Hermosillo, Jesus rasga os joelhos pede mais. «Era hiperativo», recorda a sua mãe, sempre que fala sobre a infância de Tecatito. «Tinha energia a mais e o futebol era uma terapia perfeita».
A ascensão é notável. O pequeno Corona chega rapidamente aos torneios interestaduais e aos 14 anos tem o privilégio de jogar no Estádio Maracanã com a camisola da Escola Secundária Luís Donaldo Colosio.
No Rio de Janeiro conquista a edição internacional da Copa Coca Cola, após vencer os torneios municipais, estaduais, regionais e nacionais.
Numa anterior entrevista, o treinador de Corona nessa equipa, professor Ubaldo Villalobos, confessa que o petiz «joga às escondidas do pai», mas com o beneplácito da mãe. «O senhor Narciso queria que ele pensasse mais nos estudos».
Explosão: brilha contra o Chelsea em 2012
Chovem convites. Jesus Corona tem a América Latina de olho nele após a vitória no Rio. O Santos acena com uma proposta, os pais resistem. Querem o menino por perto. 15 anos, ano de 2008, segue para o Monterrey.
Em 2009, a primeira deceção. Fica de fora da lista de convocados para o Mundial de Sub17. Chora, quer desistir de tudo. O pai, agora cúmplice, conforta o pequeno Jesus. «Foi o golpe mais forte na carreira dele«, confessa numa conversa com o jornal Excelsior.
O tempo avança e Jesus dá-lhe a mão. Com força e convicção. A 7 de agosto de 2010 faz o primeiro jogo na equipa principal do Monterrey, lançado por Victor Vucetich. Torna-se indiscutível no Rayados até se mostrar em esplendor no Mundial de Clubes de 2012.
Jesus Corona marca dois golos (Ulsan e Al Ahly) e enche o campo contra o Chelsea. Sim, se há algum jogador do FC Porto que sabe o que é defrontar o Chelsea – adversário na Liga dos Campeões -, esse jogador é Corona.
Surpreendente: um golo de pé esquerdo na Gold Cup
Hesitante no primeiro ano na Eredivisie (16 jogos, 2 golo), avassalador no ano de consagração (31 jogos/11 golos). Ted van Leeuwen, diretor desportivo do Twente, diz ao
Maisfutebol que o FC Porto está a comprar «uma futura estrela».
«De uma época para a outro teve uma evolução fantástica. A todos os níveis. Falámos muitas vezes com ele, é um excelente rapaz, e percebeu que para brilhar no futebol não basta ter técnica», explica o dirigente holandês.
Na final da Gold Cup, Jesus Corona conquista em definitivo todo o México. Agora é a vez do Porto.
FC Porto
3 set 2015, 10:00
Jesus Corona: uma carreira mergulhada em cerveja e fantasia
Aos 14 anos brilhou no Maracanã, aos 19 assustou o Chelsea no Mundial de Clubes. «FC Porto contratou uma futura estrela»
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