Jorge Fucile e Álvaro Pereira reencontraram-se esta terça-feira, no programa «FC Porto em casa», para recordar a goleada ao Villarreal (5-1), na meia-final da Liga Europa de 2010/11 que a equipa comandada por André Villas-Boas acabou por vencer em Dublin. Os dois uruguaios recordaram histórias de uma equipa que «era as nações unidas», com dezassete sul-americanos no plantel: seis brasileiros, cinco argentinos, três colombianos e três uruguaios.

Nessa campanha de 2010/11, Fucile e Palito, como era conhecido Álvaro Pereira, jogaram muitas vezes juntos, na defesa das alas do FC Porto, mas houve um jogo, frente ao Sevilha, em que Fucile jogou à esquerda e Álvaro só entrou nos instantes finais. «Foi depois de ter sido operado ao ombro. Lesionei-me em outubro, na seleção, num particular com o Chile. Depois fiquei parado um tempo. Jogou o Emídio Rafael alguns jogos, depois o Fucile também jogou na esquerda. Estive três semanas fora e penso que voltei nesse jogo», recorda Palito.

No primeiro jogo com o Villarreal, o FC Porto chegou ao intervalo a perder por 1-0,  mas virou o resultado na segunda parte com cinco golos colombianos, um poker de Falcao e mais um de Fredy Guarin.

Fucile não jogou, mas explica a má primeira parte do FC Porto. «Não estávamos habituados a jogar tão cedo. O jogo foi às cinco da tarde e nos jogávamos sempre à noite. Na primeira parte fomos superados, eles jogaram muito bem, tiveram muita bola. Jogamos muito pressionados no primeiro tempo. Ao intervalo, o André falou bem no balneário. Disse que não estávamos a fazer as coisas como sempre fazíamos. Depois apareceu o Fredy e o Falcao, foi só dar-lhes a bola», recorda.

Álvaro Pereira foi titular e lembra-se bem a reviravolta. «Lembro-me que quando cheguei ao FC Porto, o Fucile disse-me que se o FC Porto não marcasse na primeira parte, a segunda parte era a ferver. Tínhamos de marcar primeiro para depois jogar mais folgados. Mas nesse jogo tínhamos de vencer para termos uma segunda mão mais tranquila. Em quinze minutos virámos o jogo, mas o jogo foi difícil do que parece. Dessa Liga Europa, a eliminatória com o Villarreal foi muito difícil. Lá também começámos a perder», destacou.

Nesse jogo, Fucile estava lesionado e foi rendido por Sapunaru. «Estava na bancada a comer. Estivemos a perder, mas sabíamos que íamos virar. O meio-campo foi muito importante. Depois na frente tínhamos muito talento individual, o Falcao, o Hulk, o Varela. Depois de ganharmos fiquei com a sensação que tínhamos equipa para lutar por mais coisas, pela Champions League», acrescentou Fucile.

Jogou Sapunaru, mas Fucile não ficou chateado. «Não havia competição. Havia uma relação tão boa que eu ficava contente se ele jogasse e ele ficava contente se jogasse eu. Queríamos é ser campeões. No 5-0 contra o Benfica custou-me um pouco porque não tinha falhado nenhum clássico e nesse jogou ele. O Villas-Boas geriu sempre muito bem. Estávamos todos ao mesmo nível. No lado esquerdo é que jogava sempre o Palito», explica Fucile a rir.

Era um FC Porto com muitas nacionalidades, com dezassete sul-americanos no plantel. «Às vezes era complicado. Quando se misturam muitos sul-americanos, muitas vezes não se falam ou falam só os argentinos com argentinos ou brasileiros com brasileiros. Mas foi fácil porque os portugueses têm praticamente a mesma cultura, eramos um grupo muito unido. Chegava o Moutinho e queria saber dos resultados da Argentina, mas do Uruguai ninguém queria saber, dizia que eram uma m….», recorda Fucile.

Palito também destaca a união, apesar do plantel cosmopolita. «Era um grupo muito bom. Éramos as Nações Unidas. Até tínhamos gajos de África, América do Sul, Roménia…», acrescenta.

Fucile gostava de «meter-se» especialmente com João Moutinho. «Costumava brincar com o João. Dizia-lhe sempre: "João, jogaste no Sporting, perdeste sempre. Esta é a primeira vez que estás a ganhar algo". Ele ficava muito chateado. Era engraçadíssimo», lembrou.

Um grupo muito bem-disposto, mas Fucile destaca uma dupla acima de todos. «O Ukra e Castro eram a pior dupla. Para eles o FC Porto era a Disney. Pegavam-se com o Sapu, com o Maicon, com toda a gente. Estavam sempre a brincar. Treinavam forte, não jogavam, mas depois era tudo brincadeira», recorda.

Quando o FC Porto perdia também havia um grupo que se destacava. «O Pedro Emanuel, o Vítor Baía, o Ricardo Costa e Bruno Alves. Ficavam chateados a semana toda», destaca ainda Fucile. «Também raramente perdíamos, mas quando perdíamos era como se tivesse começado uma Guerra Mundial. Era a cultura do FC Porto. Por isso é que ganhávamos muitas vezes», acrescenta Álvaro Pereira.

Neste capítulo, Palito também guarda uma palavra para os adeptos. «Tenho de tirar o chapéu aos adeptos, apoiaram sempre a equipa, mesmo quando as coisas não saíam bem. O FC Porto tinha uma característica muito forte: tem de ter raça, não pode dar uma bola por perdida e ainda tem de jogar bem. Em casa, mesmo em vantagem, temos de dar show. Quando começávamos a perder, sentíamos pressão para empatar e fazer golos», recordou ainda Álvaro Pereira.