A explosão que Rui Pedro provocou no universo portista na noite de sábado pode ter causado espanto aos menos conhecedores da realidade portista nos escalões de formação. Mas há um homem, entre vários, que não ficou surpreendido com a classe com que o menino de 18 anos picou a bola por cima de Marafona no quinto minuto descontos. José Ferreirinha Tavares, técnico do FC Porto B, considera que este sucesso acaba por ser resultado de um «processo normal» de crescimento.

«Primeiramente vejo esse golo com enorme felicidade pelo que representou para o clube. Depois, o trajeto do Rui Pedro está a ser pensado para crescer de forma sustentada. Para que o que aconteceu não seja esporádico. Tem ainda idade de júnior e este processo é normal, dentro do clube. Ontem aproveitou bem uma oportunidade. Houve mérito do jogador, foi uma grande decisão do treinador da equipa A e houve mérito dos companheiros, também», afirmou, à margem do Clássico FC Porto B-Benfica B, esta tarde.

O Maisfutebol questionou José Tavares sobre que mensagem este momento de Rui Pedro e, sobretudo, a aposta que nele foi feita, depois de outros casos como André Silva ou Ruben Neves, passa para o grupo que compõe a equipa B e, até, os escalões de formação. O técnico nem hesitou: «É um sinal que o processo funciona».

«É também sinal de algo que já tem vindo a ser dito: que as equipas B vieram trazer oportunidade para jovens ter espaço. É importante que os jovens joguem nestes jogos, como hoje. Este é o espaço para os jovens aparecerem. Hoje, ver um júnior na equipa principal é mais normal. No caso do Rui Pedro, o talento tem de ter espaço», defende.

José Tavares lembrou, porém, que nada está acabado para o jovem de 18 anos. Longe disso. «A formação não termina com a chegada à equipa A, dura muito mais tempo. Mas, claro, o que aconteceu é muito positivo. É um belo caminho a seguir», destacou.

«André Silva e Rui Pedro têm características que se podem complementar»

No jogo com o Sp. Braga, Rui Pedro entrou para se juntar a André Silva, outro produto da formação portista no centro do ataque. José Tavares frisou não querer intrometer-se nas opções táticas de Nuno Espírito Santo, quando questionado sobre uma eventual dupla atacante composta pelos dois jovens com ADN portista. Mas salientou o «enorme talento» de ambos.

«São o futuro do FC Porto e da seleção. Trabalham imenso, chegaram ao clube muito jovens. O André é de 1995, o Rui Pedro de 1998, são gerações diferentes. Mas têm características que se podem complementar. São talentos com capacidade para sobreviver a qualquer contexto», defendeu.

E alerta para os perigos que aí vêm: «A tentação será já endeusar demasiado cedo algumas questões. Temos de dar imenso tempo, imensas oportunidades. Precisam de um contexto de qualidade e de estarem em equipas que joguem um futebol ofensivo e atrativo.»

Por fim, José Tavares disse estar preparado para «perder» Rui Pedro para a equipa A, pois é algo que diz ser o que faz sentido no caminho dos jogadores.

«Há uma imensa migração de jogadores para os trabalhos da equipa A, o que é muito saudável. E esta semana também o Inácio teve uma oportunidade e outros estavam no banco. Poderá acontecer mais vezes no futuro», acredita.

Mas reitera, por fim, o alerta: «Os jogadores estão preparados mas não estão acabados. A tentação é olhar para eles como produto acabado, mas é preciso dar o tempo necessário.»