No campinho de terra avermelhada, Vaná e os irmãos, Vinícius e Vailson, chegam duas horas antes do treino do Planaltina Esporte Clube começar. Comem melão, colhem laranjas de uma árvore, contam histórias e brincam à sombra.

O retrato é real e recordado ao Maisfutebol por Vinícius. Resume «na perfeição» a infância do novo guarda-redes do FC Porto no distrito federal brasileiro. É nessa fase, «por volta dos 10 anos», que Vaná se torna guarda-redes.

«Num dos primeiros treinos, o treinador olhou para ele e disse uma coisa que jamais esquecerei. ‘Tu és grandão e pezudo, não jogas nada. Vamos ver como te sais na baliza’. O Vaná foi e nunca mais saiu. Era muito rápido a reagir e enorme ao lado dos outros meninos», conta Vinícius, também ele um homem com história na baliza.

PARTE I: «O Vaná viu o pai sofrer um enfarte à frente dele»

Anos a fio, Vaná cresce no mesmo campo onde crescem Lúcio, Jadson e Sandro, todos internacionais brasileiros. Planaltina é terra de craques, apesar de só ostentar um minúsculo clube de futebol.

«O Vaná sempre foi muito dedicado, nunca deixou uma coisa a meio. Era inteligente na escola e seria arquiteto se não fosse futebolista», diz Vinícius. «Sempre soube conciliar a escola com o futebol, é muito competitivo. Saiu cedo de casa e os meus pais sempre souberam que podiam confiar nele.»

«’Vinícius, eu nem sei o que dizer ao Casillas’»

Na passada sexta-feira, véspera da oficialização da chegada ao FC Porto, a família de Vaná recebeu «a melhor notícia dos últimos tempos».

A partir de Portugal, Vaná pediu a Vinícius para juntar todos os familiares mais próximos. O pai, Abadia Alves dos Santos, e a mãe, Antonina Alves, pensam de imediato que o núcleo familiar vai ser alargado.

«A reação imediata foi essa. Pensámos que o Vaná iria anunciar a gravidez da esposa (risos). Foi tudo muito rápido, ele ainda estava acelerado. Disse-nos que tinha assinado pelo FC Porto e nós ficámos loucos.»

As conversas têm sido curtas, muito curtas. Mas Vaná já revelou um pouco sobre o balneário azul e branco. «Falámos logo sobre o Iker Casillas. Ele disse-me que nem sabe como se comportar ao lado dele. ‘Vinícius, eu nem sei o que dizer’. É normal o Iker é uma lenda da história.»

Vaná é dragão e em Planaltina, no distrito federal brasileiro, há uma família de coração do dragão. O senhor Abadia, a dona Antonina, os irmãos Vinícius e Vailson são os «adeptos mais apaixonados pelo FC Porto».

Uma casa azul e branca em Brasília.

Quatro episódios de uma carreira agitada:

. As luvas para Rogério Ceni
Dezembro de 2013, o Coritiba joga contra São Paulo e Vaná é ‘obrigado’ a ajudar o histórico Rogério Ceni. Antes do jogo começar, Ceni corre em direção a Vaná e pede-lhe um par de luvas emprestado. «Ele esqueceu-se da bolsa com as luvas no hotel. Por coincidência, a marca que uso é a mesma e o Rogério pediu-me esse favor. Claro que aceitei, ajudar um monstro sagrado é um privilégio.»

. Um fã muito especial no ABC
João Gabriel, um menino de 5 anos, chora compulsivamente ao saber que Vaná vai sair do ABC. A criança sofre de um problema congénito na coluna cerebral e de hidrocefalia, e é uma visita obrigatória nos jogos desse clube. Vaná é o seu maior ídolo. «Ele estava a chorar à minha frente, a dizer o meu nome. Só fui ter com ele e pedi para não chorar mais. Um dia eu voltarei ao ABC», conta Vaná aos jornalistas brasileiros.

. Promoção à equipa A? Vaná não soube
Início de 2012, Vaná é surpreendido pelo site oficial do clube. «Estava em casa, de férias. Por curiosidade entrei no site do Coritiba e fui à página do plantel principal. Eu fazia parte da equipa de reservas e, sem saber, dei por mim como membro da equipa A. Estava lá a minha foto. Liguei logo para um dos diretores, a perguntar, e ele confirmou a minha promoção. E ainda me deu uma reprimenda, disse que eu tinha obrigação de saber», conta o agora dragão ao Correio Brasiliense.

. Um ídolo chamado Zetti
Na infância em Planaltina, Vaná e o irmão Vinícius ficam obcecados pelo guarda-redes do São Paulo, Zetti. «Era o nosso grande ídolo. Grande parte daquilo que o Vaná é como guarda-redes, creio que foi formado a observar o Zetti em campo», conta Vinícius ao nosso futebol. Zetti conta no currículo com a presença no Campeonato do Mundo de 1994, conquistado pelo Brasil.