Pinto da Costa, presidente do FC Porto, concedeu uma longa entrevista ao Jornal de Notícias, em que abordou vários temas da atualidade do clube azul e branco. Reproduzimos algumas partes, em discurso direto. 

[Sobre o momento do FC Porto:] «A equipa joga bem. Há um ano dizia-se que o FC Porto não tinha centrais, mas agora temos uma dupla de centrais das melhores que há na Europa. E o Marcano já estava cá no ano passado e está a mostrar que é um jogador excecional.»

[Acredita que FC Porto pode ser campeão?] «Se as coisas correrem dentro da normalidade, acredito que sim».

[Eliminatória com a Juventus:] «A equipa está melhor agora do que há três meses, quando eliminou a Roma. Quando saiu a Roma disse ‘Coitada da Roma’. Toda a gente se riu e fomos lá ganhar 3-0. Agora digo que a Juventus não teve sorte

[Dupla André Silva-Diogo Jota:] «Dois jogadores de vinte anos, seja em que posição for, não podem ser vistos como a melhor dupla da história do clube ou da Europa. Com o tempo têm potencial para evoluir. Acredito que venha a ser uma grande dupla.»

[Depoitre foi contratação falhada?] «Para nós a Taça [de Portugal] foi curta. Se calhar está destinada para a capital e estaríamos lá a mais. Perdeu essa oportunidade para jogar mais. Com o decorrer dos jogos não sei.»

[Perder Brahimi para a CAN:] «É desagradável porque está num bom momento. Não vamos entrar em pânico porque o Brahimi sai porque antes de ele estar na forma que está, jogava o Otávio com grande eficácia e eficiência. Quando o Brahimi sair, acho que temos soluções para o substituir, embora seja um jogador diferente de qualquer um. Antes não jogava? Teve necessidade de adaptar-se à forma como o treinador quer que a equipa jogue. A partir do momento em que se integrou no sistema de jogo é importante.»

[Relação com Alexandre Pinto da Costa, seu filho:] «Um exemplo: o Rolando era um peso morto no clube. Não conseguiam colocá-lo e foi a empresa de que o Alexandre era sócio que o colocou. Além de ter deixado de pagar o salário, cerca de um milhão, o FC Porto ainda recebeu mais um milhão. Comissões? Do FC Porto recebeu o que normalmente qualquer um recebe. Se recebeu de outros, a mim não me interessa nada.»

[Ainda sobre Alexandre Pinto da Costa:] «Não me interessa se o empresário é meu filho, primo, genro, amigo ou inimigo. Se o negócio for bom para o FC Porto eu faço-o. Se não for, não faço. Por exemplo, o Rui Pedro só está no FC Porto em virtude da interferência da empresa de que o Alexandre fazia parte. Quando foi para assinar, ele só queria que arranjassem emprego para o pai. Queria trabalhar e não dinheiro apenas. O Alexandre falou-me nisso, eu falei ao Américo Amorim que está no ramo das cortiças, arranjou-se o emprego e ele ficou.»

[Saída de Antero Henrique:] «Ainda hoje mantenho excelentes relações com o Antero. Depois de ele ter saído já almoçámos mais do que uma vez. Por que saiu? Tem de lhe perguntar a ele. O que ele disse não vou revelar, mas autorizo-o a ele. A prova é que ele se mantém como representante do FC Porto na Liga.»

[Substituto na presidência?] «O FC Porto tem 50 mil sócios em condições de se candidatarem. Isto não é uma monarquia, o FC Porto é um regime democrático. Quem vejo para me suceder? Aí uns 500…»

[Último mandato?] «Por ordem normal das coisas é natural que sim, mas não quero que digam que um dia disse que ia embora e não fui. Eu já disse muitas vezes ‘deixem-me sair’ e não apareceu ninguém. Quando chega a altura ninguém aparece. Depois da eleição voltam a aparecer.»

[Projetos futuros:] «Fazer um centro de treinos para os jovens. Estamos em conversações com a Câmara da Maia. O futuro do clube tem de passar pela formação. O FC Porto tem de ter jovens que possam vir a representar o FC Porto. Como o Ruben Neves ou o Rui Pedro. Não se pode constituir uma equipa de juniores ou B à base de nigerianos que um dia estão aqui e noutro não. Fazer estre centro não é uma promessa, é um desejo.»

[Situação financeira do FC Porto:] «Tenho confiança no futuro. Ainda agora estiveram cá os homens da UEFA e fizeram os maiores elogios ao trabalho que o FC Porto está a fazer. Estamos a ter mais cuidado nas contratações. Caros são os que custam muito e não jogam. É isso que temos de evitar.»

[Adrián López:] «Foi um ato falhado. Pagamos 11 milhões com base em indicações do treinador e do empresário. O Lopetegui falava dele de uma forma que pensei que vinha aí o Maradona. O Jorge Mendes disse que vendia pelo mesmo preço no final da época e se jogasse vendia ainda mais caro.»

[Formação:] «A filosofia da equipa B alterou com o novo diretor desportivo [Luís Gonçalves]. Vamos aproveitar cada vez mais os que nascem cá em vez de jogadores da Nigeria, Malásia, Mali…O caminho é formá-los. Isso vai deixar de ter um custo. Tirando um milhão daqui, outro dali, outro para o empresário… No final é muito dinheiro. Estamos a reduzir bastante os custos na equipa B mas só no final da época se vai ver o efeito.»

[Não ter vendido no Verão:] «Não vendi porque o treinador considerou Herrera e Danilo essenciais e o André Silva tinha uma clausula de 25 milhões e preferimos renovar, aumentar a clausula para que daqui ou três ou quatro anos possa ser transferido por outros valores.»

[Não ter vendido Herrera foi um erro?] «Ele entrou bem na época, depois nem tanto, mas ainda ontem jogou. E é um jogador importante. Outro negócio? Pensaremos na altura. Herrera não é só o que joga, mas o exemplo que é como profissional, trabalhador, é importante tê-lo no grupo. Se vierem propostas boas estamos abertos a negociar

[Contratação de Nuno Espírito Santo:] «Jorge Mendes não teve nada a ver com a vinda do Nuno. Lopetegui sim, foi indicação do Jorge Mendes, com o Nuno falei pessoalmente e só depois de termos apertado a mão ele comunicou ao Jorge Mendes. Aliás, estava marcado um encontro para Nuno ouvir uma proposta de um clube inglês, mas ele disse que se fechasse com o FC Porto já não queria mais nada.

[Presença do presidente junto da equipa:] «É uma motivação para os jovens. Por que não era assim antes? A relação com os treinadores não me levava a uma proximidade tão grande. Tenho uma relação forte com Nuno. Foi meu jogador, foi escolha minha, com aprovação da administração. Há uma relação de amizade, mas no clube cada um tem o seu lugar.»

[Ficou amigo de Lopetegui?] «Não. Nunca mais falei com ele. Mas custa algum dinheiro ao FC Porto… Quando o FC Porto perdeu em Alvalade, no ano passado, ele teve uma receção intempestiva por parte dos Super Dragões. Dei-lhe todo o apoio. Nessa semana jogávamos com o Rio Ave. Estive com ele no dia do jogo e ele disse que um jogador não ajudava atrás, outro não ia à frente, explicou-me como ia jogar e o que ia mudar. Eu disse-lhe: ‘mister, você é que sabe, eu quero ganhar’. Para meu espanto, à noite, a equipa era a mesma do jogo anterior sem as alterações que me tinha dito de manhã. Soube depois que foi o adjunto que disse para não mexer. Empatamos com o Rio Ave e jogamos mal. No final disse-lhe: ‘mister, de manha diz uma coisa e à tarde faz outra?’ E ele respondeu: ‘Presidente em dois segundos resolvemos o problema e eu saio’. Eu disse que falávamos no dia seguinte. Meia hora depois, [Lopetegui] disse ao Antero a mesma coisa. No dia seguinte foi a minha casa com o Antero. Ele disse para falar com o advogado, que não havia problemas. O advogado nunca mais veio cá. No contrato havia uma cláusula que dizia que tínhamos de lhe pagar enquanto não tivesse emprego. Deve ser o selecionador mais barato do mundo, porque ele ganha em Espanha 250 mil euros e o Porto tem de pagar o resto até aos 900, para cobrir o contrato dele.»