A campanha europeia do FC Porto em 2004 teve lances de um brilho inigualável, jogos memoráveis e... outros não tão bem jogados. Como é o caso do duelo com o Deportivo da Corunha, na primeira mão das meias-finais, que cumpre 20 anos este domingo.

Depois da noite espetacular de Maniche em Lyon, o FC Porto deparava-se com mais um grande obstáculo. Os espanhóis do Deportivo vinham ao Dragão para jogar olhos nos olhos com os portistas e só o histórico já deixava a equipa de José Mourinho em alerta.

Nos oitavos de final, o Depor tinha afastado a Juventus e, depois disso, voltou a impor-se perante as forças italianas, ao eliminar o Milan, que era o campeão ao título e grande favorito à conquista da prova.

Em conversa com Maisfutebol, Fran, que por essa altura já vivia os «últimos momentos como jogador», recordou a visita ao Dragão, onde se defrontaram duas equipas com estilos semelhantes.

«Eram duas equipas muito parecidas, jogavam de forma parecida e sabíamos que a equipa que menos errasse chegaria à final», lembra o antigo internacional espanhol, que é pai de Nico González, atualmente ao serviço do FC Porto.

«Foi um jogo muito duro, não foi bonito. As duas equipas sabiam que era uma final. Nós vínhamos de eliminar o Milan, que era o grande favorito, já não restavam equipas muito potentes. Sabíamos que era uma oportunidade histórica para chegar à final, mas o FC Porto errou menos e por isso chegou lá. Soube aproveitar os nossos erros. Não chegámos à final porque não fomos capazes de marcar um golo nos dois jogos», assumiu ainda.

Duas décadas depois de ter enfrentado o FC Porto de Mourinho, Fran ainda não esqueceu os pontos fortes dos dragões. Se os homens dos setores mais recuados eram verdadeiros operários, a magia do 10 destacava-se na frente. «O FC Porto era uma equipa muito disciplinada, fechava-se bem atrás. Depois, dependia bastante da magia de um jogador como o Deco, que era o jogador que tinha mais classe, era determinante. Defendiam muito bem. Tinham um central muito bom, o Ricardo Carvalho, um lateral-direito [n.d.r. Paulo Ferreira] que subia muito pelo corredor. Era uma equipa muito sólida e difícil de vencer.»

«Era uma equipa muito forte e segura. Atrás, tinha uns jogadores de muito trabalho e outros de muito talento na frente. Estava um no meio-campo... Como se chamava? Trabalhava muito para a equipa [n.d.r. Maniche, respondemos] Maniche, uau, como trabalhava para a equipa. E, depois, deixavam que Deco acrescentasse essa diferença», lembra.

O episódio que Jorge Andrade (e os colegas) não esquece

É impossível falar desta eliminatória da epopeia portista sem lembrar a expulsão de Jorge Andrade. O internacional português tinha deixado o FC Porto dois anos antes e ainda mantinha laços de amizade com o plantel portista, sobretudo com Deco.

Jorge Andrade expulso depois de um «pontapé» em Deco (Christophe Simon/AFP via Getty Images)

O antigo central até tinha um jantar marcado com o luso-brasileiro no final do jogo, mas ficou sem apetite quando, aos 87 minutos, viu cartão vermelho direto. «Houve uma jogada que, para mim, marcou o jogo e fez com que o Jorge Andrade não pudesse jogar a segunda mão. Deram-lhe cartão injustamente.»

Depois de uma falta sobre Deco, Jorge Andrade deu um «pontapé» amigável no colega, mas o árbitro Markus Merk entendeu que o central tinha excedido os limites. Isto enquanto Jorge Andrade, incrédulo, repetia: «He is my friend [Ele é meu amigo]».

«A expulsão foi totalmente equivocada, mas isso também faz parte do futebol. O árbitro aí errou, mas já passou. O resultado de 0-0 com um jogador expulso, estava bom para jogar a segunda mão. Tudo se iria decidir no Riazor. E, aí, não fomos capazes de saber atacar a defesa do FC Porto», conclui Fran.

O empate no Dragão, tal como lembra o antigo médio espanhol, até parecia um bom resultado para o Depor, que a jogar em casa tinha tudo para carimbar a presença na final. Contudo, um penálti de Derlei no Riazor encaminhou os portistas para a final de Gelsenkirchen – mas essa é uma história para contar mais à frente.