15 de junho de 2013. O mundo de Gonçalo Paciência desaba. Integrado no estágio da Seleção Nacional sub20 para o Mundial, o avançado é obrigado a voltar ao Porto. A FPF fala em «razões de ordem médica», sem aprofundar o tema. Ivan Cavaleiro é chamado.

Gonçalo recuperar de uma lesão ligamentar no joelho direito. Recuperara, fizera um excelente final de época e era a grande surpresa nos eleitos de Edgar Borges. O golpe, o segundo em pouco tempo, ameaçava a carreira e o próprio bem-estar de Gonçalo.

O processo, sabe-se agora, acaba bem. Sem sequelas de qualquer tipo. Na altura, o amigo Diogo Ally, é uma das principais fontes de apoio. Ao Maisfutebol recorda essas semanas de sofrimento do amigo do peito.

« Foi duro. Chegou a perguntar-me: 'o que vou fazer agora? Só sei fazer isto!' Tivemos todos medo», recorda Diogo Ally. Os antecedentes, já de si problemáticos, tornam tudo mais insuportável.

«O Gonçalo tinha-se lesionado contra o Benfica, a cabecear uma bola. Recuperou, foi o melhor marcador da fase final de juniores, vai ao Mundial e acontece-lhe isso. Muito mau».

Felizmente, a anomalia detetada nos testes não se revela grave nem inibidora. «Os médicos estranharam, mas inicialmente nem disseram nada ao Gonçalo. Quando nos vimos ele só sabia que havia alguma coisa errada. Ficámos todos à espera, em angústia»

Gonçalo Paciência vai mais tarde a Londres, aprofunda o tema e fica descansado. O pai, Domingos Paciência, sofrera do mesmo alguns anos antes. Mais do que uma doença ou deficiência, os exames revelam uma característica particular. Nada sério.

«Ficámos sossegados, o Gonçalo voltou e, como se não bastasse, sofreu mais um contratempo».

Em pouco mais de um ano, o terceiro: lesão meniscal no joelho esquerdo, mais uns meses de paragem. «Isso derrubou-o ou, pelo menos, foi isso que pensámos. Mas em janeiro de 2014 já estava a treinar e a lutar por um lugar na equipa B. O Gonçalo é um campeão».

A ESTE AVANÇADO NINGUÉM ROUBA A BOLA (perfil)

Bernardo Pessoa, colega de Gonçalo Paciência no FC Porto dos 9 aos 16 anos, acentua o tom de incredulidade. Afinal, tinha sido o mesmo Gonçalo a ampará-lo em momentos particularmente duros.

«Já fui quatro vezes operado ao pé e abandonei o futebol por causa disso. Se não fosse o Gonçalo e a família dele até tinha abandonado mais cedo. Eu sou de Cantanhede e vivia no Lar do Dragão, mas passava mais tempo na casa dos Paciência».

É lá, de resto, que Bernardo encontra forças para seguir em frente. Até desistir. «O Gonçalo andava tão ou mais triste do que eu. Isso revela muito do que ele é. Por isso assisti ainda mais revoltado a tudo o que lhe aconteceu. Só ele conseguia dar a volta a tantas adversidades».

Diogo Ally e Bernardo Pessoa são amigos de casa e do coração. Por isso, ambos coincidem noutro aspeto: depois do que passou Gonçalo, uma pré-temporada no plantel do FC Porto só pode ser uma bênção e não uma prova de sofrimento.

«Vai ser recompensado, felizmente. Os problemas obrigaram-no a crescer. Está na hora de se impor no FC Porto».