O que procura o FC Porto?

Que tipo de treinador idealiza Pinto da Costa para esquecer rapidamente o insucesso da aposta em Paulo Fonseca?

Há um perfil preferencial traçado nos gabinetes da SAD ou a relevância do momento ultrapassa os parâmetros estabelecidos para as folhas de CV?

Depois das perguntas, a realidade: Luís Castro foi escolhido e apresentado como solução interina.

O Maisfutebol sabe, de resto, que até ao final da época o ex-responsável pela equipa B vai liderar o FC Porto nas quatro frentes de combate: campeonato, Liga Europa, Taça de Portugal e Taça da Liga.

Pelo menos até ao fim da temporada, insistimos na ideia.

Várias fontes ligadas ao clube ouvidas pelo nosso jornal acrescentam mais dados: Castro é um nome respeitado e apreciado por Pinto da Costa; se os resultados transplantarem as expetativas, o rótulo de interino pode muito bem ser substituído por definitivo.

Voltemos às questões: se isso não suceder, para onde vai cair a opção do FC Porto?

De António Morais a Rui Barros: nomes para todos os gostos

Nos 32 anos de presidente do FC Porto, Pinto da Costa já recorreu a vários treinadores alternativos no decorrer da época desportiva.

Vamos a todos os nomes:

. 1983/84: António Morais, então com 49 anos, pega na equipa em virtude da doença de José Maria Pedroto; não transita para o ano seguinte;

. 1988/89: Alfredo Murça, de 40 anos, faz apenas um jogo na transição entre Quinito e Artur Jorge; o campeão da Europa de 1987 fica até ao fim da época 1990/91;

. 1993/94: Tomislav Ivic não resiste aos maus resultados, o FC Porto contrata o experiente Bobby Robson, 60 anos (o adjunto Augusto Inácio substitui o inglês durante alguns meses, devido aos seus problemas de saúde);

. 2001/02: José Mourinho ocupa com 39 anos o lugar deixado por Octávio Machado em janeiro; permanece até 2004 e dá uma Taça UEFA e uma Liga dos Campeões aos dragões;

. 2004/05: sai Victor Fernandez, que substituíra Del Neri ainda na pré-época, e avança José Couceiro; com 42 anos, o atual treinador do Vitória Setúbal só fica até ao fim da temporada;

. 2006/07: a demissão abrupta de Co Adriaanse no estágio de pré-temporada obriga à chamada de Rui Barros, 40 anos; o pequeno-grande jogador prepara a chegada de Jesualdo com a conquista da Supertaça.

Como é fácil constatar, há opções para todos os gostos. Uns mais experientes e que deixam uma marca vincada no clube, outros mais jovens e que se limitam a tentar fazer uma transição suave para a escolha definitiva.

Nos agitados dias do Dragão, é precisamente essa outra das dúvidas. Os resultados obtidos por Luís Castro ajudarão a perceber para onde vai a cadeira do poder.

Até lá, e com os dados disponíveis, desafiamos outros nomes a responder à questão lançada, pela primeira vez, na era Mourinho: a nova geração de treinadores é mais competente, tem mais conhecimentos do que as anteriores?

O receio de Luís Castro e a recordação de Carlos Alberto Silva

A 17 de junho de 2005, Luís Castro treinava o Penafiel e concluía o curso do IV Nível de treinadores. Ao Maisfutebol assumia estar «preocupado» por não ter formação suplementar à sua disposição. «Temo que me sinta ultrapassado», desabafou.

Será por este motivo que Pinto da Costa se tem socorrido de treinadores jovens na fase pós-Jesualdo?

André Villas-Boas (32 anos), Vítor Pereira (42) e Paulo Fonseca (40) afrontam a lógica comum e criam um determinado padrão nas diretrizes do decano presidente. Estão plenamente atualizados no plano teórico.

Luís Castro, apesar de muito mais velho (52), esteve afastado do banco de suplentes entre 2006 e 1013. Os resultados do FC Porto B, bastante superiores aos da época anterior, mostram que o feeling e o conhecimento estão lá.



O Maisfutebol foi mais longe. Ao Brasil, em bom rigor. E reencontrou Carlos Alberto Silva.

O treinador brasileiro conduziu o FC Porto ao bicampeonato nacional (1991/92 e 1992/93) e chegou às Antas num contexto adverso.

Os dragões tinham perdido o título para o Benfica, Pinto da Costa reconstruia o plantel e engendrava os planos de busca para tomar de assalto o domínio do futebol português. Para isso, apostou num treinador brasileiro de créditos firmados.

«O presidente queria um técnico disciplinado e disciplinador. Pediu-me isso e bom futebol. Creio que conseguimos juntar os bons resultados a essa imagem atraente», diz o treinador, agora com 74 anos e a viver «uma boa reforma em Belo Horizonte».

Carlos Alberto Silva continua a ter «um coração de dragão» e, mesmo à distância, dá a receita para um treinador vencer e convencer no FC Porto.

«Não falhar nos momentos certos. Fazer-se respeitar todos os dias. Saber gerir as emoções de todos os futebolistas. E vencer, vencer sempre».

CAS recorda as palavras trocadas com Pinto da Costa na hora em que decidiu deixar o FC Porto. «Tínhamos uma boa relação e ele estava um pouco preocupado. Eu só lhe disse: presidente, fique tranquilo, escolha alguém que não estrague as coisas e que perceba o que é este clube».

E assim Pinto da Costa regressou a Tomislav Ivic.

«Luís Castro só é interino se não ganhar»

Profundo conhecedor da idiossincrasia do FC Porto, Rodolfo Reis foi jogador, capitão e treinados dos azuis e brancos. Na última passagem pelo clube esteve três anos com Fernando Santos.

«Vivemos períodos duros no segundo e terceiro anos. Conheço a forma de pensar de Pinto da Costa e ele segurou-nos sempre nos momentos complicados. Ele é assim, enquanto sente ser possível está ao lado do treinador».

Por isso, Rodolfo entende a aposta em Paulo Fonseca até «ao limite». O antigo dragão, protagonista entre as épocas 1971 e 1984, aplaude também a aposta em Luís Castro.

«Nesta altura não podia ser de outra forma. É um homem sabedor, experiente e que estava a fazer um grande trabalho na B. Interino? Só é interino se não ganhar», conclui Rodolfo Reis.

E para final de conversa, nada melhor do que a pergunta obrigatória. O que é preciso para se ser treinador do FC Porto?

«Saber perfeitamente o que é e o que significa o clube; ter o apoio de adjuntos que sejam figuras históricas do clube; saber que não pode chegar e mudar o que está bem; ter a consciência de que é um privilégio ter o dragão ao peito; respeitar a ligação com os adeptos; ser velho ou novo é irrelevante».