Roger Milla dizia ao Maisfutebol que a Aboubakar só faltava «saber dançar». O icónico leão indomável abanava a cabeça ao jogo de ancas do compatriota, sucessor no ataque da seleção dos Camarões.

O bom do Vincent pode não ter queda para bailarino, aceitemos, mas está mais goleador do que nunca. Ok, é só uma pré-época; ok, nem todos os adversários do FC Porto são de primeiro plano; ok, os jogos oficiais ainda nem sequer arrancaram.

Tudo ok, até os dados objetivos: Vincent Aboubakar soma oito golos nos sete jogos de preparação realizados e um entendimento acima das melhores expetativas com Tiquinho Soares.

Aboubakar só não marcou aos mexicanos do Cruz Azul.

Golos de Vincent Aboubakar na pré-época:

. Rio Ave: 1 golo
. Chivas: 1 golo
. V. Guimarães: 1 golo
. Lusitano VRSA: 2 golos
. Portimonense: 1 golo
. Deportivo: 2 golos

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A colheita é especial, mas não inédita. No início da segunda época de Julen Lopetegui no FC Porto, Aboubakar marcou seis golos nos primeiros cinco jogos. Oficiais. Depois… entrou num período de seca contundente.

Ricardo Dionísio, treinador adjunto do FC Porto entre janeiro e junho de 2016, recorda ao Maisfutebol esse momento menos bom de Aboubakar. Um momento, de resto, comum à equipa na segunda metade dessa temporada.

«O José Peseiro defendia muito o Aboubakar. Trabalhava individualmente com ele, lutou por ele, mesmo sabendo que o Vincent não estava bem. A verdade é que nada lhe saía bem, foi sacrificado em vários jogos, mas o mister Peseiro nunca o deixou cair.»

O professor Ricardo Dionísio, atualmente a trabalhar no Stade Nyonnais, aprofunda a questão. Aboubakar só fez dois golos nos últimos três meses de 2015/16.

«Emocionalmente não o víamos bem. No treino trabalhávamos todos os movimentos possíveis e imaginários com ele – e com o Marega, o Suk e o André Silva -, mas foi profundamente afetado pelo mau momento da equipa.»

«Tínhamos, por exemplo, o cuidado de comunicar com ele em francês», prossegue o ex-adjunto de Peseiro no FC Porto. «É um jogador forte, trabalhador, mas também fechado, muito reservado. Não é uma pessoa comunicadora e talvez isso o tenha afetado nessa fase. Agora tenho visto resumos dos jogos e está fantástico. Nunca o vi tão bem emocionalmente.»   

Para que esta fase de Aboubakar prossiga, Ricardo Dionísio sugere «um acompanhamento constante» da equipa técnica, com conversas atentas. «Na nossa época, o Brahimi também o ajudava muito, por falar a mesma língua. O Aboubakar precisa de se sentir querido.»

Vincent Aboubakar tem contrato com o FC Porto até junho de 2018. O empresário do atleta, Fabrice Picot, disse ao nosso jornal não estar em andamento qualquer negociação para a ampliação do vínculo. Até quando?