Iker Casillas afirma que Sérgio Conceição «tinha as suas razões» quando decidiu deixá-lo no banco e dar a titularidade a José Sá na época passada.

«O treinador tinha as suas razões. Considerava, talvez, que eu não estava bem, optou por outro companheiro, o que é naturalmente respeitável e, aí, o que tens de tentar fazer é pensar no que podes e deves melhorar para voltares a competir pelo lugar», afirmou o guardião espanhol em entrevista ao «Expresso».

«Às vezes é um estímulo ver de fora os teus companheiros, porque te cria um obstáculo e ter um obstáculo aos 36 anos é bom. Sobretudo para mim, que sempre gostei de ter obstáculos na vida», garantiu.

Questionado sobre se ficou chateado, garantiu: «Não, não».

«Tens que dar mais. Este balneário sabe perfeitamente que gosto que olhem para mim como mais um. Não estou a olhar para trás, para a carreira que tive, ou para os troféus. Sempre disse aos companheiros que pela veterania, sim, sou o mais velho, mas o que gostava era de ganhar um campeonato com o FC Porto. Que o que queria era ganhar uma taça com o FC Porto», disse ainda Casillas.

«O que me aconteceu antes não serve de nada. O currículo não me garante jogar todos os fins de semana. O que faz com que jogue é treinar bem. Isso sim, é o meu dia a dia. Se olhar para trás e vir o Mundial, os dois Europeus, as cinco ligas com o Real Madrid e as Champions, o mister diz que sim, pronto, pelo palmarés tens que jogar - mas o que interessa é demonstrá-lo dentro de campo. Peço-lhes sempre o mesmo: quem não olhem para mim pelo que fui, mas pelo que sou. Que não olhem para o nome, nem para o bilhete de identidade», frisou.

Sobre Sérgio Conceição, Casillas diz que «é um treinador exigente, muito exigente». «Quer o melhor dos seus jogadores, quer que deem 100 por cento, ou melhor, 120 por cento, porque estamos num clube que exige. As 50 mil pessoas que enchem o estádio exigem que o clube seja campeão, então, a cadeia é simples: os adeptos exigem ao presidente, ele coloca um treinador, exige-lhe o melhor para as pessoas, e o treinador, por sua vez, exige aos jogadores que deem 120 por cento no campo».

E essa exigência do treinador reflete-se também no controlo do peso dos jogadores, o que, nesta altura, agrada a Casillas. «Nestes quase dois anos - e não que Nuno, Lopetegui, Rui Barros ou José Peseiro não o sejam - em que coincido com Sérgio Conceição, a mim, que tenho 37 anos, beneficiou-me ter um treinador que exige que tenhas um peso e uma alimentação, porque controlo mais o meu físico».

Se Casillas não se importa de falar sobre a relação com Sérgio Conceição, o mesmo não se passa em relação a Mourinho. O guardião espanhol garante que a temporada em que se desentendeu com o treinador não foi o pior momento da carreira - «Os momentos em que não conquistas um troféu, uma liga ou uma Champions, doem muito mais. Doem a ti, pessoalmente, e também ao adepto» -, mas não quer continuar a falar do assunto.

«As polémicas que tive com Mourinho já estão saldadas. É um tema que, depois de cinco ou seis anos... não deves falar mais sobre isso, porque já é absurdo. Ele tem a sua vida em Manchester e eu tenho a minha no Porto, casualmente ele também vem cá. São coisas que acontecem no futebol e há que as empurrar para o lado. E também não tens que olhar para trás e ver qual foi a tua melhor época. Com ele conquistei uma liga, uma Taça do Rei ao Barcelona, uma Supertaça de Espanha. Há que ficar com as coisas boas, porque as más não servem para mim, nem para ele, nem para ninguém», afirmou.

Casillas garantiu também que não guarda mágoa por não ter sido chamado à Seleção e recorda um episódio no Porto. «Quando Lopetegui se tornou selecionador de Espanha teve a amabilidade de se deslocar aqui ao Porto e falar comigo, para dialogarmos, e transmitir-me o que ia acontecer na seleção. Já tinha pensado no David de Gea como seu guarda-redes, em quem ia apostar para o Mundial da Rússia e que ia dar mais facilidade a jogadores mais jovens. Disse-lhe que me parecia bem, que respeitava a decisão, sendo ele o selecionador. A partir daí não houve mais conversas; agora é treinador do Real Madrid e que faça o seu melhor, porque como madridista que sou, espero que o Real continue a ganhar».

O guarda-redes falou também sobre o futuro. «Não me restam 10 anos de futebol, acho que não posso jogar até aos 47. Quando tinha 17 anos achava que ia jogar até aos 27, e depois até aos 32. Agora, com 37, estou mais próximo de retirar-me do que de continuar a jogar. Tenho é que desfrutar do tempo em que ainda vou aqui estar», começou por dizer, dizendo: «Seguramente vou tirar o curso de treinador, porque o quero fazer, mas ainda não sei se depois continuarei ligado ao futebol dessa maneira ou de outra».