A chegada de Tiquinho Soares ao FC Porto aumentou os golos da equipa na Liga, mas retirou-os a André Silva.

O internacional português atravessa a pior seca da temporada. Não marca há sete encontros consecutivos, seis deles no campeonato. E mesmo que tenha subido no número de assistências, a influência do camisola 10 na produção da equipa caiu com a contratação do ex-Vitória de Guimarães.

Manuel Machado, técnico que lançou Soares no futebol português, ao serviço do Nacional da Madeira, reconhece ao Maisfutebol a influência do seu antigo jogador e encara com naturalidade o abaixamento de forma do jovem avançado portista:

O André Silva é um jovem com muito potencial, como já demonstrou ao longo da época. Mas não se pode pedir às grávidas que possam parir em três meses... [risos] Quero eu dizer, os jogadores têm o seu processo de maturação. Há que ter paciência porque o André tem muita qualidade e continuará a progredir. A verdade é que o Soares veio trazer um acréscimo de rendimento ao jogo do FC Porto. Está numa evolução ascendente e a corresponder aos desafios que lhe vão aparecendo pela frente, apesar de a meio da época ter mudado para um clube com uma dimensão diferente e com outros objetivos.»  

Facto é que a colocação de André Silva tem sido apontada como um dos dilemas que Nuno Espírito Santo ainda não resolveu.  

André Silva já não celebra um golo desde os 7-0 ao Nacional, a 4 de março

Na mesma Liga, mas em clubes diferentes, os dois avançados tinham 21 golos em conjunto. E se a ideia era replicá-los no FC Porto, a verdade é que isso não sucedeu. Sobrou, por assim dizer, para o mais novo.

Os golos antes de Tiquinho

André Silva foi a principal figura do FC Porto na primeira metade da época. As exibições e, sobretudo, os golos levaram o jovem portista até ao onze inicial da seleção, para o lado de Cristiano Ronaldo, numa parceria que tem rendido a Fernando Santos, ao madeirense e ao próprio portista.

Os números não enganam. Até ao jogo com o Sporting, no Dragão, a camisola 10 do FC Porto tinha assinado 17 dos 54 golos da equipa em todas as provas. Na Liga, 12 em 37.

A influência era um tudo ou nada maior no campeonato: em todas as provas, André Silva era responsável por 31,4 por cento dos golos portistas; na Liga por 32,4.

Tudo muda após o Sporting

Francisco Soares deixou Guimarães com golos e levou-os para o Dragão. Marcou dois na estreia e a seguir mais nove, o último frente ao Sp. Braga. Ou seja, tem 11, todos eles apontados no campeonato.

Os golos do brasileiro passaram a ser os mais influentes de azul e branco. Representam 39,2 por cento dos festejos desde que trocou o Minho pela Invicta.

Já André Silva baixou e muito. Tinha marcado 17 golos em todas as provas, 12 na Liga. Com Tiquinho apontou... três. De uma influência de mais de 30 por cento, os golos do internacional português passaram a representar 10,7 dos apontados a partir do momento em que Tiquinho Soares vestiu a azul e branca, no clássico com o Sporting.

Juntos no onze fazem sentido? Para Manuel Machado, sim. «Ninguém melhor do que o Nuno Espírito Santo está posicionado para melhor operacionalizar os dois jogadores. Ele utiliza-os em simultâneo, pelo que será a melhor solução», afirma o técnico que nesta temporada orientou o Nacional e o Arouca, salientando o respeito e amizade pelo colega de profissão do FC Porto, antes de acrescentar:

Do meu ponto vista, Soares é um jogador flexível. Pode jogar sozinho, mais posicional, porque tem boa presença na área, como Dost ou Mitroglou; ou ter um colega ao lado, já que é um jogador que cai bem na linha e que sabe explorar os espaços.»

Melhor para a equipa?

Afinal, adicionar Soares ao ataque foi mau? Não, obviamente que não.

O FC Porto marca mais em média com ele do que quando Tiquinho estava no Vitória: 1,68 golos/jogo em todas as competições e 1,94 no campeonato aumentaram para 2,15 no geral e 3,2 golos/jogo na Liga.

Ou seja, com Soares o FC Porto passou a marcar, praticamente, mais um golo por partida no campeonato.

Com a chegada de Soares, André Silva deixou de ser a principal referência no ataque

Enquanto André Silva baixou nos golos, subiu nas assistências. Tinha uma antes de Tiquinho se estrear, fez mais quatro depois disso. Fruto do novo posicionamento que Nuno Espírito Santo planeou, provavelmente, e de o brasileiro absorver o golo.

Posto isto, é indesmentível que os portistas beneficiaram com a inclusão de Soares. Mas também é inegável, à luz dos registos, que André Silva tem mais para dar e não está a conseguir.

Uma questão de sacrifício em prol da equipa, de autoconfiança ou um problema do coletivo?

Com os números históricos que o FC Porto apresenta, a resposta pode ser urgente já em Chaves, onde o FC Porto defronta o Desportivo, neste sábado, na contínua luta pelo título português.