4 de abril de 2016 ficou gravada no historial recente do FC Porto como a data de uma dos mais embaraçosas derrotas dos últimos tempos. Um golo de Luís Alberto, aos 59 minutos de jogo, deu ao Tondela uma inesperada vitória no Dragão na jornada 28 da Liga 2015/16.

Os inesperados três pontos permitiram aos beirões, que levavam já o selo de «condenados», a dez pontos da zona de manutenção a sete jornadas do fim do campeonato, dar início a uma recuperação espetacular que permitiu a salvação na reta final.

Para o FC Porto de José Peseiro, o escândalo afastou em definitivo a expetativa de lutar até ao fim pelo título ou até pelo segundo lugar.

«Batemos no fundo», afirmou Pinto da Costa numa entrevista ao canal do clube que se seguiu à derrota, confessando que se sentiu envergonhado com a exibição. Em vésperas de eleições, o presidente do FC Porto decretou até o final da época dos dragões e o início imediato da pré-época onde só ficaria quem tivesse «carácter».

Cinco meses (e alguns dias) depois da derrota que ficou gravada a ferros no espírito portista, o FC Porto volta domingo a encontrar a equipa orientada por Petit, desta vez no Municipal de Tondela em jogo da 5.ª jornada da Liga.

Muito mudou num FC Porto que, após uma seca de títulos que vai a caminho das quatro épocas – algo nunca visto nas últimas três décadas e meia –, quer reinventar-se e que tenta emergir depois de bater no fundo do poço.

Cinco meses depois, há cinco diferenças que podemos encontrar entre o FC Porto da época passada e o desta. Falta saber se após a desilusão de um empate em casa na estreia na Liga dos Campeões contra o campeão da Dinamarca, Tondela desmente ou confirma, para já, se algo vai (ou continua) mal no «reino do Dragão».

O treinador: Espírito Santo no banco

A maior e mais evidente diferença entre o FC Porto da época 2016/17 e o da época anterior é a troca de José Peseiro, que substituiu sem sucesso Lopetegui, por Nuno Espírito Santo. O novo técnico tem a seu favor o ADN portista e o facto de ter ultrapassado a prova de fogo no arranque da época, ultrapassando a Roma no play-off de acesso à Liga dos Campeões – que valeu só por si 14 milhões de euros. Ainda assim, a sua escolha não foi consensual e surgiram algumas reticências dos adeptos desde logo após a derrota no clássico de Alvalade e sobretudo depois do empate a meio da semana com o Copenhaga na estreia na fase de grupos da Liga dos Campeões: as críticas focaram-se sobretudo na troca de André André por Herrera e na estratégia de, após chegar à vantagem, dar a iniciativa de jogo em casa a um adversário acessível.

A equipa: mais opções no plantel e no sistema

Apesar de algumas posições deficitárias, o plantel, que não perdeu nenhum jogador essencial (a saída mais relevante terá sido a de Aboubakar para o Besiktas), aparenta ser mais equilibrado do que o da época passada e a equipa apresenta a possibilidade de variar de sistema – do tradicional 4-3-3 para um 4-4-2 em alguns jogos. Faltará um defesa-central e um ponta-de-lança de créditos firmados, bem como eventualmente outro extremo mais vertical, mas tanto nas laterais, reforçadas com Alex Telles, como do meio-campo para a frente Nuno tem opções de qualidade, tendo recebido como reforços Otávio (regressado de empréstimo), Óliver Torres, Diogo Jota, João Carlos Teixeira, Depoitre, e em última análise até Brahimi, que acabou por manter-se no plantel e acaba por se estrear em jogos oficiais esta semana.   

O mercado: sem cumprir a tradição

Se por um lado o FC Porto parece ter mais opções do que na época passada, por outro a abordagem ao mercado não terá sido a melhor. Pode parecer um paradoxo, mas não é. O último defeso confirmou aquilo que já se suspeitava e o FC Porto outrora dominador e decidido mostra agora uma abordagem titubeante nos negócios. O fracasso na época anterior teve reflexos não só desportivos, mas também financeiros e aquele que foi o grande campeão de vendas noutras épocas, não realizou desta vez nenhum encaixe financeiro significativo (além de Maicon). Exemplo disso é Brahimi, que esteve «à venda» até ao último dia do mercado. A falta de agilidade no mercado refletiu-se também nas compras. Apesar dos 29 milhões de euros investidos em oito reforços, a estrutura portista falhou alvos como Rafa Silva – que escapou para o rival Benfica – ou Mangala, tendo de contentar-se com Boly como reforço para o debilitado eixo defensivo em cima do fecho da janela de transferências.

A estrutura: um sucessor da casa

Uma das mudanças mais substanciais no FC Porto aconteceu imediatamente após o encerramento do mercado de transferências, e até estará relacionado também com isso: ao fim de 26 anos ao serviço do FC Porto e após mais de uma década como diretor-geral para o futebol Antero Henrique saiu alegando motivos pessoais. Não deixa de ser estranho que este bater com a porta tenha acontecido cerca de meio ano depois de Antero tenha sido «promovido» a administrador da SAD. Para responsável para o futebol chegou Luís Gonçalves, ex-vice-presidente do FC Porto, onde criou o departamento de scouting, de onde saiu em 2011 para chefiar o departamento de observação do Shakhtar Donetsk. Falta saber até que ponto a chegada de Luís Gonçalves consegue colmatar o papel que Antero desempenhava na estrutura portista e que extravasava em muito as competências apenas a responsabilidade apenas pelo futebol.

O discurso: regresso do «Somos Porto»

Umas vezes mais contundente, outras mais subtil, facto é que há uma tentativa de mudança de discurso por parte do FC Porto. A começar desde logo pelo do treinador. Nuno têm o cunho do lema «Somos Porto» desde os tempos de futebolista, apela à mística do clube, algo que Peseiro confessava ainda estar a aprender, e destaca como pilares da sua estratégia o compromisso, a cooperação e a comunicação. No entanto, e aqui tudo continua na mesma, por parte da estrutura dirigente a comunicação praticamente não existe. Essas despesas ficam para as cada vez mais esparsas intervenções do presidente Pinto da Costa ou para a newsletter diária do clube, além dos comentadores do próprio canal. Ainda assim, percebe-se nesta época uma maior atenção aos casos de arbitragem, como aconteceu no clássico de Alvalade, com o Facebook e o Twitter oficiais do clube a publicarem fotos dos lances em que o FC Porto terá sido prejudicado na sequência do jogo.