Há três anos Orsi era uma desconhecida dos portugueses. Deu-se a conhecer nos momentos de dor que se seguiram à queda de Miklos Fehér em pleno relvado de Guimarães. Orsi vivia na Hungria e um ano depois da tragédia viajou para Portugal com o sonho de ser modelo. O país onde o irmão partiu acolheu-a e foi a escolha para começar uma vida nova. Agora a ligação ao Benfica praticamente não existe, mas Lisboa é a cidade de eleição da modelo da Face Models.
«O Benfica pagou tudo o que tinha a pagar. Não há qualquer dívida. Três anos depois, sinceramente, não há qualquer ligação com o clube. Há lá alguém com quem tenho um bom relacionamento, mas nada mais. Às vezes vou ver jogos, porque gosto, mas é tudo diferente», assume Orsi Fehér ao Maisfutebol.
A irmã de Miki está neste momento em Munique. O dia em que se assinalam três anos da morte de Fehér será passado entre sessões fotográficas e desfiles. Será sozinha que Orsi vai recordar o mano: «Gostava de esquecer aquela noite. Foi o pior dia da minha vida. Nunca pensei que tinha tanta força como a que senti para ajudar os meus pais emocionalmente. Queria muito ir à Hungria para estar junto dos meus pais, mas esta profissão é assim e vou ter de estar aqui um mês a trabalhar. Não queria, mesmo, passar este dia sozinha, mas tenho de ter força e ultrapassar.»
Orsi está no mesmo país do namorado, o defesa Alex, que joga no Woolfsburgo, mas estão a muitos quilómetros de distância. O português foi colega e amigo de Fehér, mas só de conheceram depois da modelo viver em Portugal. Juntos recordam a alegria de Miki. «Estará para sempre nas nossas recordações. Foi meu companheiro no Benfica durante seis ou sete meses e tive oportunidade de privar muitas vezes com ele. Almoçávamos e jantávamos inúmeras vezes. O contacto com ele era quase diário. Tinha um sentimento especial por ele, que era recíproco. O Miki foi um grande amigo que partiu, era um grande homem e a saudade é imensa. A vontade de poder partilhar o dia-a-dia com ele é muito grande», diz Alex, nesta reportagem do Maisfutebol.
«Lembro-me do sorriso dele... Do tempo em que éramos crianças. De tudo o que vivemos», afirma orgulhosa Orsi, prosseguindo: «Desde há três anos para cá mudou muita coisa. Mudei para Portugal um ano depois da tragédia. Senti que tinha de mudar alguma coisa na minha vida para sair daquele ambiente. Foi tudo horrível e tinha de dar outro rumo à minha vida.»
Os namorados Orsi e Alex tentam «não falar todos os dias sobre o Miki», mas as recordações serão eternas.
Kikin esteve para viver na casa de Fehér
Quando faleceu, Fehér morava no Restelo, num condomínio fechado, perto dos amigos Zahovic e Drulovic. Mais tarde Quim também se mudou para este empreendimento. O apartamento ficou na posse da família Fehér, mas Orsi nunca conseguiu lá viver. As recordações são pesadas de mais.
No Verão passado, quando chegou a Portugal, Kikin ponderou ir viver para a casa de Fehér. O mexicano foi visitar o apartamento com os pais e com Orsi, mas optou por viver na zona de Alvalade. A casa mantém-se vazia.
«Conheci o Miki quando chegou ao Porto, com 18 anos, e ia aminha casa para jantar porque estava cá sozinho. Como pessoa era espectacular. Reencontrámo-nos no Benfica e no dia em que chegou fomos almoçar juntos. Depois, por minha influência e do Za, foi viver para perto de nós», recorda Drulovic.
Alex desvenda a dor com que diariamente vive a família Fehér: «Quando se perde um filho, naquelas circunstâncias, jamais se esquece. O pai e a mãe sentem imenso a falta do Miki. Mais do que ninguém, ele era muito importante na família. Era adorado por todos e tiveram de enterrar um filho, quando normalmente as coisas funcionam ao contrário.»
O defesa já visitou Gyor mais do que uma vez. É nestas visitas que a dor aperta. «Para mim é muito difícil ir a casa, onde está uma espécie de museu, e ao cemitério onde está o meu irmão. Dói muito», desabafa Orsi.