Morreu esta sexta-feira Fernando Emílio, jornalista que os colegas tratavam por «mestre» e que fez a cobertura de exatas 50 Voltas a Portugal em bicicleta. Por isso foi homenageado na Volta de 2023 com as insígnias de Sócio de Mérito da Federação Portuguesa de Ciclismo

Fernando Emílio faleceu em Évora, vítima de doença prolongada, ele que era um alentejano de Montemor-o-Novo e que construiu uma imensa carreira no jornalismo.

Começou nos Emissores Associados de Lisboa, esteve mais de duas décadas na Rádio Comercial - ao lado de Artur Agostinho, Fernando Correia, Fialho Gouveia ou Carlos Cruz – e ainda passou pela Antena 1. Atualmente, aos 77 anos, fazia ciclismo para o jornal A Bola.

Construiu uma longa e rica carreira no jornalismo, ele que se estreou em competições internacionais no Mundial 82, em Espanha, e no Euro 84, em França.

Uma carreira tão rica, aliás, que até lhe permitiu levar Maradona a jantar num restaurante no centro de Viseu, como o próprio contou há uns anos numa entrevista ao Maisfutebol.

Tudo aconteceu no início da década de 80, quando Maradona representava o Barcelona.

«Havia na altura os Troféu Gandula, que tinham sido criados pelo grande jornalista Wilson Brasil. Ele em 1983 atribuiu o prémio de jogador internacional ao Maradona, mas nunca na vida imaginou que o Maradona viria a Viseu receber o prémio. A verdade é que antes da gala começar, aparece o Maradona. Tinha vindo de avião para Lisboa, alugou um carro e apresentou-se em Viseu. Sozinho, sem mais ninguém», recordou Fernando Emílio.

«Perguntou como ia para Viseu e apresentou-se lá. Agora imagine os perigos que aquele homem correu, a conduzir sozinho, a fazer a estrada nacional de Coimbra para Viseu. Até veio clandestinamente, porque não teve autorização do Barcelona. No fim da gala regressou a Lisboa, dormiu e no dia a seguir viajou para Barcelona.»

Fernando Emílio também estava em Viseu, ele que na altura ainda era um jovem em início de carreira, e acabou por tornar-se uma das figuras principais da história.

«O Maradona chegou cheio de fome, a dizer que precisava de jantar. O Wilson Brasil pediu ao Neves de Sousa para o levar a um restaurante, mas o Neves de Sousa não conduzia e pediu-me a mim para os levar. Fomos os três comer um churrasco de cabrito ao restaurante Casablanca, que ainda hoje existe. O Maradona era um miúdo cheio de vitalidade e foi o tempo todo a falar. Mas ele acima de tudo, ele queria comer qualquer coisa», acrescentou.

«Fomos àquele restaurante, que fica no centro de Viseu, e o chefe de mesa propôs-nos o churrasco de cabrito. Ele adorou. Bebemos um vinho do Dão e ficou maravilhado com aquilo tudo. Adorou o jantar. Passados muitos anos, em 2016, estava eu a fazer a cobertura da Volta ao Dubai, a acompanhar o Tavira, quando vejo entrar na tribuna o Maradona, com uma namorada loira, a fumar um charuto. O Maradona aproxima-se de mim e diz-me: 'Es portugués? No te recuerdas de mi? Comi um chibito maravilloso en tu terra'. Sinal de que ele gostou mesmo do cabrito, porque não se esqueceu.»

Uma grande história de um grande senhor do jornalismo.