Fernando Santos é o novo seleccionador da Grécia, selecção de má memória para os portugueses (ainda e sempre 2004), mas que escolheu o técnico luso para suceder a Otto Rehhagel. Em entrevista ao Maisfutebol e à «TVI», Fernando Santos explica porque aceitou o cargo e declara que, se tiver de jogar com Portugal, vai sentir o hino grego.

Novo desafio na carreira, pela primeira vez é seleccionador...

«Há uns meses entendi que estava na altura de parar, repensar o que queria fazer. Conversei com a minha equipa técnica e disse-lhes que quando terminasse o contrato com o PAOK ia parar. Entretanto, surgiu-me o convite da selecção grega, algo a que não conseguia dizer não por várias razões. Pela ligação que tenho com a Grécia e que o país tem, de alguma forma, comigo. Por outro lado é aliciante, porque é um momento de viragem. É importante repensar a estrutura do futebol grego, algo que Rehhagel não faria. Ele não estava em Atenas, vivia na Alemanha, ia só aos jogos, preocupava-se apenas com a selecção A. Tenho de preocupar-me em organizar o futebol grego desde os mais jovens até à equipa principal. Talento existe, mas perdeu-se muito tempo nestes anos. Da geração de 2004 restam Katsouranis, Karagounis, Charisteas e Seitaridis. É preciso manter a Grécia nas fases finais e, ao mesmo tempo, reconstruir a estrutura base.»



A Grécia vai ser mais ofensiva?

«Não vamos limitar-nos a jogar para o 0-0. Vai ser uma equipa que vai procurar defender bem, porque isso é fundamental, mas também ser mais ofensiva. Cada treinador tem a sua filosofia. Eu acho que o caminho para a vitória é por um lado, Rehhagel achava que era outro e conseguiu bons resultados. Penso que tenho uma vantagem, que é o facto de muitos daqueles jogadores já terem sido meus. Sabem o que pretendo do jogo.»



Como foi recebida a notícia de que era o novo seleccionador?

«É difícil falar de mim próprio. Fui passar o fim-de-semana a Paros, uma ilha grega, com uns amigos meus e, para meu espanto, quando ia sair do barco, começou tudo a bater palmas e a gritar o meu nome. Se calhar demonstra a maioria grega.»

Gostaria que, oito anos depois, houvesse uma final entre Grécia e Portugal?

«Claro, há algum português que não gostasse de estar na final? Não há nenhum seleccionador que não gostasse de estar também.»

Foi «provocado» na Grécia por causa da final de 2004? Está preparado para as críticas de um país?

«Em relação à primeira questão, devo dizer que os gregos ficaram muito entusiasmados com Portugal. Os que vieram gostaram do país. Quando cheguei à Grécia em 2001 conheciam mal, depois de 2004 todos conhecem e sente-se uma certa cumplicidade com Portugal. Mas preferia que eles tivessem ido mais chateados. Quanto às críticas, estou preparado. Estamos a falar de um povo, de uma bandeira, não de um clube. Já disse que para se estar na selecção, mais do que ser grande profissional, é preciso ter amor ao país.»

E se tiver Portugal pela frente, em 2012, que hino vai cantar?

«Vou cantar o grego. Quer dizer, cantar não, porque não sei se consigo, mas se for o treinador vou estar a cem por cento pela Grécia. Sou profissional. Agora, não deixo nunca o meu país, está sempre em primeiro lugar. Neste caso, estamos a falar de futebol e se for seleccionador tenho de estar pela Grécia. Em Portugal tive esse problema. Muita gente não entendia [a troca de clubes]. Diz-se que podemos mudar de tudo, menos de clube. Eu sou ao contrário. Nem mudo de mulher, nem de religião, mas mudo de clube porque sou profissional. O Toni foi olhado de lado porque trabalhou para a Costa do Marfim? É profissional, aqui não lhe deram trabalho. Mas ele vai viver do quê? Do ar? Do sentimento? Alimenta a família com quê? É uma coisa absurda. Ele não traiu a pátria. Estamos a falar de futebol. Se houvesse uma guerra entre o meu país e a Grécia aí estávamos a falar de coisas distintas.»