No dia em que a FIFA divulgou o seu relatório anual sobre as transferências internacionais no mundo do futebol achámos que era melhor fazer um ponto de ordem e responder a algumas perguntas básicas.  

1- Afinal, o que é isso de TMS?

Transfer Matching System ou, em tradução livre, sistema de verificação de transferências internacionais. É uma plataforma online onde os clubes são obrigados a introduzir documentação e dados sobre o negócio em que participam, incluindo verbas e comissões pagas a terceiros. Só cumprido esse passo é emitido o certificado internacional que autoriza o jogador a ser inscrito no novo clube. Foi criado no congresso da FIFA de 2007, e entrou em vigor em 2010, com três objetivos: garantir transparência e rapidez no mercado de contratação de jogadores; criar uma base de dados global sobre transferências; vender produtos premium a partir dessa base de dados, a clubes e outros interessados, para cobrir o investimento de 13 milhões de euros que a FIFA aplicou no seu desenvolvimento.

Se estiver mesmo interessado, pode ver este vídeo:



2- OK, então só diz respeito a transferências internacionais. Quantas são por ano?
Internacionais e apenas no futebol de onze masculino. Futsal e futebol feminino estão fora, até ver. Mas, ainda assim, estamos a falar de mais de 6500 clubes, de 209 nacionalidades. Assim, pela primeira vez este ano passámos as 13 mil: 13.090, mais precisamente. Destas, 1790 dizem respeito a jogadores menores de idade, e passe o trocadilho, essa não é uma questão menor: basta lembrar que o incumprimento das regras de transferência de menores esteve na origem da polémica sanção ao Barcelona, este ano.

3- E é verdade a ideia de que os clubes compram jogadores cada vez mais novos?
Nem por isso. A idade média global dos jogadores transferidos é de 25 anos e meio. Nas principais Ligas europeias, a italiana é a que compra jogadores mais novos: média de 22 anos e dez meses. O que provavelmente significa incapacidade para competir com os outros grandes campeonatos. No polo oposto, o futebol indiano é o que se dá melhor com a veterania. Em média, os jogadores que vão para lá têm quase 29 anos. Mas falar em cemitério de elefantes talvez seja piada de mau gosto...

4- Eh... adiante. O número de transferências aumentou. E o valor global também subiu, apesar da crise?
Afirmativo. O mercado internacional de transferências passou pela primeira vez a barreira dos 4 mil milhões de dólares, ou 3,6 mil milhões de euros. O equivalente a 40 Cristianos Ronaldos por ano, para se ter uma ideia. O crescimento global foi de 19 por cento, no conjunto dos países, e de 25 por cento nos países que estiveram no Mundial do Brasil.

5- Olha! O Campeonato do Mundo tem um efeito assim tão direto no mercado?
Pois tem. Mais do que um efeito, até. Em ano de Mundial, os clubes retraem-se até mais tarde e esperam para ver. Depois gastam mais do que em outros anos. Antes dos primeiros jogos no Brasil, o mercado tinha encolhido 36 por cento. A partir de junho, aumentou para os tais 19 por cento globais. Que, no caso de jogadores de países que chegaram aos quartos de final, se traduziu num aumento de 27 por cento. Mesmo que esses jogadores não tenham estado na seleção.

6- A Costa Rica também chegou aos quartos de final. O mercado costarriquenho tornou-se uma marca global?
Não exageremos. Mas o crescimento é impressionante, sim: em 2013, 29 jogadores da Costa Rica foram jogar para o estrangeiro, movimentando um milhão de dólares (890 mil euros). Um ano depois, a seguir ao Mundial, esse valor cresceu dez vezes: foram 38 jogadores da Costa Rica transferidos, movimentado dez milhões de dólares (8,9 milhões de euros). Sim, apesar de métodos de scouting cada vez mais avançados, os clubes ainda compram por modas.

7- OK. Então a cotação dos brasileiros caiu a pique depois dos 7-1?
Não, longe disso. O Brasil continua a ser o país com mais jogadores transferidos, 1493. Ou seja, uma em cada nove transferências internacionais envolvem jogadores de nacionalidade brasileira. Desses, 689 saíram de clubes do Brasil. E se considerarmos que quase outros tantos (649) voltaram à base depois de terem estado no estrangeiro, é fácil concluir que, entre entradas e saídas, os clubes brasileiros representam quase 10 por cento do total mundial de transferências.

8- Mas o dinheiro está noutros lados. Diria que em Inglaterra?
E diria muito bem. Os clubes ingleses movimentaram sensivelmente mil milhões de euros, mais de 25 por cento do volume total de negócios. Em cada quatro euros que se movimentam nas transferências internacionais, um é de Inglaterra. A Espanha vem atrás, com 620 milhões investidos. Por outro lado, a Espanha foi o país que recebeu mais, com 590 milhões. A Alemanha «só» gastou 290 milhões. Mas o número mais significativo é o da França: passou de 373 milhões, em 2013, para apenas 195 milhões, este ano. Por «culpa» do fair-play financeiro, no caso do PSG, e de um fenómeno chamado Mónaco, que deixou de competir no mercado.

9- O Leonardo Jardim pagou a fatura. Por falar nisso, como vamos de portugueses?
Bem, obrigado. Foi o terceiro país a movimentar mais jogadores, 823 entre saídas e entradas. Só o Brasil e a Inglaterra tiveram mais. E também foi o terceiro país a receber mais dinheiro: 360 milhões de euros para clubes portugueses. Só os espanhóis e os ingleses receberam acima disso. E foi também o quarto país mundial com mais comissões pagas a agentes: 20 milhões, distribuídos por 68 negócios. O que não admira, se considerarmos que o superagente mundial é português.

10- A vida corre bem aos intermediários, portanto?
Nem imaginas como! Ao todo, pagaram-se 210 milhões de euros em comissões a agentes. Mais de um terço desse valor (77 milhões) por clubes ingleses. Alemães e italianos pagaram 30 milhões cada. A seguir os portugueses. Mas o dado mais significativo é este: a percentagem de transferências com agentes envolvidos subiu para 20 por cento do total. E, desde 2011, o volume global das comissões subiu 27 por cento a cada ano.