Arrumar as botas de futebol será mais fácil para uns do que para outros, como em tantos outros casos. Muitos deixam de estar ligados ao futebol quando deixam de ser jogadores. Muitos tornam-se treinadores. Outros tornam-se dirigentes. E abraçam funções executivas desde os clubes até aos organismos transnacionais. Figo também quer que seja assim consigo.

Luís Figo candidato à presidência da FIFA

O português Luís Figo é a mais atual figura de dimensão mundial a decidir ter um papel decisivo nos destinos do futebol a partir da secretária, da sala de reuniões, dos comités executivos, depois de ter sido consagrado como um dos melhores futebolistas do mundo na sua geração. O seu anúncio de candidatura à presidência da FIFA é um facto que faz parte da atual realidade do desporto-rei.

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E não é em David Ginola – seu concorrente ao cargo (e precursor nesta candidatura em concreto) – que está esta atualidade – esse é apenas um elemento deste processo. É no presidente da UEFA que se deve pensar para ter consciência desta realidade do futebol atual. Michel Platini é o exemplo maior do futebolista que, depois de arrumar as botas com que conduziu a equipa em campo, vestiu o fato de dirigente escolhido para continuar a ser determinante para o futebol que se joga.



Platini é o sexto presidente da UEFA. Foi eleito em 2007 derrotando oLennart Johansson (com uma carreira dedicada ao dirigismo, o sueco foi o presidente da UEFA mais tempo no cargo: 16 anos). A «universalidade» e a «solidariedade» prometidas pelo Bola de Ouro por três vezes (1983, 84 e 85) tiveram o corolário do mais alto cargo do futebol europeu, num caminho encetado por Platini cerca de 18 anos antes.

Capitão da seleção francesa campeã da Europa em 1984, Platini passou a fazer parte da UEFA (no Comité de Desenvolvimento Técnico) apenas quatro anos depois. Pelo meio, fez parte da organização do Mundial 1998, em França. Em 2002, já estava no Comité Executivo co organismo europeu. O lugar de presidente foi, até agora, o topo da carreira de dirigente de Platini.

Franz Beckenbauer é outra referência do futebol jogado entre os altos responsáveis da atualidade. O único campeão do mundo de futebol como jogador e treinador começou pelos clubes o papel de dirigente. Foi presidente do Bayern Munique na década de 1990. Foi também depois vice-presidente da federação alemã. Chefiou a candidatura germânica à organização do Mundial 2006 e, depois de ganha, liderou também o seu comité organizador. O Bola de Ouro em 1972 e 76 chegou a ser conselheiro do Comité Executivo da FIFA.



Aqueles dois são porventura os mais famosos deste antes e depois agora também assumido por Figo. Mas não são os únicos – claro – como tão pouco foram os primeiros. Vlatko Markovic, por exemplo, foi um nome maior do futebol da antiga Jugoslávia na década de 1960. Foi treinador durante cerca de duas décadas e meia e, em 1944, dedicou-se ao dirigismo. Entrou para a federação croata em 1994 e chegou à UEFA dois anos depois tendo várias vice-presidências e outros cargos até 2013, ano da sua morte.

O exemplo de Markovic mostra que dirigentes de topo internacional que foram futebolistas sempre houve. Platini e Beckenbauer frisam isso como dos melhores de sempre a jogar numa realidade cada vez mais comum. Descendo hierarquicamente para as instâncias nacionais, nas federações da Polónia e da Croácia os presidentes (atuais e anteriores) foram no seu tempo também dos mais apreciados na sua posição.

Na Polónia, Grzegorz Lato, o médio ofensivo estrela da seleção polaca que ficou em terceiro no Mundial 1974, chegou à presidência da federação em 2008. Como facto assinalável nesta eleição, Lato conseguiu ganhar a corrida federativa a Zbigniew Bokiek, que o tinha sucedido como estrela do futebol nacional.



Mas Boniek acabou também ele por chegar à cadeira do poder local. Aquele que é considerado o melhor jogador de sempre da Polónia é o presidente da federação desde 2012. Na Croácia, passa-se o mesmo com Davor Suker. Desde também 2012 que o presidente do organismo que preside ao futebol croata é o melhor marcador do Mundial 1998.

Voltando aos melhores de sempre a prolongarem o seu papel no futebol fora das quatro linhas não pode ficar de fora Pelé. O desempenho do «rei» brasileiro foi político – de forma interna –, mas Pelé não se cingiu a um papel para além do desporto como outros que conseguiram ou tentaram – Weah, Romário, Valderrama ou Shevchenko são alguns exemplos.

Pelé foi ministro do Desporto no primeiro ministério com esse nome num governo brasileiro. E foi o autor da lei que ficou com o seu nome, em 1998, para tornar mais transparentes as transferências do futebol brasileiro. A tendência em direção aos dias de hoje tem sido a de estreitar a ligação entre os grandes futebolistas reformados e as decisões sobre o futebol que se tomam no presente.



Luís Figo é agora candidato a fazer parte daquele grupo que tem vindo a aumentar. E, entre um cargo no Inter e suposições sobre eventuais candidaturas à FPF, o melhor do mundo em 2000 assumiu que quer fazer parte deste jogo logo a começar pelo topo.

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