Ao envergar a braçadeira de capitão do Benfica neste domingo pela 329ª vez, Luisão tornou-se o jogador das águias que mais vezes capitaneou a equipa encarnada em campo. O defesa central brasileiro ultrapassou Mário Coluna, o mítico capitão do Benfica que ficou com 328 jogos como capitão.

«É um registo fantástico, que devemos sublinhar como um feito de grande dimensão», diz ao Maisfutebol António Simões frisando que deve ser realçado «não só por ser a marca do mítico capitão do Benfica», mas por ser uma marca obtida «nos tempos de hoje«.

«Parabéns ao Luisão», disse Simões fazendo questão de acrescentar que «o Mario Coluna dir-lhe-ia a mesma coisa: pela sua elegância, ele daria os parabéns ao Luisão.»

«Esse «momento histórico, muito bonito para o Benfica e para o Luisão» foi obtido neste domingo no Clássico frente ao FC Porto, cujo empate a zero golos serviu os interesses do Benfica na luta pelo bicampeonato. O defesa central foi um dos melhores em campo sendo fundamental na obtenção desses interesses com uma exibição exemplar, sem defeitos, a coroar o recorde histórico.
 


Luisão está há 11 anos no Benfica e tem 453 jogos com a camisola das águias (jogou 40.467 minutos). Mário Coluna esteve 16 anos no Benfica: fez 519 jogos. São números de outros tempos, que não se imagina nos dias de hoje. Mas esta tem sido a marca de Luisão que, agora, ultrapassou o mítico capitão.

António Simões concede que «ninguém teria a leviandade de prever que isto aconteceria nos dias de hoje». «Não só no Benfica, mas em qualquer clube português», considera a antiga glória dos encarnados, que deixa um desejo: «Oxalá volte a acontecer uma marca destas – e apetece-me referir o Rui Patrício como alguém que pode chegar a um ponto destes, até pela posição de guarda-redes que o permite.»

Mas Simões reconhece da mesma forma que «é muito raro» numa sociedade de mercado como esta verem-se estes números de outros tempos ao serviço de um mesmo clube – e de um português, em concreto. «Com alguma ironia, digo que o jogador é como um avião: têm de estar sempre a transferir-se, como os aviões têm de estar sempre no ar (não podem estar em terra).»

«Agora [o futebol] é um negócio, que não é a causa, mas que vai impedindo que os jogadores se mantenham nos clubes – e, também ainda mais, em Portugal», porque, como diz o antigo extremo, «o sucesso desportivo vai ficando exposto ao poder económico».



António Simões não deixa de frisar: «É de enaltecer sempre que aparece um jogador a fazer uma carreira muito boa num clube português». «É uma exceção», considera aquele que sucedeu a Coluna como capitão do Benfica. «Sou eu que recebo do Mário Coluna essa responsabilidade», lembra-nos o sexto nesta lista com 244 jogos de braçadeira envergada.

«Não podia ser antes porque tinha o Mário Coluna à minha frente: era impossível tirar-lha», refere Simões contando que quando o seu perfil foi o escolhido isso se fez «com acordo», numa «sequência natural», num processo pensado» para «ser o substituto do Coluna» nessa função tão importante de líder da equipa.

«Percebi o que é ser capitão, o que é receber do Mário Coluna a braçadeira e percebo o que é para o Luisão ultrapassar o Coluna e a responsabilidade que tem», diz Simões repetindo o espírito do Benfica de então que, por estes exemplos, ainda se nota hoje: «Percebo o gesto que o Mário Coluna teria de dar-lhe os parabéns porque o Luisão era um jogador que ele apreciava.»

O mundo é outro, o Benfica é outro, mas Simões destaca que «o exemplo do Luisão mantém uma réstia de esperança em não abandonar a matriz de ter jogadores que fiquem tanto tempo» num clube. «E o Benfica tem-no conseguido», garante.