A vitória do Estoril sobre o V. Setúbal no último sábado significou a subida dos «canarinhos» ao nono lugar da classificação à custa, precisamente, dos sadinos. O Estoril venceu por 3-0 e todos os golos foram marcados pelo mesmo jogador: Léo Bonatini.

O avançado de 21 anos é, assim, a Figura da Jornada 24 para o Maisfutebol. Léo Bonatini fez neste fim de semana o quarto hat-trick da Liga 2015/16 – depois de Slimani, Jonas e Mitroglou.

Há época e meia no Estoril, o jovem avançado brasileiro chegou à equipa da linha emprestado pelo Cruzeiro – pela terceira vez – para fazer a segunda metade da última temporada. Bonatini chegou com 20 anos. Poucos dias depois de um acidente de carro no Brasil que lhe tirou a carta. Mas decidido a agarrar a segunda oportunidade que diz que a vida lhe deu. Chegou e marcou quatro golos em 15 jogos realizados na Liga.

O Estoril decidiu apostar na continuidade do avançado, contratou-o em definitivo e ele tem agarrado as novas oportunidades e respondido com golos. Bonatini tem 13 golos marcados em 23 jogos feitos no presente campeonato.

Léo Bonatini já está nesta temporada entre os dez melhores marcadores de sempre do Estoril em jogos para o campeonato da principal divisão – em igualdade com outros três antigos jogadores: Andrade, Voynov e José Abrantes marcaram cada um deles, também, 17 golos no respetivo tempo de Estoril.

Osvaldo (21 golos), Gonzaga (25) Clésio (19) e António Nunes (26) têm mais golos do que Bonatini em termos absolutos de Estoril, mas não conseguiram tantos em só uma temporada como o presente nº9 «canarinho» já tem (nesta) Liga: 13 golos.

No plano de máximo de golos por campeonato, Bonatini é já o quinto nome que mais marcou no Estoril – sendo que alguns se repetem em diferentes temporadas. José Mota (83 golos no total) tem as três melhores épocas como goleador «canarinho»: 27 golos em 1948/49; 25 em 1947/48 e 22 em 1946/47.

Gomes Bravo (50 no total em jogos do campeonato) conseguiu marcar 20 golos em 1946/47. Miguel Lourenço (75) marcou 19 golos em 1948/49, 16 em 1947/48 e 15 em 1946/47. Vieira (58) fez 15 golos na temporada 1950/51. Raul Silva (49) marcou 15 golos em 1947/48 e 13 (como tem Bonatini) em 1948/49.

Aos 21 anos (faz 22 neste mês de março), Léo Bonatini já esta no terceiro país diferente. Formado pelo Cruzeiro, o avançado brasileiro nunca convenceu em definitivo os responsáveis do clube de Belo Horizonte, que foram apostando no empréstimo daquela sua promessa a outros emblemas.

Internacional sub-17 pelo Brasil – melhor marcador da seleção «canarinha» no Mundial 2011 da categoria –, Léo Bonatini foi com 18 anos para a Juventus. Ainda muito jovem, não conseguiu adaptar-se ao futebol italiano. Regressou ao Brasil, mas o Cruzeiro não demorou a emprestá-lo novamente – desta vez, para dentro de portas: ao Goiás.

Sem ter representado a equipa principal da Raposa, Bonatini foi emprestado pelo Cruzeiro pela terceira vez – foi a vez do Estoril. O avançado brasileiro chegou a Portugal em janeiro de 2015. Poucos dias antes, no final de dezembro de 2014, Bonatini esteve no centro de um aparatoso acidente de viação.

Não houve feridos, só danos materiais a lamentar. E uma punição legal a cumprir. O episódio foi acompanhado na altura pelo «globoesporte». Léo Bonatini capotou o carro e acabou a prestar contas às autoridades. Acusou álcool no sangue. Ficou sem carta durante um ano e pagou uma multa.

Poucos dias depois de chegar a Portugal e da estreia a marcar pelo Estoril (frente ao Arouca), Léo Bonatini explicou como aquele incidente lhe mudou a vida: aprendeu com o «erro» e aproveitou essa consciência para virar uma página na vida. Em entrevista ao «globoesporte», Bonatini contou o seu renascimento.

«Foi um momento infeliz. Eu errei, assumo [o] meu erro, mas eu tirei com bons olhos tudo [o] que aconteceu, porque graças a Deus não machuquei ninguém e não me machuquei. Foi um susto, fiz o que não devia ter feito. Aquele dia me marcou muito, porque foi uma oportunidade nova de vida. Depois de ver como o carro ficou, o que aconteceu, deu para ver quem quer [o] meu bem, que está do meu lado», admitiu então o jogador ao site brasileiro.

Bonatini descreveu aquele momento como «um divisor de águas». «A gente às vezes precisa de certas coisas para aprender a crescer. Para mim foi muito difícil no dia, como tudo aconteceu. Mas procurei aprender bastante com isso, espero que tenha servido de lição. Foi um divisor de águas na minha vida», confessou na altura.

«Se eu não tivesse passado por aquilo poderia não estar aqui hoje, Deus me deu uma oportunidade nova, isso não foi à toa. Estou tendo a chance de apagar tudo isso. Quero que as pessoas se lembrem de mim como jogador, não como quem cometeu erros», assumiu em janeiro de 2015.

Um ano depois, Léo Bonatini está a deixar a sua marca como jogador na Liga e no Estoril em particular – com golos. Fabiano Soares dizia dele no passado dia 18 de fevereiro: «O Léo Bonatini tem feito a equipa jogar, tem feito assistências, para mim é um jogador diferente, com um toque fino, não deve estar muito mais tempo por aqui. Seguramente, terá muitos clubes a quererem contratá-lo. Eu penso assim, é ele e mais dez, comigo jogará sempre.»

Neste fim de semana, o treinador do Estoril viu confirmadas as expectativas que dependem de si com o quarto hat-trick da Liga 2015/16. Léo Bonatini marcou três golos e o Estoril é o atual nono classificado do campeonato. O jovem avançado brasileiro, pelo seu lado, mostra-se à altura das expectativas no que depende de si. O futuro dirá quanto às que dependem de terceiros.