Chama-se Salva Chamorro e, até à última sexta-feira, era essencialmente conhecido por ser o avançado do Tondela que falhou a grande penalidade frente ao FC Porto, já em cima do final do encontro. Em Alvalade, na sétima oportunidade na Liga, estreou-se a marcar, trocou as voltas ao líder e…despediu-se.

Esta segunda-feira, Salva Chamorro atendeu o telefone ao Maisfutebol já a caminho de Espanha. O Tondela oficializou a separação entre as duas partes durante a tarde. Um cenário insólito mas que não muda o essencial: o espanhol é a figura da 18ª jornada da Liga para o nosso jornal.

Esta será a primeira vez que esta distinção é atribuída a um jogador, oficialmente, sem clube. Tudo porque, quando entrou em Alvalade, o espanhol já sabia que era para a despedida. Surpreendeu-o, até, ter sido chamado para o duelo.

«Foi a melhor forma de me despedir. A verdade é que já estava tudo acordado, mas queriam que eu fosse àquele jogo. Posto isto, acho que dificilmente poderia haver melhor forma de sair. Joguei dez minutos, fiz um golo e ainda por cima contra o Sporting. Que posso pedir mais? Vou feliz, com boas sensações», garantiu.

A saída foi uma decisão «proposta pelo presidente» que Chamorro aceitou bem. Feitas as contas, antes do jogo de Alvalade, tinha apenas 180 minutos na Liga, divididos por seis oportunidades e nenhum golo marcado.

Chamorro explica o processo: «Na semana passada tive uma reunião com ele e explicou-me que a situação tinha de mudar. Ele queria comprar um avançado novo e eu tinha de sair. Aceitei bem porque não estava a jogar muito e achei que era o melhor para mim. Chegamos a um acordo, ficou tudo acertado mas o presidente fez questão que ainda jogasse em Alvalade. Não sei porquê. Acabou por correr muito bem. Toda a gente me veio dar os parabéns no final.»

Questionamos, naturalmente, se, após o golo em Alvalade, a abordagem do clube mudou. «O Tondela não podia fazer nada. Já estava tudo acertado, tudo assinado. Não dava para fazer marcha atrás», revelou.



Elogios à Liga portuguesa e dúvidas sobre a escassa utilização

O Maisfutebol conversou também com Luís Machado, avançado que começou a época no Tondela mas, recentemente, mudou-se para o Feirense, da II Liga. «Como tenho facilidade em falar espanhol era uma pessoa muito próxima dele no balneário»
, conta.

O avançado faz o balanço da passagem do amigo por Portugal: «Era a primeira vez que estava cá e pedia-me muitos conselhos e dicas. Acho que o facto de ter vindo para uma cidade pequena como Tondela foi um dos pontos fulcrais para a dificuldade de adaptação. Ele estava habituado a cidades maiores em Espanha. Depois como não jogava tanto como queria o problema cresceu.»

Machado diz que Chamorro «era um bom companheiro». «Não se isolava, entrava nas brincadeiras de balneário, nos almoços», acrescenta.

«Eu sabia que ele já tinha a rescisão pensada, mas pensei que este golo pudesse mudar algo. Acho que ele merecia um pouco mais, sinceramente. Teve muito poucas oportunidades. Nos dez minutos que fez em Alvalade mostrou qualidade», destaca.

O próprio Chamorro alinha no mesmo discurso. A falta de oportunidades em Tondela travou-lhe a progressão em Portugal: «Houve algumas situações que não percebi. Jogos em que estava no banco, era preciso entrar um avançado e entrava um outro companheiro. Jogos em que precisávamos de meter mais gente na frente e eu não entrava. Não tinha a confiança do treinador, se calhar.»

Ainda assim, Chamorro não se arrepende da aposta que fez e elogia o Tondela: «Tive momentos bons. Levo muita coisa positiva de Portugal. Foi uma boa experiência.»

Um elogio que, de resto, se estende à própria Liga. « Quero deixar bem claro que a Liga portuguesa tem um nível muito bom. Muitas vezes as pessoas olham de fora e comentam, mas não sabem o nível deste campeonato. É um grande campeonato, com boas equipas. Há equipas muito boas em Portugal»
, defende.

«Antes só era conhecido pelo penálti ao Casillas…»

Salva Chamorro reconhece que, face à escassa utilização que teve, só ficou conhecido do grande público por dois momentos. O golo em Alvalade, claro, mas também o penálti falhado contra o FC Porto, na 11ª jornada.

«Antes as pessoas conheciam-me por ter falhado o penálti contra o FC Porto, agora é pelo golo ao Sporting. É melhor assim (risos). Se me marcou? Não, nada. Foi mais uma das ações que tive em Portugal. É claro que queria marcar e compreendo que se fale porque era contra o FC Porto. Mas no dia seguinte eu era a mesma pessoa. Chateado, claro, porque poderia ter feito o empate, mas o mesmo. Recebi muito apoio da família e amigos», garante.



Luís Machado garante que o balneário do Tondela também desvalorizou o assunto. «Penaltis todos falham. Até os melhores. Todos sabiam a qualidade dele e isso não o abalou», frisa.

Ainda assim, reconhece ter ficado surpreendido por ver Chamorro avançar para o penálti: «Não esperava que fosse ele, mas ele era um bom finalizador. Infelizmente o Casillas adivinhou o lado para onde foi a bola.»

Chamorro detalha como foram aqueles momentos: «Depois da jogada que deu o penálti um companheiro passou-me a bola para as mãos e não pensei duas vezes. Olhei para a baliza e vi o Iker Casillas, que é um mito no meu país. Não podia deixar passar aquela oportunidade. Era um sonho marcar-lhe, mas infelizmente não consegui.»

Futuro deve mesmo ser o Barcelona B


E agora? Esta foi a pergunta que encerrou a conversa com Salva Chamorro. O avançado confidenciou que já está a caminho de Espanha e, esta terça-feira, deverá ver o seu futuro resolvido. É um jogador livre e tem propostas. Uma dela especial.

«É verdade que me contaram do Barcelona para jogar na filial», confessa. Não é a única propostas mas é a que agrada mais. «Sinceramente, acredito que o futuro possa ser mesmo o Barcelona», avança.

«É a proposta que mais me diz mais. Sou do Barça desde pequeno e vestir aquela camisola é um sonho. Em Espanha qualquer jogador sonha jogar no Barcelona ou Real Madrid e eu não sou diferente», assume.

O remédio então é esperar. O capítulo Tondela está fechado. De forma improvável, quase insólita. Mas, como o próprio disse, agora «não há marcha atrás».