Será difícil encontrar uma estreia a titular mais inspirada do que a de Diogo Jota na noite de sábado na Choupana. Na primeira vez que Nuno Espírito Santo o chamou à equipa inicial do FC Porto, o avançado gondomarense de 19 anos resolveu com um hat-trick em 45 minutos a teoricamente complicada deslocação dos dragões à Madeira, que terminou com goleada por 4-0, e de uma assentada bateu uma série de recordes.

Na Madeira, Jota fez o primeiro hat-trick da sua carreira como sénior e tornou-se no jogador mais jovem a conseguir esse feito com a camisola do FC Porto. Só quatro outros jogadores haviam conseguido marcar três golos na estreia a titulares pelos azuis e brancos. O único de que há memória é Walter (em 2010, na Taça, frente ao Pêro Pinheiro), já que é preciso recuar mais de três quartos de século para encontrar os restantes: Petrak e Kodrnja, ambos em 1940, e Artur Alves, em 1935.

Mesmo em termos absolutos, só outros quatro jogadores em toda a história portista haviam conseguido fazer um hat-trick na primeira parte (Deco, por duas vezes, Jardel, Edmilson e Madjer), o que não acontecia na Liga Portuguesa desde 2002, com Barata (ex-Sp. Braga).

Tudo isto ajuda a sustentar a escolha de Diogo Jota como figura da jornada para a redação do Maisfutebol.

O avançado parece bem adaptado à equipa portista e o entendimento com André Silva na frente de ataque foi quase perfeito.

Curiosamente, antes do encontro feliz com André Silva na frente de ataque do FC Porto, Jota protagonizou aquando da sua cedência um reencontro com um homónimo que lhe é bem próximo. André Silva é também o nome do seu irmão mais novo, que é médio da equipa de sub-17 dos portistas – foi contratado ao Gondomar em 2010/11 para jogar nos sub-11.

Golo a mais para um médio interior

Quem conhece Diogo Jota não fica surpreendido com a afirmação ao mais alto nível do avançado cedido ao FC Porto pelo Atlético de Madrid, que no defeso o contratou ao Paços de Ferreira.

Vasco Seabra, atual treinador adjunto de Carlos Pinto na equipa principal do Paços, recorda bem a época 2013/14, quando o jovem prodígio proveniente do Gondomar chegou à equipa de juniores pacense, que treinava.

«Ele jogava como médio interior, mas a determinada altura da época tornou-se notório que ele ‘tinha golo’ e pelas características que tinha renderia mais como avançado. Ele ficou um pouco renitente com a mudança, porque pensou que ficaria mais longe da ação. Mas resultou muito bem. Logo no primeiro jogo que fez na frente marcou dois golos. Aliás, na primeira fase da época, como médio, fez cinco golos em 22 jogos, na segunda fase, já a ponta-de-lança, fez 17 golos em 14 jogos…», recorda Vasco Seabra ao Maisfutebol, sublinhando em seguida as características que fazem Diogo Jota um goleador fora do comum:

«Naturalmente, ele não é o ponta-de-lança que segura a bola e joga de costas para a baliza ou muito forte no jogo aéreo. É um jogador com uma grande agressividade ofensiva e defensiva, que pressiona muito a saída de bola do adversário. É muito vertical, tem os olhos sempre postos na baliza e ataca bem as zonas de finalização. Além disso, é um miúdo muito maduro para a idade que tem. Treina como joga, sempre para ganhar, e é muito competitivo. É humilde, mas também muito ambicioso. Quando atinge um objetivo, não se deslumbra. Procura sim outro objetivo.»

Essa ideia perpassa das palavras do próprio Diogo Jota, como se constata pelas palavras do próprio quando em dezembro do ano passado foi entrevistado pelo Maisfutebol, quando também foi eleito figura da jornada (tendo marcado dois golos na goleada por 6-0 ao U. Madeira), numa altura em que era o único jogador do plantel principal a viver no lar de jogadores do Paços de Ferreira.

«Gosto de estar cá (no lar do clube). Foi feito a pensar nos jogadores estrangeiros, mas acaba por ser um bom local para se passar o espírito desta casa e ajuda os jogadores a perceberem a forma de ser deste clube. Os jogadores que vieram de fora, pela idade preferem viver num apartamento com a família. Eu, como sou mais novo, vou ficando por cá. O Paços foi claramente a melhor decisão da minha carreira até agora. É um bom clube para trabalhar, com pessoas de confiança que te fazem sentir bem e tranquilos», dizia então Jota, que nessa altura, apesar da excelente época que já estava a fazer, não pensava nos altos voos que viria a ter no seu horizonte.

«Não estou obcecado com a possibilidade de dar um salto. Um grande ou o estrangeiro? Não tenho preferência. Nem sequer penso muito nisso», dizia então.

Nem um ano passou e Diogo Jota, o miúdo que vivia no lar do Paços, foi contratado pelo Atlético de Madrid e agora começa a afirmar-se como ídolo no Dragão.