Sétima jornada consecutiva a vencer, terceira sem sofrer golos. Se há um adjetivo para qualificar o FC Porto desta temporada esse pode muito bem ser solidez.

A prová-lo estão os números da defesa menos batida das grandes ligas europeias: apenas onze golos sofridos (sete em casa e quatro fora) em 23 jornadas, cumprindo 14 jogos na Liga sem qualquer golo sofrido.

Se no Bessa Brahimi deu nas vistas e Soares voltou a ser determinante, com o quinto golo em quatro jornadas a fazer a diferença no marcador, o dérbi foi também em muito decidido pela segurança do setor mais recuado dos dragões. E é aqui que entra a distinção a Iván Marcano como figura da 23.ª jornada. Era uma questão de tempo até o patrão ser destacado pela notável empreitada defensiva dos azuis e brancos.

O defesa-central de 29 anos deixou de ser um jogador com exibições intermitentes e ao longo desta época tem-se mostrado a um nível irrepreensível.

No triunfo frente ao Boavista, o agora capitão de equipa fez o 100.º jogo pelo FC Porto, não pôde contar com o seu habitual companheiro no eixo da defesa, Felipe, castigado. Jogou ao lado de Boly e voltou a ser um esteio da defesa azul e branca, o melhor exemplo disso mesmo foi um corte a um remate na área de Schembri, aos 67’, que evitou o empate do Boavista.

Eduardo Luís: «Dizia-se que não era jogador para o FC Porto…»

A terceira época no Dragão é a de afirmação do jogador que é falado para uma eventual chamada à seleção espanhola (é internacional sub-21 desde 2009) e que parece perfeitamente adaptado ao clube e à vida no Grande Porto – vive em Vila Nova de Gaia, num apartamento com vista para o Douro, com a mulher Irene Carrasco e o primeiro filho de ambos, Jon, que nasceu em junho de 2016.

Em 2016/17, Marcano já fez mais jogos (35) e mais golos (5) do que nas temporadas anteriores. Mas é sobretudo defensivamente que as diferenças são mais evidentes, como destaca ao Maisfutebol Eduardo Luís:

Nos anos anteriores Marcano tinha a jogar ao seu lado ou um jogador sem grande qualidade ou um colega esquerdino também. A equipa jogava com uma dupla de esquerdinos que era uma coisa esquisita. Falhavam muito, faltava entrosamento e comunicação – via-se dois centrais a saltarem à mesma bola, por exemplo – tentavam sair a jogar, inventando com a bola nos pés. Eram calafrios sucessivos... Este ano, o FC Porto contratou um bom central, o Felipe, e o Nuno conseguiu montar uma boa dupla: eles entendem-se e complementam-se.»

Uma das melhores duplas de centrais da história do clube, como referiu Pinto da Costa?

Eduardo Luís acha a sentença exagerada: «É uma boa dupla, de facto. Talvez seja exagero. Acho que as palavras do presidente foram sobretudo para moralizar os seus jogadores.»

Ainda assim, o antigo defesa-central que representou os dragões entre 1982 e 1989 salienta a evolução de Marcano: «Há um ano dizia-se que não era jogador para FC Porto. Hoje, reconhecemos que é um excelente central: que corta e entrega bem e que é bom no jogo aéreo, como demonstra nos lances de bola parada.»

Ex-colega Zé António elogia «sentido posicional e rapidez»

Zé António, por sua vez, destaca sobretudo «o sentido posicional e a rapidez» de Marcano, além da grande mais-valia de ser um central canhoto, o que não é muito comum.

O central de 39 anos, que pendurou as chuteiras e agora está a tirar um curso de treinador de futebol, fala com a autoridade de quem conhece Marcano desde o início da carreira deste como profissional.

Foi suplente do então jovem canterano no plantel do Racing Santander, em 2008/09, quando este transitou de lateral-esquerdo para central num sistema de três defesas em em que tinha ao lado Ezequiel Garay e César Navas.

Depois de terem sido companheiros de equipa no clube cantábrico, Zé António reencontrou Marcano quando em 2014/15 ainda militava como veterano na equipa B do FC Porto.

«Eu estava na equipa B e ele na principal mas treinámos juntos muitas vezes. Nessa que foi a primeira época dele cá, dei-lhe alguns conselhos sobre a mística do FC Porto, sobre o rigor que ele iria encontrar no clube, falei-lhe também sobre a cidade», declarou ao Maisfutebol Zé António, recordando em jeito de conclusão: «Ele já não era o jovem envergonhado do Racing a tentar afirmar-se, era um jogador bem mais experiente, que acabara de passar pelo futebol russo (Rubin Kazan) e grego (Olympiacos). Entretanto soube adaptar-se, aproveitar as oportunidades e evoluiu muito bem. Hoje, é um jogador confiante e um fator de equilíbrio na equipa.»