Haverá melhor despedida do que vencer em casa do rival, regressar aos golos e ser o melhor em campo?

Domingo à noite Tiquinho Soares fez isso tudo em Braga pelo Vitória e nesta segunda-feira ao final da tarde já se apresentou no Dragão com a camisola do FC Porto vestida, confessando-se «muito feliz» por poder «concretizar um grande sonho».

O avançado brasileiro marcou na Liga quase dois meses depois, esteve bem perto de fazer mais golos (chegou a atirar uma bola à trave) e foi determinante para que o V. Guimarães vencesse pela primeira vez na Pedreira o rival Sp. Braga – o último triunfo fora dos vimaranenses havia sido em novembro de 2002, ainda no Estádio 1.º de Maio.

Soares, que há uma semana completou 26 anos, é o homem do momento e, pelo papel determinante no dérbi minhoto, é para a redação do Maisfutebol também a figura da 18.ª jornada da Liga.

Manuel Machado considera que o jogador que treinou durante época e meia no Nacional da Madeira, aquando da sua chegada a Portugal, «vai ter capacidade de resposta» para as exigências que lhe serão colocadas no FC Porto, tal como demonstrou nesta meia época em que representou o V. Guimarães.

«Esta é a evolução natural. Ele é um jogador que está a fazer um caminho ascendente. Ainda agora fez um belo jogo em Braga, em que mostrou todas as suas qualidades», diz Machado ao Maisfutebol, detalhando em seguida a sua opinião: «Ele sempre teve um enorme potencial em termos físicos, mas tinha de se adaptar ao ritmo mais intenso do nosso futebol. Melhorou muito tecnicamente desde que chegou. Em termos de cultura de jogo, então, o salto qualitativo foi enorme: agora sabe perfeitamente os momentos em que deve segurar a bola, o que fazer com ela quando tem espaço...»

Soares, que do primeiro nome Francisco ganhou a alcunha de Tiquinho, nasceu em Sousa, no sertão da Paraíba – cidade vizinha do Vale dos Dinossauros, cujas descobertas paleolíticas revelaram o maior registo de pegadas de dinossauros em todo o mundo – e mostrou-se predador na área em clubes modestos do Nordeste, em empréstimos do Centro Sportivo Paraibano, clube formador e por isso também vendedor de João Pessoa (capital da Paraíba), que o levaram ainda até ao Pelotas no sul do país (Rio Grande do Sul) antes de o Nacional da Madeira lhe ter aberto as portas da Europa.

«Quem o descobriu foi o Bruno Patacas, que era diretor desportivo do Nacional. O Soares jogava num pequeno clube dos campeonatos estaduais do Brasil e isso notou-se nos primeiros tempos. Não competia na Série A ou da Série B do Brasileirão, pelo que teve de fazer um caminho mais longo para adaptar-se ao ritmo mais elevado do nosso futebol. Na primeira época, era alternativa ao Lucas João, que estava a jogar bem e acabou por sair para o futebol inglês. Mas trabalhou, continuou a progredir e na época seguinte, 2015/16, afirmou-se na posição “9” e acabou por marcar 14 golos nesse ano (na meia época anterior tinha feito dois)», recorda Manuel Machado, sublinhando a «enorme disponibilidade para aprender».

«Ele vai jogar a um grande nível porque além das qualidades tem humildade e capacidade de trabalho. Além disso, é um homem com um excelente caráter e muito alegre», lembra o técnico, exemplificando a boa disposição do jogador quando uma vez o confrontou com um período de fraca produtividade: «“Ó Soares, não vejo nada de golos”, disse-lhe até para me meter com ele. E ele, no seu jeito brasileiro e com alguma piada, respondeu-me: “Gol, professor? Cá não tem Gol, não. O [Volkswagen] Gol só se vende no Brasil.” Ele é assim mesmo. Tem resposta sempre pronta.»

Até ao momento foram 25 os golos que Soares fez em 71 jogos em Portugal – 16 em 49 jogos em época e meia no Nacional e 9 em 22 jogos esta época no V. Guimarães. O registo chegou para que os chineses do Henan Jianye colocassem na mesa uma proposta de sete milhões de euros e um contrário milionário. Soares preferiu o FC Porto, que terá chegado aos 5,6 milhões por 80 por cento do passe. Certos são a duração do contrato, quatro anos e meio, e o valor da cláusula de rescisão: 40 milhões de euros.

Dois anos depois de ter chegado à Madeira, após um longo tirocínio nos escalões mais baixos futebol brasileiro, aí está ele com a camisola dos dragões. E logo com o dorsal número 29, o mesmo que o seu empresário, Deco, escolheu quando em fevereiro de 1999, há 18 anos, chegou às Antas também como reforço de inverno.