«Em fases de inspiração é verdadeiramente imparável. O Sporting perdeu Nani, o maior desequilibrador, mas reencontrou Carrillo. Uma espécie de bonança após a tempestade. Grande segunda parte do peruano, primeiro a inaugurar a contagem, depois a fazer um grande drible na área para servir Mané, por fim a lançar João Mário para o 0-3. Impressionante».

A avaliação feita pelo jornalista Vitor Hugo Alvarenga resume a noite extraordinária de André Carrillo. Uma noite premiada com a nota 5 pelo Maisfutebol. Brilho máximo, Figura da Jornada.

Curiosamente, antes de marcar um golo e fazer duas assistências brilhantes – nascidas de iniciativas individuais – Carrillo teve de se contentar com o banco de suplentes. A lesão de Nani precipitou a entrada de La Culebra em campo e a resposta não podia ter sido melhor.

Nani, já se sabe, não estará em condições de jogar em Londres, na decisiva partida contra o Chelsea. André Carrillo, pelo que vem demonstrando, será a opção natural e óbvia de Marco Silva para um dos flancos. No outro estará, à partida, Carlos Mané.

Será esta, finalmente, a temporada de explosão de Carrillo em Portugal? Marco Silva acha que sim. O pai, Alex Carrillo, garante ao Maisfutebol que o treinador tem toda a razão.

«Efetivamente, creio que o André está a ter o seu melhor ano no Sporting. E há várias razões para isso».

Alex Carrillo sublinha, de forma especial, a «adaptação perfeita» ao esquema tático de Marco Silva. Mas não só. «Está a obter a experiência e maturidade que necessitava. Não nos podemos esquecer que viajou muito jovem para Portugal. Adaptar-se à Europa, a uma nova ideologia, nova cultura, não é fácil», acrescenta don Carrillo.

«Se, para uma pessoa adulta, a mudança é sempre difícil, imagine para um menino de 19 anos. Mas o maior problema foi a questão física. Custou-lhe muito nos primeiros tempos. Neste momento está bem e consegue desempenhos muitos melhores».

Números de André Carrillo no Sporting:


. 2011/12: 46 jogos oficiais (25 a titular)/3 golos, 2076 minutos
. 2012/13: 31 jogos oficiais (18 a titular)/3 golos, 1777 minutos
. 2013/14: 32 jogos oficiais (19 a titular)/2 golos, 1746 minutos
. 2014/15: 18 jogos oficiais (12 a titular)/5 golos, 994 minutos

Aos 23 anos, o internacional peruano está decidido a mudar a ideia que dele se criou: talentoso, sim, até genial em determinados momentos, mas profundamente irregular.

Uma boa forma de desfazer esta espécie de preconceito é fazer golos. Mais golos. E Carrillo está a consegui-lo. Nas três últimas temporadas fizera, no total, oito. Este ano, com pouco mais de quatro meses em competição, já leva cinco.

Começou a marcar logo na primeira jornada da Liga, em Coimbra, continuou na receção ao Belenenses (4ª jornada), repetiu o feito em Barcelos (5ª) e foi decisivo na eliminação do FC Porto, em pleno Estádio do Dragão, para a Taça de Portugal.

Tudo isto antes de explodir no Bessa. Carrillo tem andado feliz.
O peruano tem contrato em Alvalade até 2016 e uma cláusula de rescisão no valor de 30 milhões. O seu pai, Alex Carrillo, ainda recorda como tudo começou nas calles de Santiago de Surco, nos arredores de Lima.

«Quando o vi a dar os primeiros toques numa bola, logo percebi: este é meu filho, tem de ser profissional de futebol», conta.

Aos cinco anos, André Carrillo já jogava numa academia de futebol perto de casa. O pai não se esquece dos dias de «sacrifício familiar» em prol dos sonhos do menino. «Sempre o apoiamos no futebol, mas os estudos nunca foram deixados para trás. Aliás, sempre foi um dos melhores do seu colégio».

«É profissional, tranquilo e educado. Acho que não estou enganado: é o jogador do Sporting menos sancionado pelos árbitros. Cresceu numa família estável, de quatro pessoas: eu, a sua mãe, Ana Maria Diaz, o irmão Alex Carrillo Diaz e ele, claro».

«Adora ouvir música, ir à praia e é fanático por futebol»

Carrillo haveria de chegar em 2006, com 15 anos, ao histórico Alianza Lima, não sem antes provar o sabor da desilusão. «Fez uns testes no Universitario [outro clube de Lima], mas apenas durante uma semana. Não ficou. O meu André ficou triste, desanimou e preocupei-me com ele».

Por esses dias, enquanto não chegava a um patamar superior, André jogava num pequeno clube chamado Esther Grande de Bentín. Um amigo da família abriu-lhe, porém, as portas do Alianza. André brilhou nos testes e ficou por lá até se mudar, em 2011, para o Sporting.

«Adora ouvir música, a praia e é fanático por futebol. Sei que vai chegar muito longe porque é perseverante», continua o senhor Alex Carrillo.

No clube lisboeta, o valor de Carrillo é incontestável. O peruano sobreviveu à limpeza de balneário, pós-Godinho Lopes, e continua a edificar a sua história em Alvalade.

Na seleção do Peru, nem tanto. André Carrillo continua a ser marcado por alguns momentos menos felizes, imperdoáveis para alguns. O pai assegura, porém, que os leões até já têm «muitos adeptos no Peru» por causa do seu filho.

Estreou-se a 13 de julho de 2011 pela seleção principal, na Copa América, e teve o azar de fazer um autogolo no jogo contra o Chile.



A 4 de junho de 2012, na receção à Colômbia para a qualificação do Mundial2014, falhou de forma inacreditável um golo na cara do guarda-redes David Ospina. O Peru perdeu 0-1.

Três meses mais tarde, a 8 de setembro, desaproveitou uma saída patética de Renny Veja, dono da baliza da Venezuela, e cabeceou ao lado. Felizmente, o Peru venceu por 2-1.

Mais recentemente, diante do Chile novamente, somou mais um falhanço estranho e a seleção andina acabou goleada.  

Júnior Ponce, compatriota e avançado do Vitória Setúbal, defende o amigo: «Já provou que é um jogador diferente e está entre os melhores do Peru. Vive um grande momento e está completamente adaptado ao futebol europeu»
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Entre elogios e críticas, uma certeza: Stamford Bridge é um palco à medida do artista peruano.

«Não é todos os dias que se joga na Liga dos Campeões e muito menos contra o Chelsea. Está muito motivado e convencido de que vai ajudar o Sporting a qualificar-se. Só peço aos adeptos para terem paciência, pois o treinador é novo e está a construir uma equipa à sua imagem. Força Sporting!», conclui um orgulhoso Alex Carrillo.