«Essa é uma eliminatória em que, tanto na Luz como lá, as coisas me correram muitíssimo bem. Também ficou marcada pelos incidentes com o Vítor Baptista, mas esse foi um caso específico, porque o Vítor infelizmente já não andava bem. Sabíamos algumas coisas, mas só depois descobrimos a vida que ele fazia. O Vítor era uma jóia de homem, um moço espectacular. E era inegável o seu grande valor, eu sempre disse que, como ponta-de-lança, a seguir ao Eusébio era o Vítor Baptista. Só que ele começou a entrar por caminhos esquisitos, a dizer e fazer coisas sem nexo. Em alguns jogos achava que não devia jogar e não jogava mesmo. Depois decidia ir para o aeroporto descalço ou com as calças rotas e aia assim. Começou a criar uma série de problemas, para ele e para nós, que precisávamos dele. Mas nesse jogo lá aguentámos o zero e depois vieram os penalties. Eu já os marcava nos torneios em que entrávamos e Mortimore apostou em mim para marcar um dos cinco. Defendi os dois primeiros, estávamos praticamente à vontade e fui marcar o meu, com muita confiança. O meu colega do Torpedo ainda tentou arranjar confusão com o árbitro, porque entendia que o guarda-redes não podia marcar. Mas marquei mesmo!».

A história foi contada por Manuel Bento em 2006, para o livro «Sport Europa e Benfica», do Maisfutebol. Naquela noite, em Moscovo, Vítor Baptista de facto não conseguiu ajudar os colegas. Na véspera disse a Toni que não estava em condições. Apesar dos problemas musculares e dos seis graus negativos na Rússia, insistira em treinar de calções. Foi de mais. «Nessa altura acontecia contarmos com ele e ele dizer que não podia jogar porque estava lesionado. Não era fácil lidar com o Vítor», contou o inglês John Mortimore.

A verdade é que o Benfica aguentou sem sofrer golos e Bento resolveu nas grandes penalidades. Guarda-redes do clube da Luz e da seleção durante anos, Bento defendeu a baliza encarnada em 59 ocasiões e sofreu 53 golos. Naquele dia 28 de Setembro de 1977 ficou feliz sobretudo por ter marcado.

Os que jogaram com o Torpedo, em Moscovo, para a Taça dos Campeões Europeus: Bento; António Bastos Lopes, Humberto Coelho, Eurico e Alberto; Pietra, Toni, Vítor Martins e José Luís; Nené e Chalana.