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Foi o momento em que Darren Fletcher voltou a jogar e esta foi a ovação que os adeptos do Manchester United lhe dedicaram, quando rendeu Ryan Giggs aos 70 minutos no Villa Park. «Só há um Darren Fletcher», cantaram.

O escocês já não jogava há mais de um ano e agora acredita que terminou o longo e penoso afastamento dos relvados que começou há dois anos, por causa de uma doença. Uma colite crónica nos intestinos, que começou por manifestar-se em 2008 e foi debilitando o médio escocês, até ser mesmo forçado a parar.

A primeira vez que se afastou da equipa foi em dezembro de 2011. Voltou em setembro do ano seguinte, mas não por muito tempo. Parou de novo no final de dezembro, a sua última partida tinha sido a do Boxing Day de 2012.

Fletcher tem 29 anos e acredita que este regresso é para durar. Mas, antes de mais, congratula-se por voltar a poder fazer uma vida normal. «Foram duas ou três operações, foi muito difícil. Mas nem sequer conseguia viver a minha vida. Era preciso fazer alguma coisa. Houve um dia em maio em que disse: ‘Pronto’. Quando saísse daquela operação seria decisivo, ou resultava ou não», contou o médio ao canal do clube: «Nem podia sair de casa. Não podia levar os meus filhos ao parque, não podia ir jantar fora com a minha mulher, por causa da natureza da doença.»

Foram tempos difíceis, ao longo dos quais Fletcher teve sempre o apoio do Manchester United e sobretudo de Alex Ferguson. O treinador lembrou-se dele em maio, no seu discurso de despedida de Old Trafford. Nesse dia, quando pegou no microfone, Ferguson falou de muita gente, mas só disse dois nomes: o de Scholes e o de Fletcher. «Quero desejar ao Darren Fletcher um regresso rápido ao clube», disse o escocês.

O médio ficou comovido e disse que essas palavras do treinador lhe deram alento para continuar. Ferguson foi a constante na carreira de Fletcher, que vem das camadas jovens do United e nunca teve outro clube. Chegou lá com 11 anos, estreou-se pela equipa principal em 2002, vai na 12ª época pela equipa. Em paralelo impôs-se na seleção da Escócia, onde chegou a capitão.

Fez ao todo 313 jogos. Não foi titular indiscutível no meio-campo, mas foi sempre uma opção regular, sólida e fiável na última década de futebol dos «reds». Alex Ferguson contou sempre com ele. Ganhou cinco títulos da Premier League, uma Taça de Inglaterra e a Liga dos Campeões em 2008. Falhou a final de 2009 com o Barcelona, por ter sido expulso na meia-final. O clube tentou anular o castigo, mas não conseguiu. Data dessa altura um elogio singular de José Mourinho ao médio do United, escrevia então o treinador português no jornal «Telegraph».

«O Man United vai sentir a falta de Darren Fletcher», escreveu Mourinho: «O Fletcher é mais importante do que as pessoas pensam. O trabalho dele no meio-campo, especialmente nas «guerras» no meio-campo, em jogos cruciais é muito importante. O Man United vai sentir a falta do ritmo e da agressividade dele em ações defensivas: ele «come» os adversários na transição defensiva. Na posse não é mágico como Ryan Giggs ou soberbo no passe como o Paul Scholes, mas é dinâmico, cria movimentos e cria espaços. Gosto muito dele e acredito que não é fácil substitui-lo. Acho que o Xavi e o Iniesta estarão felizes por o Fletch não jogar.»

O Barcelona dominou o United nessa final e venceu por 2-0. Caía assim o pano sobre aquela que foi talvez a melhor temporada de Fletcher em Old Trafford: fez 41 jogos, 30 na Premier League, marcou cinco golos.

Fletcher voltou agora. Esteve muito tempo parado, foi preparando o regresso, nas últimas semanas chegou a jogar pelas reservas do United. Ele acredita que deixou a doença para trás. «Agora voltei ao normal. Lutei, venci, tenho 29 anos e acho que ainda tenho muitos anos de futebol pela frente.»

Há muitas dúvidas sobre se poderá voltar a jogar a alto nível, depois de tanto tempo parado. Mais uma vez, mesmo longe, pode ser Alex Ferguson quem lhe aponta o caminho. Em janeiro deste ano, quando antecipava que Fletcher voltasse esta temporada, Ferguson traçava-lhe um novo papel em campo. «O Fletcher devastador doutros tempos acabou, mas tenho a certeza que será um sucesso num papel com ritmo mais controlado», dizia: «Haverá um papel diferente para ele, à frente da defesa, como o médio de contenção.»