Eusébio morreu num domingo, dia de futebol. E entrou em campo. Esteve em Old Trafford, naquele minuto de silêncio transformado em aplauso do relvado às bancadas antes do Manchester United-Swansea, esteve nos jogos da Taça de Portugal, esteve nos fumos negros nos braços de David Luiz e Ramires no Derby County-Chelsea. Eusébio é a memória do melhor que o futebol tem e o futebol teve-o no coração, no dia em que começou a despedir-se dele.

Esteve em todo o lado, Eusébio. O mundo acordou para a notícia, a morte tinha chegado de madrugada aos 71 anos, seriam 72 a 25 de janeiro. As reações começaram na internet, espalharam-se por cada casa, por cada campo e por cada ecrã. E chegaram depressa ao Estádio da Luz. Foi uma homenagem espontânea a que desde cedo, ainda antes das cerimónias oficiais, levou gente e mais gente até junto da estátua que eterniza o «King» e a transformou num mar de flores, cachecóis, silêncio e lágrimas.
 
A memória de Eusébio neste dia foi a desses adeptos. Aquele que deixou junto à estátua uma folha A4 a dizer que «Eusébio era de todos», ideia repetida depois por Toni, velho companheiro. O outro adepto cabo-verdiano que as televisões filmaram a pendurar um cachecol do Sporting no meio de tantos do Benfica. As crianças que se espantaram frente à televisão a ver as imagens a preto e branco dos seus golos.

A memória de Eusébio neste dia foi também a torrente de reações sentidas. Institucionais, como os três dias de luto nacional decretados e acompanhados por uma declaração em direto do presidente da República, como os comunicados de Sporting ou FC Porto e tantos outros clubes. E pessoais.

Reações de companheiros de sempre, aqueles que partilharam com ele alegrias e tristezas em campo.
António Simões: «Há pouco tempo, eu disse-lhe: não tenhas pressa, espera por mim. Tu tens de ser o último da tua geração, não o primeiro. Deixa-me ir primeiro.» Mário Coluna: «Saiu daqui com a autorização da mãe e eu como pai dele. Fui eu que o representei até ele ser maior de idade. Tinha-o como um filho, e, por isso, hoje é um dia muito triste.» Ou ainda José Augusto: «Morreu a um domingo o maior jogador de futebol de Portugal de todos os tempos e morreu no dia em que deu tantas glórias ao clube e aos portugueses.» Ainda as lágrimas de Toni e José Henriques, na televisão, a interromperem o desfiar das memórias.

Também reações de rivais de sempre. Dos grandes, como ele. Aqui a de Bobby Charlton, através do Manchester United.
  Aqui Pelé, desde o Brasil: 

«Lamento a morte de meu irmão Eusébio. Ficámos amigos no Mundial de 1966, realizado em Inglaterra. Os meus pêsames aos seus familiares e que Deus o receba de braços abertos.»

Franz Beckenbauer, através do Twitter:
Diego Maradona, no Facebook:
«La Pantera de Mozambique»
R.I.P. Eusébio da Silva Ferreira
(1942-2014)

Não foram só os protagonistas do passado a recordar Eusébio. Foram muitos, tantos, nomes de referência dos nossos dias. A começar pelos outros grandes nomes do futebol português. 
 
Rui Costa , que recordou como Eusébio foi o seu primeiro treinador nos infantis do Benfica:
 
«Foi um dos melhores do mundo de toda a história. Era como estar perante Deus, e quando estamos a começar é quase assustador. Depois de o conhecer, a imagem muda, pela simplicidade. Como ser humano era excecional.»
 
Cristiano Ronaldo, no Twitter: 
 
Também Luís Figo quis recordar o King, como todos os jogadores que contactaram com ele lhe chamavam.
 
E José Mourinho, a partir de Inglaterra

«Para Portugal Eusébio é mais do que um dos melhores jogadores de todos os tempos. Está acima de cores, de clubes, de partidos políticos. Eusébio é Eusébio. Nos próximos dias vão ver o que representa Eusébio para Portugal. Pessoas como ele nunca morrem. A história não deixa.»

Também João Moutinho

 
E Nani
 
E Nuno Gomes



E atuais jogadores do Benfica, como o capitão
Luisão, em vários tweets ao longo do dia
 

 
Ou o argentino Salvio
 
E tantos outros, por todo o mundo:
     
E ainda tantas homenagens de clubes. Em Portugal e por todo o Mundo, de Espanha ao Brasil, passando por Inglaterra ou pela Alemanha.

O Real Madrid anunciou que irá jogar esta segunda-feira de braçadeiras negras e enviou desde logo a Portugal Emílio Butragueño, o seu diretor de relações institucionais. O Manchester United recordou um amigo. Quase todos os clubes ingleses evocaram Eusébio neste dia. Em nome da memória.

O Everton recordou como estão ligadas a lenda de Eusébio e Goodison Park, o palco do Brasil-Portugal e do Portugal-Coreia do Norte do Mundial de 1966.
 
O Arsenal também foi aos arquivos buscar uma imagem de 1971
 
Muito por causa de 1966, o futebol inglês tinha um carinho especial por Eusébio. Mas o Pantera Negra era universal. Pela manhã, o Borussia Dortmund despedia-se dele assim, através do Twitter. 
  A imagem tem pouco mais de um mês e recorda o dia em que Eusébio foi a Dortmund, não para ser glorificado como vencedor, mas para participar na evocação dos 50 anos de uma das suas grandes derrotas, quando o Benfica perdeu por 0-5 com o o Borussia.

O fair play fazia parte do futebol como Eusébio o entendia. Peter Schmeichel, outro grande do futebol mundial que conheceu o Pantera Negra mais de perto, quando jogou pelo Sporting, despediu-se assim do Senhor Eusébio.
  Leia também: