No mesmo dia em que a selecção de sub-21 falhava o play-off de acesso ao Europeu, a divulgação das listas de jogadores inscritos nas provas europeias por Benfica, Sp. Braga e F.C. Porto confirmava a evidência: nenhum dos três primeiros classificados da Liga na última época cumpre os requisitos exigidos pela UEFA de pelo menos quatro jogadores formados no clube, entre os 15 e os 21 anos.

Como tal, os três deixaram vagas por preencher na Liga dos Campeões e na Liga Europa. O Sporting, com seis jogadores da casa, ainda faz figura de excepção, mas as mudanças estratégicas dos últimos meses sugerem que o oásis não se vai prolongar por muito tempo.

Estes dados reflectem a separação cada vez mais acentuada entre as realidades das competições de clubes e o futebol de selecções. E também, como efeito da primeira, os problemas indisfarçáveis da formação nos principais clubes portugueses.

É verdade que os exemplos vêm de fora: o Inter, campeão da Europa, quase não tem italianos ou jogadores formados em Appiano Gentile. O Arsenal joga sem ingleses, e o formador Arsène Wenger prefere comprar jogadores com a formação feita por outros. O Chelsea só tem quatro ingleses de primeiro plano, nenhum deles formado no clube, e preenche a lista com promessas das reservas, que dificilmente deixarão de o ser.

Mas há pelo menos dois argumentos que recomendam algum cuidado na escolha dos modelos a seguir. Primeiro: nunca os principais clubes portugueses terão orçamentos iguais aos de Inter, Chelsea ou Arsenal, para comprar a excelência produzida por outros. Segundo: a saúde das selecções de Itália ou Inglaterra não tem, nesta altura, comparação com as de Espanha, ou Alemanha, cujos principais clubes têm conseguido equilibrar mercado e identidade.

Pode não ser fácil, muito menos será instantâneo. Mas, enquanto o futebol português não ganhar o Euromilhões, tem de definir a sua identidade na formação e lutar por ela nas selecções. Assobiar para o lado é acelerar o regresso a tempos sombrios, que estão mais próximos do que alguma vez estiveram nos últimos vinte anos.