Sebastian Vettel e Lewis Hamilton chocaram em pista e acabaram a ameaçar resolver o assunto cá fora «cara a cara», assim mesmo, o que dá todo um novo picante à luta pelo Mundial de Fórmula 1 e só por si já tornaria memorável aquele que já era um marco, o primeiro Grande Prémio do Azerbaijão. Mas houve mais, tanto mais.

O piloto que venceu em Baku tinha saído da 10ª posição da grelha de partida, o que terminou em segundo chegou a ter uma volta de atraso, o terceiro lugar do pódio foi para o estreante mais jovem de sempre, o «safety car» entrou em pista quatro vezes e houve uma interrupção com bandeira vermelha. O primeiro Grande Prémio do Azerbaijão, o segundo da história da Fórmula 1 no circuito urbano de Baku, foi uma loucura, daqueles que ficam para recordar por muito tempo e, quando acontecem, devolvem à Fórmula 1 tudo aquilo que a torna apaixonante e o recordam mesmo àqueles que não estão de olhos colados à pista a cada quinze dias.

Foi a oitava prova do Mundial, num dos destinos emergentes das grandes organizações desportivas. Em tempos de transição geográfica do poder económico para pagar a festa, num ano que sintomaticamente volta não ter Grande Prémio da Alemanha por dificuldades financeiras de Hockenheim, Baku ganhou lugar no calendário. Já tinha recebido uma etapa do Mundial no ano passado, mas chamou-se, algo bizarramente, Grande Prémio da Europa. Num circuito muito rápido e estreito, esse GP correu sem sobressaltos de maior, ganho por Nico Rosberg.

Em 2017 Baku entrou no calendário como Grande Prémio do Azerbaijão e ninguém seria capaz de imaginar o que teria para dar. Começou logo no início, passe a repetição. Logo na segunda curva, um choque entre os finlandeses Kimi Raikkonen e Valtteri Bottas, companheiros de equipa respetivamente de Vettel e Hamilton, deixou ambos os carros maltratados. Pior Bottas, retardado ao ponto de ficar com uma volta de atraso.

Na frente estava acesa a luta entre Hamilton, segundo no Mundial e que partiu da «pole position», e Vettel, o atual líder e que partiu da terceira posição.

Mas os detritos na pista deixados pelo choque de Raikkonen e Bottas, mais uma paragem em pista do Toro Rosso de Daniil Kvyat, forçaram a primeira entrada do «safety car». Não demorou muito a acontecer outra, por causa de mais detritos a ameçarem a segurança. O que permitiu algumas recuperações, a começar pela de Bottas.

E foi numa entrada do «safety car» que aconteceu o tal caso entre Hamilton e Vettel. O inglês travou e, na perseguição, o alemão não evitou o toque na sua traseira. Um irritado Vettel acelerou, pôs-se ao lado de Hamilton e atirou o seu Ferrari na direção do Mercedes. Incrível.

No meio disso a confusão continuava em pista. Uma colisão, mais uma, mas esta entre dois companheiros de equipa (!), os pilotos da Force India Sergio Perez e Esteban Ocon, acumulou mais detritos e tornou a pista impraticável. Dessa vez houve mesmo bandeira vermelha e interrupção para limpeza do circuito, algo que não acontecia há mais de um ano. Foram 15 minutos de paragem, tempo que alguns pilotos, como Perez e Raikkonen, aproveitaram para recuperar os seus carros e voltar a entrar em prova. Ambos acabariam por não terminar, no entanto.

Vettel sofreu dez segundos de penalização por «condução perigosa» no incidente com Hamilton. E o inglês não aproveitou, porque depois da paragem teve que voltar às boxes para reparar o encosto de cabeça do seu Mercedes. E nisto emergia Daniel Ricciardo.

O australiano da Red Bull aproveitou a paragem dos dois líderes, tirou o resto da concorrência da frente e assumiu a liderança. Atrás dele seguia outra das surpresas do dia, o canadiano Lance Stroll, o adolescente de 18 anos da Williams. E a seguir Bottas, ele mesmo, que tinha conseguido anular a desvantagem que trazia quase desde o início da corrida. E que, não satisfeito, ainda ultrapassou Stroll mesmo sobre a linha de meta.

Ah, e não fica por aqui. De entre a confusão emergiu Fernando Alonso. Que tinha partido do penúltimo lugar da grelha, depois de ter sofrido uma penalização de nada menos que 40 lugares por a McLaren ter feito alterações nos seus monolugares durante os treinos. Apesar disso, o espanhol terminou na nona posição.

O pódio, esse, era absolutamente feliz. Ricciardo, de 28 anos, conseguiu o seu primeiro triunfo da época, o quinto da carreira. Bottas sobreviveu a uma corrida louca. E Stroll tornou-se o estreante mais jovem de sempre a chegar ao pódio.

Até deve ter sido de bom grado que se submeteu à tradição de gosto muito duvidoso de beber champanhe da bota do vencedor. Mas isso foi antes de provar.

Quanto à luta pelo Mundial, Vettel foi quarto, Hamilton quinto e portanto o alemão até aumentou a vantagem na liderança, agora com 153 pontos, mais 14 do que Hamilton, e com Bottas no terceiro lugar, com 111 pontos. A rivalidade, essa, ganhou toda uma nova dimensão.

Se até aqui a relação entre Hamilton e Vettel era polida, agora ela mudou. No final, o alemão desvalorizou o incidente em pista, disse que o inglês também devia ter sido penalizado e que não era nada de mais: «Não foi nada que tivesse impacto na corrida. No fim de contas estamos a correr como homens.»

Hamilton pegou nestas palavras e não fez por menos: «Se ele quer provar que é homem, então devia fazê-lo fora do carro e cara a cara. Conduzir de forma perigosa e que pode colocar outro piloto em risco... Felizmente iamos devagar, mas se fossemos depressa teria sido pior.»

Portanto, a coisa promete. E a Fórmula 1 agradece dias como este.

Leia mais aqui sobre o Grande Prémio do Azerbaijão e o Mundial de Fórmula 1