As afirmações do governador da região Languedoc-Roussillon, o socialista Georges Frêche, sobre a constituição racial da selecção gaulesa no jogo de ontem frente à Grécia (1-0)deixaram a França indignada. As reacções de condenação não se fizeram esperar e chegaram desde a mais alta figura do estado francês: o presidente Jacques Chirac.
O choque aconteceu com as declarações de Frêche ao jornal Midi Libre, publicadas esta quinta-feira: «Nesta equipa, [selecção francesa] há nove blacks [ pretos] em onze [tradução que mantém o inglês dito no original em francês]. O normal seria que houvesse três ou quatro. Seria o reflexo da sociedade. Mas, se há tantos, é porque os brancos são nulos. Tenho vergonha por este país. Mais logo, haverá onze blacks. Quando vejo certas equipas de futebol faz-me pena.»
Entre as várias reacções de repúdio que de pronto se verificaram está em destaque desde logo a de Jacques Chirac, que não quis abster-se de intervir. «O chefe de estado lembra que a república [francesa] garante a igualdade dos cidadãos, sem distinção de origem ou religião. É dever de cada um, e especialmente dos eleitos pelo povo, respeitar esse princípio fundamental para a coesão da nossa nação», afirmou o presidente francês.
O ministro dos Desportos de França foi mais acintoso e não se limitou a recordar princípios que não se devem esquecer. Jean-François Lamour apelou à saída de Frêches: «A regra para fazer parte da selecção francesa de futebol é simples: apenas aqueles que dela são dignos e sendo seleccionados os melhores. Georges Frêches faria bem em aplicar esta exigência a si próprio e, assim, demitir-se.»
Afirmações deste teor têm o impacto que se verificou a nível social e várias outras consequências, como por exemplo, a nível político. Esta já não é a primeira vez que Frêches faz comentários do género e o Partido Socialista Francês (PSF) já o tem na lista negra. A 28 de Fevereiro, Frêches qualificou os harkis (os argelinos e seus descendentes que escolheram a França quando a Argélia se tornou independente em 1962) de «sub-homens» e o PSF suspendeu-o de cargos internos no partido.
O secretário geral dos socialistas gauleses, François Hollande exigiu explicações: «As declarações de Georges Frêches sobre a selecção francesa de futebol tais como foram reproduzidas no jornal Midi Libre e, se forem confirmadas, são inaceitáveis. Condeno-as da maneira mais firme e exijo a George Frêche que se explique imediatamente.»
As explicações chegaram mais tarde numa conferência de imprensa, mas Frêche não apresentou as desculpas que se foram pedindo em França. «Eu quis exprimir o meu desejo de ver uma equipa que fosse mais representativa da diversidade da França, através das origens geográficas e sociais. Teria dito a mesma coisa se tivesse havido apenas bretões ou alsacianos na equipa da França», justificou-se Frêche.