Oficialmente campeão! O Mónaco é o conto de fadas de 2016/17. Três príncipes portugueses conquistaram castelos, bateram o «vilão» milionário e no final beijaram a taça da Ligue 1.

A festa chegou ao Marquês de Pombal

Leonardo Jardim tornou-se no terceiro treinador português campeão numa das grandes ligas, depois de Artur Jorge e José Mourinho. Fez do clube monegasco uma das grandes atrações da época e deixou Portugal atento ao ecrã quando havia campeonato gaulês.

Bernardo Silva e João Moutinho ladearam o treinador no trono. E se Jardim é digno sucessor de «Rei Artur», o mais novo dos portugueses é herdeiro de Chalana. Apelidado pelo Pequeno Genial de Messizinho do Seixal, Bernardo Silva tornou-se numa das grandes figuras da equipa. Aquele que foi mais regular, desde início, antes do renascimento de Radamel Falcao e da explosão do fenomenal Kylian Mbappé.

Jardim, Bernardo e Moutinho, mas também Falcao e Fabinho; as ligações a Portugal colocaram o foco dos adeptos nacionais no Mónaco

Já Moutinho é um dos que faz a ponte para um passado bem recente. O médio português é o principal resistente da loucura que o Mónaco provocou no mercado em 2013/14, com investimento milionário. Uma estratégia que foi invertida e que só torna maior o feito de Leonardo, Bernardo e João.

A época do Mónaco fica marcada por uma campanha europeia fantástica e pela glória de um campeonato que teve vários momentos importantes, com figuras nacionais em destaque, e que o Maisfutebol relembra, agora que o clube celebra o oitavo título do historial.

O primeiro português a cair

Quando em julho de 2016 começou a fazer os primeiros jogos de preparação, Leonardo Jardim ainda não contava com uma série de jogadores que viriam a ser titulares. Para a Suíça, o técnico levou 23 futebolistas. Entre eles, Ivan Cavaleiro e Rony Lopes.

Não havia, porém, João Moutinho ou Bernardo Silva. Nem Subasic, Sidibé, Mendy ou Fabinho. Glik ainda não tinha sido contratado e MBappé era o segredo mais bem guardado do mundo.

Talvez não fosse assim tão grave para outra equipa, mas Leonardo Jardim tinha a primeira mão de uma pré-eliminatória da Champions daí a 25 dias…

Quando chegou a esse compromisso, o Mónaco tinha um impressionante registo de golos. Eram 17 apontados em seis jogos! A pré-época trouxe vislumbre do que seria o poderio ofensivo dos monegascos, mas a verdade é que aqueles números também mostravam a faceta que Jardim mais tinha de trabalhar: a defesa, com 13 sofridos.

A chegada de Glik e a entrada do polaco para o lado de Jemerson originou uma dupla que foi ganhando consistência. Ainda assim, foi Raggi quem jogou frente ao Fenerbahçe.

O sorteio da pré-qualificação da Liga dos Campeões não foi sorridente ao Mónaco, mas Falcao e o experiente Germain marcaram golos suficientes nas duas mãos para fazer Vítor Pereira cair no emblema turco. E começar a enorme epopeia do clube do Principado em 2016/17.

Moutinho como David num início bem complicado

A Ligue 1 começou logo depois desse confronto com os turcos e, privado de avançados, Jardim atirou para a arena um miúdo na altura de 17 anos: Kylian Mbappé. Em casa, o emblema do Principado não venceu o Guingamp. Mas foi uma primeira manifestação de força da equipa. A perder 2-0, foi buscar o empate 2-2, com golos de Fabinho e Bernardo Silva.

Esta mesma dupla marcou em Villarreal (1-2) e o brasileiro repetiu o feito frente aos espanhóis, em casa, para carimbar entrada na fase de grupos da Liga dos Campeões. Entre uma coisa e outra, um triunfo sobre o Nantes, para o campeonato.

Passada a primeira barreira da época, era altura de o foco ficar na Ligue 1. E quem lá vinha? Uma montanha! Nada mais, nada menos do que o poderoso «vilão» desta história, tetracampeão em título. O PSG!

Os parisienses eram Golias, mas o Mónaco tinha um David: João Moutinho. Foi o português quem abriu o marcador. Fabinho aumentou para 2-0, Cavani ainda reduziu, mas um autogolo de Aurier confirmou o triunfo monegasco (3-1).

A conjugação de resultados dessa jornada levou ainda à liderança do clube do Principado.

O Mónaco goleado no dérbi e… Paris, de novo

Em França, havia mais do que uma sensação. Havia o Mónaco, é certo, mas sobretudo o Nice. O vizinho «pobre» que assumia um papel de irreverente na Ligue 1.

Lá chegaram Dante e o excêntrico Mario Balotelli. À sexta jornada, o dérbi entre Nice e Mónaco deu em goleada: 4-0 e mudança de líder.

Aquele foi um dos quatro jogos em que o Mónaco não marcou em toda a época! Quanto à liderança, só regressou 15 rondas depois, graças a três empates consecutivos do Nice.

O primeiro lugar foi obtido na jornada imediatamente anterior ao confronto com o PSG. O que fez com que no Parc, a estratégia passasse sempre por não deixar os parisienses embalar. Com três pontos de diferença na tabela, Edinson Cavani assumia o assalto do Paris ao primeiro posto.

O jogo fechou o domingo desportivo em França e quando o uruguaio fez o 1-0 de penálti, todo o momento que o Mónaco tinha ganho até ali, com influência da caminhada da Champions, estava prestes a tornar-se numa depressão.

Um golo salvador de Bernardo Silva transformou-se num dos pontos fundamentais da Ligue 1: ali criou-se estofo de campeão, com o português a gritar o 1-1 de pulmões cheios no Parque dos Príncipes.

Kylian Mbappé e Falcao: de Angers a Lyon

A Ligue 1 abriu um novo capítulo na história do futebol. Porque poucas dúvidas existem sobre o futuro de Kylian Mbappé. Fenomenal nas ações, esteve na primeira jornada, mas foi apenas a partir de 2017 que se percebeu por inteiro o talento do menino.

Os golos começaram a surgir em catadupa e não mais o veterano Germain seria a primeira das escolhas de Jardim, para o lado de Falcao. Mbappé entrou em fase goleadora, tanto na Champions como no campeonato e se o Mónaco já era uma equipa com um registo de golos extraordinário, tinha agora uma nova estrela que podia resolver jogos em qualquer momento.

No entanto, foi um renascido Tigre que deu pontos cruciais antes da decisiva partida. Uma partida que há muito estava marcada a encarnado no calendário.

Antes desse marco, porém, era preciso vencer no terreno do Angers. Que acabou por ser uma das vitórias mais difíceis do Mónaco, com Falcao a marcar um golo solitário. Seguiu-se o 2-1, em casa, ao Dijon, com o colombiano a saltar do banco e a virar o resultado de 0-1 para 2-1: atirou um livre à trave que Dirar confirmou como golo e ele próprio fez um golão noutra falta.

O calendário da Ligue 1 apontava depois apenas para um destino: o Parc OL. No balneário do Mónaco, percebia-se que aquele seria o local da batalha mais intensa até ao título. E foi.

Mbappé e Falcao marcaram e colocaram o resultado em 2-0, mas o Lyon tinha ganho no Principado e atirou-se à equipa de Jardim como ninguém. Reduziu para 2-1. Os monegascos sofreram muito, mas mantiveram a vantagem e o campeonato ficou ao virar da esquina.

A epopeia terminou nesta noite, frente àquele que ainda é o clube com mais campeonatos em França: o St. Étienne.

O jogo da consagração foi uma mistura de futuro e passado. Mbappé está destinado a grandes feitos e fez o 1-0. Germain selou a vitória que valeu o campeonato. Ele que em 2010/11 descera com o clube até á 2ª divisão.

É o grande feito de um treinador português que, por fim, estabilizou num emblema. Desde que chegou à I Liga, Jardim nunca durara mais do que uma época nos clubes: portugueses ou estrangeiros.

Num homem que desde Braga, e passando por Alvalade, sempre falou em processo, teve finalmente tempo e disponibilidade para terminá-lo. Acabou campeão. Recebeu a mesma coroa de Artur Jorge em 1993/94, enquanto Bernardo e Moutinho seguem as pisadas de Chalana, Costinha, Tiago e Mário Silva. Os outros que foram portugueses campeões em França, quando se fala apenas no futebol de clubes.