A mais célebre final da Taça da Liga não é célebre pelas melhores razões: é-o porque raramente um erro de arbitragem como aquele penalty mal assinalado por Lucílio Baptista terá sido tão claramente decisivo. O Benfica recuperou o fôlego num jogo que já tinha como perdido e mais tarde, no desempate por penalties, derrotou o Sporting.

Para trás estava um golo de Bruno Pereirinha do qual mais ninguém se lembrou, justamente porque dessa final vem sobretudo à memória o erro do árbitro na alegada mão de Pedro Silva.

Se o Sporting de Paulo Bento, nos anos de míngua da última década, tivesse ganho mais aquele troféu, e logo numa final contra o Benfica, Pereirinha estaria na história e seria um herói cantado. Mais importante que isso: numa fase de tentativa de afirmação, não é desonesto especular que tudo poderia ter sido diferente na carreira dele. Não foi, e a vida é mesmo assim.

Pereirinha ficou mais uns tempos como jogador "de plantel", suplente utilizado e raras vezes titular, até se esgotar a chama, já de si ténue, e passar a saltitar de empréstimo em empréstimo.

Era o que lhe estava destinado outra vez na era-Domingos. Acontece que, ao contrário do que diz a norma que nos ensinam nas tertúlias da vida, o comboio parou duas vezes na estação de Pereirinha. Apresentado no Olhanense num domingo de Julho e convocado para estágio do Sporting na Holanda no sábado seguinte, o jogador teve um segundo momento-chave, desta vez positivo para ele, ainda que à custa da infelicidade do lesionado João Gonçalves.

Vários pontos perdidos após o início da época, Domingos lançou mão de Pereirinha em Paços de Ferreira. Voltou a lançar em Zurique. Foram as duas primeiras vitórias do Sporting e Pereirinha é só mais uma peça nesse puzzle. Mas é. Esteve lá. Passou a contar para um filme no qual nem sequer contava estar envolvido.

Prever que voltará ao banco de suplentes quando Jeffrén recuperar de lesão é linear. Mas as voltas da vida de Pereirinha já provaram que nem sempre tudo é tão linear como parece.

Nas mãos (na cabeça, nos pés) de Pereirinha está uma oportunidade de ouro de não largar mais o tal comboio em que conseguiu reentrar quando ninguém - nem ele - o esperava. Precisará, eventualmente, de um pouco mais de nervo e inconformismo.

Mas atenção: nas mãos (na cabeça) do Sporting e de Domingos está também a possibilidade de não desaproveitar um dos melhores talentos práticos que Alcochete produziu nos últimos anos. Não se encontra com facilidade um jogador culto tacticamente e ao mesmo tempo capaz de desequilibrar em velocidade. E sobretudo não se encontram por aí cruzadores de bolas como Pereirinha. Não é um craque de topo como outros que saíram da academia, mas é seguramente melhor que alguns dos que tiveram o quadrúplo das oportunidades. O Sporting precisará, eventualmente, de paciência. E coerência também.

*Editor Desporto TVI

www.futebolcomtodos.pt

www.futebolcomtodos.com