Imagine, caro leitor, que decide gastar algum dinheiro - muito dinheiro - para ir com família e amigos a um musical no West End, em Londres, ou na Broadway, em Nova Iorque. Se decidir com antecedência, provavelmente reservará bilhetes pela internet. Se decidir quando já está em passeio por essas belas cidades, provavelmente pedirá ajuda na receção do hotel ou irá diretamente às bilheteiras.

Em qualquer destes casos, será sobejamente avisado de que os bilhetes mais baratos dão acesso a locais de visibilidade reduzida. Fazem parte das categorias formais, impressas nas tabelas de preços e informações.

Imagine agora, caro leitor, que decide gastar algum - muito - dinheiro para ir com familiares e amigos ver uma final da Taça de Portugal ao Estádio Nacional. Primeiro terá de decidir com antecedência ou ter uma grande cunha, porque o processo de venda de bilhetes desenrola-se num circuito fechado e em curto espaço de tempo. Depois, pode muito bem acontecer-lhe como ao adepto que tirou as fotografias acima: pagar 30 euros - repito, 30 euros! - por cada bilhete e não ver parte do relvado.

O que aconteceu a este espectador, diz a lógica, aconteceu a mais umas boas centenas no Académica-Sporting de 20 de maio passado - basicamente todos aqueles que tiveram a má fortuna de lhes calharem bilhetes para as primeiras filas da bancada central. Vale a pena sublinhar que, ao contrário do que sucede nos musicais, estes bilhetes não são sequer os mais baratos. Nem valeria a pena dizer que não houve pré-aviso, claro.

No caso em apreço, o comprador de bilhete esteve no Jamor uma semana antes, para a final da Taça de Portugal feminina, e por curiosidade foi verificar os lugares em que se sentaria na final masculina. Indignou-se e agiu: enviou emails à Federação Portuguesa de Futebol e à secretaria de Estado do Desporto e Juventude. "Nada a fazer", foi a resposta à ideia de colocar os bancos de suplentes no lado contrário, onde como sabemos não existe bancada.

Não sei se seria essa a melhor solução. Sei qual seria a mais honesta: resolver a invisibilidade, não vender bilhetes para aqueles lugares ou, no limite, vendê-los mais baratos e com indicação expressa das condições. Não se trata aqui, sublinho, de discutir a realização da final da Taça no Jamor. Sou do grupo dos conservadores, nesse aspeto, e acho que tudo tem solução se houver boa vontade.

No entanto, tendo em conta o respeito com que o adepto de futebol é tratado em Portugal pelos mais variados "agentes da indústria", aposto que para o ano vai haver mais gente a ver coberturas de bancos de suplentes em vez de futebolistas a jogar.

*Editor TVI

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