De dois em dois anos (na última década e meia), os portugueses entretêm-se a rabiscar listas de 23 futebolistas que levariam para mais uma prova internacional da seleção. Um desses portugueses tem a lista que vale e quando a anuncia há sempre os "mas" e os "senãos". Faz parte do trabalho dele, por sinal bem pago.

Aconteceu há dois anos a Queiroz, sucede agora a Paulo Bento, porém com uma diferença assinalável: o atual selecionador não roçou o escândalo em qualquer das suas decisões, ao contrário do que fez o antecessor quando deixou João Moutinho fora do Mundial-2010. Por melhor época que tenha feito no Besiktas, não se compara a ausência de Manuel Fernandes deste Europeu com a do então capitão do Sporting na África do Sul. Como os dois anos posteriores mostraram sem margem para discussões.

De resto, vêm-me à mente, mais como exercício teórico que de discordância, as mesmas personagens de há dois anos: Quim e Nuno Gomes. E a eles junta-se João Tomás.

Na África do Sul, o guarda-redes do Braga era campeão nacional em título e justificava, na minha opinião, a titularidade no lugar do Eduardo. Não direi, hoje, que tiraria o lugar a Rui Patrício, mas parece-me, de longe, melhor opção para número dois que o suplente de Artur no Benfica. Se Patrício tiver algum infortúnio, que ritmo de jogo apresentará Eduardo? Certo é que Quim, dois anos depois, volta a perguntar-se com alguma justiça: "porque fico outra vez fora de uma grande prova?"

Nuno Gomes e João Tomás entram no mesmo pacote: o do ponta de lança experiente que poderia ser lançado numa qualquer hora decisiva com a certeza de que suportaria a pressão de uma competição como esta.

Percebe-se a aposta de futuro em Nélson Oliveira, bem como o argumento de que reune caraterísticas novas para a seleção, mas a verdade é que o jovem avançado foi quarta opção do Benfica durante um ano inteiro. João Tomás foi o melhor goleador português da Liga, na qual Nélson não chegou a marcar. Nuno Gomes nem por isso, mas o currículo de seleção e o lastro (feliz) de grandes competições é garantia importante, até em termos de dinâmica de grupo.

Não foi por querer, mas acabei por questionar a convocação dos dois jogadores do Benfica desta seleção. O selecionador não os chamou, de certeza, por jogarem no clube em que jogam. E se por acaso o Benfica não tivesse representante na seleção portuguesa durante o Euro-2012 a culpa não seria certamente de Paulo Bento. Nem minha.

*Editor TVI

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