25 de outubro de 2016. A partir de agora, esta é uma data histórica para o futebol feminino nacional.

Daqui em diante, este foi o dia em que Cláudia Neto assistiu Ana Borges, que rompeu para o interior da área e serviu de bandeja Andreia Norton, que aos 105 minutos do prolongamento fez o golo que valeria o primeiro apuramento de sempre de Portugal para a fase final uma grande competição de seleções.

A seleção nacional empatou a um golo na Roménia (depois de um nulo em Lisboa) e está apurada para o Campeonato da Europa de futebol feminino, que se realiza em 2017 na Holanda.

25 de outubro passa a ser um dia tão histórico para o futebol feminino nacional como o 24 de outubro de 1981… Exatamente 35 anos e um dia antes da seleção orientada por Francisco Neto conseguir o inédito apuramento, a «equipa das quinas» feminina realizou o seu primeiro jogo.

Esse jogo particular em França terminou sem golos, como recorda ao Maisfutebol Alfredina Silva, uma das pioneiras dessa seleção.

«Havia uma diferença abismal entre a seleção francesa e a nossa, até em coisas simples, como equipamentos e chuteiras… Elas já tinham participado em sete fases de apuramento e nós só dois anos mais tarde é que viríamos a disputar a primeira. Ainda assim, com a nossa alma lusa, saímos de lá com um empate a zero. Foi uma surpresa para toda a gente», recorda Alfredina, hoje treinadora da equipa feminina do Boavista, que destaca a evolução que ocorreu em três décadas e meia na modalidade no nosso país:

«Sempre tivemos futebolistas com talento e muito lutadoras, mas faltava o resto. Hoje já não se joga em pelados, os clubes têm equipas técnicas muito mais apetrechadas e escalões de formação. Agora, há um investimento maior de clubes como o Sporting ou o Sp. Braga, que vai obrigar os restantes a subirem o nível e trazer maior visibilidade. Além disso, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) está a fazer um trabalho meritório em termos organizativos nas competições.»

Beatriz Macedo, aliás, Tiza, no futebol, também fez parte da seleção que estreou Portugal no futebol feminino e corrobora os progressos alcançados no futebol feminino no nosso país.

«Lembro-me bem dos pelados e de andar com as coxas e os joelhos sempre arranhados. [risos] No meu tempo era bem mais complicado para uma mulher optar pelo futebol. Eu, por exemplo, tinha treinos à noite no Boavista, ia de comboio até Guimarães, chegava a casa por volta da meia-noite e às 6 horas da manhã tinha de entrar na fábrica para trabalhar. Superava aquilo tudo por amor ao futebol», recorda Tiza, que não está ligada à modalidade, mas ontem acompanhou de perto a qualificação da seleção nacional: «Estava a trabalhar, mas fui espreitando o jogo da nossa seleção, que estava a dar na TVI 24. No final, fiquei muito feliz. Tal como naquele primeiro jogo, também fomos empatar fora. Mas desta vez conseguimos um apuramento.»

Alfredina também acompanhou de perto o jogo decisivo e faz um pedido expresso para enviar os parabéns à estrutura federativa e a todas as jogadoras pelo apuramento: «Vi o jogo, fomos superiores, estávamos a controlar a Roménia e acreditei sempre que íamos conseguir. No final, foi uma alegria imensa. Estão todos de parabéns!»

Segue-se a fase final, no próximo ano, e um grau de exigência maior na Holanda, onde Portugal defrontará no pote 4 Áustria, Bélgica e Rússia.

«Vai ser um grande desafio. Temos pela frente seleções muito fortes e bem mais experientes», previne Alfredina, que ainda assim acredita: «Temos tudo para continuar a evoluir. Este foi o primeiro de muitos apuramentos para Portugal.»