O Mundial que se despediu de Falcão terá um campeão inédito e pode ser Portugal. A seleção nacional joga nesta madrugada de quarta para quinta-feira (a partir da 01h00) um lugar na final do Campeonato do Mundo de futsal, frente à Argentina.

O Brasil, pentacampeão do mundo e que nunca tinha falhado um pódio em sete edições do Mundial, caiu nos oitavos de final, frente ao Irão. E a Espanha, a única seleção campeã do mundo além da canarinha, foi eliminada pela Rússia nos quartos de final. A «Roja» também só tinha ficado fora dos três primeiros no Mundial por uma vez, na primeira edição, em 1989.

E assim se chega a uma decisão que será novidade e que pode ter Portugal, a fazer um torneio entusiasmante sob a batuta de Ricardinho, a afirmar-se de vez como a estrela global da modalidade. No final do ano em que foi eleito melhor do mundo pela terceira vez, o capitão nacional segue destacado como melhor marcador do Mundial, para já com 12 golos.

O único que se aproximava destes números era Falcão, a eterna referência do Brasil. Fez 10 golos em quatro jogos na competição. Aliás, o Brasil ainda é a seleção com mais golos marcados, 33, Portugal está em quinto com 22, sendo de resto a melhor defesa da prova, com apenas quatro golos sofridos.

Mas Falcão já não mora aqui. Aos 39 anos, o primeiro grande ídolo global da modalidade assumiu que era a sua despedida de Campeonatos do Mundo, ao fim de cinco presenças, dois títulos conquistados e de se tornar o recordista de golos marcados em toda a história da competição, com 48 golos. O ala que ganhou cedo a alcunha do antigo craque do futebol brasileiro nem sequer começou pelo futebol de 11, foi desde sempre o futsal a sua modalidade. Com uma exceção em 2005, quando chegou a jogar futebol pelo São Paulo. 

Na despedida, os próprios adversários fizeram questão de o homenagear

O Mundial da Colômbia ficou sem o Brasil e sem Falcão e ganhou em surpresas, com o Irão e a Rússia a chegarem até à meia-final, que se jogou nesta madrugada. A Rússia venceu por 4-3 e está na final pela primeira vez na sua história

Depois de ter começado o ano com a presença no Europeu, onde foi afastado nos quartos de final pela Espanha, Portugal garantiu em abril o apuramento para o Mundial e foi para a Colômbia determinado em chegar longe. Estreou-se com um empate frente à anfitriã, depois embalou para duas vitórias folgadas na fase de grupos. A seguir outro triunfo tranquilo sobre a Costa Rica, nos oitavos, antes do Azerbaijão, nos quartos.

«Queremos muito mais»

Estava garantida a segunda presença da história da seleção nas meias-finais de um Mundial, depois de 2000, onde Portugal chegou ao bronze. Agora, não há limites para a ambição, assume o selecionador Jorge Braz. «Quero ver Portugal a assumir o jogo, a ser extremamente ambicioso e a perceber que depois de todo o percurso que tivemos, só podemos acreditar cada vez mais em nós. Estamos perante uma oportunidade única para estar num jogo onde todos no Mundo gostariam de participar», disse o treinador ao site da Federação.

«Queremos muito mais e isso passa por vencer a Argentina, sabendo das dificuldades que vamos enfrentar. Sempre disse que gostávamos de coisas difíceis, então que venha uma coisa difícil porque nós queremos ultrapassá-la», afirma de resto Jorge Braz.

A Argentina terminou em primeiro lugar o seu grupo, tal como Portugal, depois de ter vencido o Cazaquistão e as Ilhas Salomão e empatado com a Costa Rica na última jornada. Nos oitavos de final foi a prolongamento com a Ucrânia, acabando por vencer por 1-0, e nos quartos venceu o Egito por 5-0. A albiceleste nunca falho a presença num Mundial, mas o melhor que conseguiu foi um quarto lugar em 2004. Esta é a primeira vez nas meias-finais desde então.

O capitão da Argentina é Wilhelm, jogador do Benfica, que conhece bem alguns dos jogadores da seleção nacional. E antes de todos Ricardinho. «Jogar contra ele vai ser um grande desafio. A repuração dele é justificada. O Ricardinho é uma grande mais-valia para o futsal», », disse o veterano jogador, de 34 anos, em entrevista à FIFA: «Mas não vamos preocupar-nos demasiado com ele. De qualquer forma, Portugal tem outros jogadores perigosos.»

O percurso de Portugal no Mundial da Colômbia, com os resumos da FIFA, jogo a jogo:

Fase de grupos

Colômbia-Portugal, 1-1

Um ponto garantido de forma dramática na estreia, frente ao anfitrião. Cardinal marcou no último segundo o golo que evitou a derrota de Portugal.

Panamá-Portugal, 0-9

Uma primeira vitória em grande estilo. Ricardinho marcou cinco na primeira parte e fechou a conta aos seis golos, tornando-se o melhor marcador de sempre da Seleção, naquela que foi também a maior goleada da equipa das quinas.

Portugal-Uzbequistão, 5-1

Portugal assegurou o primeiro lugar no grupo com mais um «hat-trick» de Ricardinho, incluindo um «cabrito» que é uma das suas imagens de marca.

Oitavos de final

Portugal-Costa Rica, 4-0

Uma exibição muito convincente e uma vitória sólida, com mais um bis de Ricardinho, no primeiro encontro da fase a eliminar.

Quartos de final

Azerbeijão-Portugal, 2-3

Um duelo intenso, marcado no início da segunda parte por um segundo cartão amarelo que deixa Djô de fora da meia-final, decisivamente a inclinar-se para Portugal com o golo de calcanhar de Ricardinho, na segunda parte, que colocou o resultado em 3-1.