* Por Filipe Beja

Orlando Duarte nasceu há 58 anos em Lisboa e está atualmente no FK Nikars da Letónia, clube ao serviço do qual já se sagrou tricampeão nacional. Durante uma década, foi selecionador nacional. Um período que ficou marcado logo no seu início pelo brilhante 3º lugar no Campeonato do Mundo da Guatemala em 2000 e no final pelo título de vice-campeão da Europa em 2010. Entre 2000 e 2010, o técnico liderou a equipa nacional em 153 jogos com um saldo de 110 vitórias, 13 empates e 30 derrotas, 793 golos marcados e 269 golos sofridos.

A três dias de Portugal começar a sua participação na sétima fase final consecutiva de um Europeu, a «Futsal+» foi procurar saber que expectativas tem Orlando Duarte sobre a participação da seleção nacional em mais uma fase final.

F+ - Orlando Duarte, foi selecionador durante 10 anos. Acredito que vai seguir com a máxima atenção o campeonato da Europa da Sérvia. Será que é desta que Portugal vai conquistar um grande título internacional?

O.D.- Acredito no trabalho que está a ser desenvolvido. Conheço bem as pessoas que lideram a nossa Seleção e as suas competências. Somos os mais sérios candidatos à vitória neste Europeu. Tem sido realizado um trabalho de grande qualidade, por isso a credito que vai ser mesmo desta...
 
- Para si, há um ou vários candidatos ao título europeu?

- Como disse anteriormente, o mais sério candidato é Portugal. A Espanha não está tão forte como em anos anteriores. Os grandes jogadores que criaram um coletivo extraordinário ao longo de uma década deixaram de jogar e gerações como aquela dificilmente se repetem. A Itália parece-me ao mesmo nível de há dois anos e, se jogar com Portugal, não terá a vida facilitada como teve nesse Europeu. Depois, a Rússia, com jogadores de imensa qualidade, mas que não funcionam como equipa. Das restantes seleções, a Ucrânia poderá discutir qualquer jogo com qualquer seleção, se entrar em campo com mais ambição. O Cazaquistão, com a sua forma de jogar, pode vir a criar muitas dificuldades aos adversários que se revelem impacientes na abordagem ao jogo. O Azerbaijão depende de quem, entretanto, naturalizou... As outras seleções, independentemente do crescimento evidenciado, podem, pontualmente, criar boas expetativas, mas sem capacidade para chegar aos primeiros lugares. A exceção poderá ser a Sérvia.

- Por que será a exceção?

- Porque se tem preparado com períodos grandes de trabalho e pela qualidade individual dos seus jogadores. Por jogar em casa? Nunca entendi muito bem e continuo sem entender que haja treinadores a dizer que 'em casa mandamos nós? Querem eles dizer que fora de casa mandam os outros? Não me parece prudente esta mensagem para os seus próprios jogadores! Dentro da ideia de jogo destes treinadores existem duas formas diferentes na abordagem ao jogo? Casa ou fora? Os jogadores sérvios podem-se galvanizar? Claro que sim! Só que, sabemos bem, a emoção tende a toldar a razão...


Orlando Duarte na altura em que foi selecionador, com Jorge Braz como adjunto [Foto: FPF]

«Portugal vai passar em primeiro»

- Na primeira fase, Portugal jogará com a seleção da casa (Sérvia) e com a Eslovénia, dois adversários com quem tem um saldo bastante positivo. Passar aos quartos de final como primeiro classificado do grupo será importante, até para eventualmente evitar nomes como Espanha e Itália na fase a eliminar?

- Portugal vai passar em primeiro. Os que vierem a seguir devem ficar mais preocupados connosco do que nós com eles. Vão defrontar a melhor seleção europeia da atualidade! 

- As escolhas de Jorge Braz não foram fáceis, tendo em conta a qualidade cada vez maior dos jogadores portugueses. Acha que os 14 eleitos pelo selecionador nacional dão garantias de sucesso?

- Totais garantias! É muito bom o Braz sentir dificuldades para escolher os 14 melhores. É sinal de crescimento, de desenvolvimento, de jogadores cada vez mais capazes. É reflexo do bom trabalho dos nossos treinadores.

- Pela primeira vez, o selecionador convocou apenas dois guarda-redes para assim ter mais opções em jogadores de campo. Isto também porque na fase de grupos não pode contar com Cardinal, por estar castigado. Concorda com a decisão?


- O Braz, com toda a certeza, ponderou bem e decidiu desta forma. É um risco. Decerto bem calculado.  

- Jorge Braz é alguém que conhece bem. Foi o seu adjunto e, depois, o seu substituto natural. Considera positivo o trabalho do atual selecionar nacional nestes cinco anos?

- Já o disse antes. Tem sido realizado um trabalho de grande qualidade. O que não me surpreende, conhecendo-o como conheço.


Mais uma foto de Orlando Duarte no banco da Seleção

«Se tivéssemos campeonato com menos equipas qualidade iria aumentar»

- Nas últimas fases finais de europeus, tem faltado sempre algo a Portugal para superar seleções como Espanha, Itália ou Rússia. Isto terá a ver também com a qualidade (e intensidade) dos campeonatos desses países?

- No nosso campeonato joga-se com qualidade. Equipas como o Benfica e o Sporting não ficam a dever nada às melhores europeias. E, depois, temos equipas como Burinhosa, Sp. Braga e Fundão, para só falar em algumas, que têm feito crescer a competitividade no nosso campeonato. Acredito que se tivéssemos um campeonato com menos equipas - por exemplo com 12 - a competitividade iria aumentar. Os melhores jogadores iriam distribuir-se por menos equipas, o que qualificaria os diversos plantéis.

- Ter só um pivô, que ainda por cima não pode ser utilizado nos dois primeiros jogos, é um grande handicap para a seleção nacional?

- Quem me conhece sabe que não gosto de falar de individualidades. O coletivo está sempre acima de tudo. Abro uma exceção para dizer que, neste momento, temos, além do melhor jogador do mundo, o melhor pivô do mundo! Não joga os dois primeiros jogos, joga os restantes. Com maiores ou menores dificuldades a nossa Seleção vai passar em primeiro. E o coletivo está sempre acima de tudo...

- Ricardinho foi eleito, uma vez mais, o melhor jogador do Mundo. Um título individual para alguém que ainda procura um grande título na seleção nacional. Será este também o europeu de consagração para o mágico português?

- O Ricardinho conhece-me bem e conhece bem a minha relutância em sobrepor as individualidades ao coletivo. Acredito que este vai ser o Europeu da consagração, há muito tempo merecida, da Seleção Nacional. Por inerência, a consagração dos nossos jogadores, do nosso staff, da nossa estrutura federativa. E então, aí sim, a consagração do Ricardinho como o melhor jogador do Europeu. 

- Ricardinho que já disse que este poderá vir a ser o Europeu do 5x4 tendo em conta algumas das seleções que vão estar na Sérvia, como as do Azerbaijão e Cazaquistão. Isso poderá ser bom ou mau para a modalidade?


- Não gosto deste tipo de abordagem ao jogo. No entanto, não deixa de ser 5x5. As seleções têm de se preparar para esta situação. Descaracteriza o jogo, sem dúvida. Há alguns anos foram apresentadas propostas no sentido de alterar a utilização desta forma de atuar. Não tem existido vontade da parte de quem dirige internacionalmente os destinos do Futsal. A entidade é a mesma. Padecemos do conservadorismo do futebol. Nas leis do jogo nem tanto, mas, para quando mundiais de seleções jovens? E Feminino? E integração nos Jogos Olímpicos? É tudo tão devagar... Há que controlar o crescimento do Futsal...