Homem santo, «faquir castanho», símbolo maior da paz e tolerância no século XX. Mohandas Gandhi, o Mahatma (a Grande Alma), pacifista incorruptível, defensor da identidade hindu, da igualdade entre raças e credos. De advogado asfixiado pela pressão de um colarinho branco - formado nas mais conservadoras salas de Direito em Londres -, a pai da espiritualidade, do desprendimento material e da indignação não-agressora nas indigentes terras da África do Sul.

Uma história sem paralelo, uma bondade singular.

As referências vagueiam por toda a parte, resistem à passagem dos anos e à memória do Homem esquecido. Todos já se terão sentido, aqui ou ali, tocados por esta nobreza de carácter e acções. O que muitos não saberão é que o profeta indiano teve também uma ligação influente e fortíssima ao mundo da bola.

O nascimento do Resistentes Passivos FC

Gandhi e o futebol é uma reportagem transgressora, extravasante, refém das experiências do ancião Mohandas junto do desporto-rei. Uma sequela dos trabalhos alusivos a Che Guevara e Bob Marley.

Jovem adepto apaixonado na Inglaterra; fundador dos Resistentes Passivos FC - conjunto de emblemas cristalizado pela pureza do satyagraha (a verdade firme), na África do Sul -; propulsor da criação de várias associações de futebol no seu país-natal; inspirador plasmado na génese de clubes anti-Apartheid (Moonlighters FC e Manning Rangers) e nome-estandarte de colectividades amadoras nos quatro cantos do planeta.

Na génese do primeiro campeão sul-africano

O FC Gandhi (Ilhas Fiji) e o Team Gandhi (Inglaterra) são duas boas amostras da herança espiritual de Mohandas Gandhi, o Bapu, transportadas para o rectângulo de jogo.

Nascido a 2 de Outubro de 1869 na Indía e assassinado a 30 de Janeiro de 1948, Gandhi é um influenciador geracional apaziguador. Naturalmente, a distância temporal dos seus feitos não permite aclarar totalmente a relação que teve com o futebol. A base da história, no entanto, é rigorosa e ampliada pela objectividade dos testemunhos.

Das Fiji a Inglaterra, dois clubes beatificados

O Maisfutebol falou com Poobalan Govindasamy, dirigente da federação sul-africana de futebol, Bongani Sithole, gestor e guia de uma colónia rural fundada por Mahatma Gandhi perto de Durban (África do Sul) e que é hoje uma atracção turística, e ainda se deixou tocar pelas palavras simples e comiseradoras de Tara Gandhi.

Numa demorada conversa telefónica, por entre reflexões e desabafos sociológicos, a neta de Mohandas Karamchand Gandhi mostrou-se mais surpreendida do que informada sobre esta paixão desconhecida do avô pelo futebol. De qualquer forma, o depoimento teria sempre de ser sujeito a publicação.

Neta de Gandhi: «Juntava as pessoas e conquistava-as»

«As gerações por vir terão dificuldade em acreditar que um homem como este realmente existiu e caminhou sobre a Terra», referiu certa vez Albert Einstein, outro génio. No dia em que se cumprem 98 anos sobre um dos momentos mais definidores na vida de Gandhi (a detenção durante a marcha dos mineiros hindus em 1913), publicámos este trabalho sem a pretensão de esboçar um novo retrato da personagem.

A intenção é somente humanizar um homem sacro e sublinhar a sua associação ao futebol. No fundo, aquilo que verdadeiramente nos interessa.