A Espanha está fora do Mundial 2018. «La Roja» caiu nas grandes penalidades frente à Rússia (3-4), numa história com traços semelhantes como a que viveu em 2002, no Mundial da Coreia e do Japão.

Os espanhóis não fizeram o suficiente para resolver a passagem aos quartos de final durante 120 minutos e aceitaram o convite dos anfitriões para discutir a sobrevivência na competição na roleta russa. E saíram-se muito mal.

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Resistência e esterilidade foram as palavras de ordem no tapete do Luzhniki. De um lado onze russos, qual exército vermelho, a impediram as incursões adversárias até à baliza de Akinfeev e, por outro, a incapacidade da Espanha em aproveitar ao facto de ser dona da bola.

Hierro herdou uma seleção idealizada por Lopetegui, é verdade. É também certo que não estragar o plano inicial era uma tarefa fácil. Contudo, quando foi preciso arriscar ou experimentar algo diferente, o antigo diretor desportivo da Federação espanhola mostrou não estar à altura. 

Koke juntou-se a Busquets no meio-campo, libertando Isco, Silva e Asensio no apoio a Diego Costa. O plano parecia simples: conservar a posse de bola e estar precavido para as transições do adversário. Não só a Rússia apostou nas saídas rápidas, como acrescentou um quinto elemento à habitual linha defensiva de quatro.

Sem criar grandes oportunidades, a Espanha apanhou-se em vantagem (12'). Livre cobrado por Asensio na direita, com Ignashevich a introduzir a bola na própria baliza com o calcanhar. Um lance invulgar, já que o veterano defesa limitou-se a olhar para Ramos, ao invés de concentrar a atenção na bola. Sem se aperceber, assinou um autogolo, o segundo da Rússia em todo o torneio. 

Se Espanha progredia pouco com bola quando estava em igualdade no marcador, menos interesse mostrou em fazê-lo após a vantagem. A Rússia não desmontou a estratégia e numa das raras saídas, conquistou um pontapé de canto. Dzyuba ganhou no ar a Piqué e cabeceou contra o braço do central do Barcelona. O árbitro assinalou, de imediato, grande penalidade. O gigante russo encarregou-se de bater De Gea e de restabelecer a igualdade.

Os jogadores espanhóis sentiram o golo e, por isso, fizeram o que até então não tinham feito. Subida de Nacho - titular em detrimento de Carvajal - e passe para a diagonal de Diego Costa. O hispano-brasileiro atirou forte para boa defesa de Akinfeev. 

Hierro não mexeu um centímetro na estratégia com que iniciou a partida. E, por consequência, a Espanha não melhorou. Continuou a circular a bola entre Ramos, Piqué, Busquets e Koke. Apenas quando Isco assumia o jogo, os espanhóis ameaçavam. 

A Rússia, por sua vez, recuava cada vez mais e praticamente não conseguia colocar em sentido os espanhóis. Sentia-se que queria levar a decisão para grandes penalidades. 

Iniesta foi o primeiro a entrar, seguiu-se Carvajal e, por fim, Iago Aspas. Com Don Andrès, a Espanha melhorou. E começou a criar situações perto da baliza contrária. O próprio Iniesta viu Akinfeev negar-lhe o golo, após uma assistência deliciosa de peito feita por Aspas.

A Rússia sofria, mas resistia como podia. Limitava-se a aguentar e a esperar o correr do relógio. Em sentido inverso, pedia-se algum risco à Espanha. Caso contrário, abria-se no horizonte um cenário de desempate por grandes penalidades, o que aumentava as probabilidades de uma queda prematura da seleção espanhola.

Para além do resultado, há outro momento histórico que merece ser assinalado. Aleksander Erokhin foi a quarta substituição na história dos Mundiais, após a alteração dos regulamentos.

Coloquemos a história de lado. Rodrigo protagonizou a melhor situação de todo o prolongamento e mostrou que, talvez, pudesse ter entrado mais cedo. Simulação sublime sobre Granat, drible sobre Ignashevich e pontapé forte para defesa apertada de Akinfeev. Foi o melhor momento da Espanha na meia hora extra que foi forçada a jogar. 

Minutos depois, Sergio Ramos foi puxado e derrubado na área por Kutepov. O árbitro consultou o VAR e decidiu nada apitar.

A roleta russa acabou por crucificar Koke e Iago Aspas e elevar Akinfeev a marechal do exército vermelho. Assim, a Espanha volta a cair perante um anfitrião, à semelhança do que aconteceu frente a Coreia do Sul (2002).

Continua a sonhar a Rússia, uma seleção que nunca tinha chegado tão longe num Mundial desde a queda da URSS.