O bom Griezmann, o mau Uruguai, o vilão Muslera. Com três palavrinhas apenas se descreve a vitória francesa. Tão natural como a sede de voltar ao topo do Mundial. 2-0, bleus nas meias-finais pela primeira vez desde 2006.

Griezmann, o bom, ofereceu o primeiro golo a Varane, num livre milimétrico para a cabeça do colega, uma espécie de conexão Atlético-Real; e Griezmann, o bom, assumiu ele próprio a assinatura do segundo e decisivo golo. Pontapé forte à entrada da área francesa, bola a ensaiar uma trajetória razoavelmente traiçoeira e as luvas de Muslera a tremerem no pior momento.

Um frango, não há outra forma de escrevê-lo, no pior instante para o Uruguai. No minuto anterior, a perder por 1-0, Óscar Tabarez lançara Maxi Gomez e Cristián Rodríguez (saíram Rodrigo Bentancur e Christian Stuani), abrira a equipa num clássico 4x4x2 e entregara ao coração, à raça e aos cruzamentos de longa distância o destino capital do seu Uruguai.

FICHA DE JOGO e o Uruguai-França AO MINUTO 

Nada feito. Quando a equipa precisava de solidez atrás e a bênção dos deuses à frente, Muslera viu o diabo na bola de Griezmann e crucificou todo o Uruguai.

Um Uruguai mauzinho, já agora, não se esqueçam da primeira frase da crónica. Um Uruguai sem Cavani – Stuani, autor de uma boa época no Girona, não é a mesma coisa – e rudimentar em alguns princípios fundamentais do jogo: em posse, em ataque organizado, em posicionamento ofensivo.

É verdade que até ao 1-0 o jogo esteve relativamente equilibrado. Muitos choques, muito combate, o Uruguai a levar o jogo para onde queria, no fundo. Mas a qualidade individual estava do outro lado e Luís Suarez não podia fazer tudo.

Na primeira aproximação com qualidade à baliza de Muslera, Griezmann bateu o livre da direita e Varane chegou Stuani não conseguiu.

A perder por 1-0, o Uruguai teve de vestir uma farda que não lhe assenta bem e ir à procura do prejuízo. Desajeitadamente. Tentou, sim, pois isso está no ADN charrua. Cruzamentos, recuperações de bola, muito sangue a ferver, mas nem uma oportunidade de golo.

Ou melhor, na verdade uma oportunidade e logo a seguir ao golo de Varane. Martin Cáceres teve um cabeceamento notável e Hugo Lloris fez uma defesa monstruosa, candidata a melhor do Mundial.

O bom Griezmann (Mbappé e Kanté também mereciam entrar aqui), o mau Uruguai (a sofrer sem Cavani) e o vilão Muslera (um erro horrível num minuto proibido).

França em frente e à espera do Brasil-Bélgica. Uruguai para casa, com o carrasco de Portugal (Cavani) lesionado. E assim se escreveu Liberté, Egalité et Fraternité em Nizhny Novgorod.