O fenómeno de migração dos jogadores do Leste da Europa para o futebol português foi objecto de um estudo feito pelo português Mário Lopes e o inglês I. Waddington, da Universidade de Leicester. As conclusões do trabalho foram apresentadas nesta tarde de sábado, durante o 5.º Congresso Mundial de Ciência e Futebol.

Os dados da pesquisa implicaram o estudo de 15 épocas, entre 1986/87 e 2001/2002. E que mostram os números? Mostram que, na totalidade, o Brasil tem uma maioria quase absoluta entre os estrangeiros que passaram pelos escalões principais do futebol português nos últimos 15 anos: 1670, o que corresponde a 46,5 por cento do bolo total. Mas logo a seguir vem a Jugoslávia, com 237 (6,7%) e a Bulgária aparece em quarto, com 131 (3,7%), só atrás da Espanha (terceira, com 157 jogadores, 4,4%).

Para Mário Lopes, «o caso do Brasil é fácil de explicar: é, por excelência, um grande país exportador de jogadores. Para Portugal, há o aliciante de a língua ser comum». A Espanha explica-se «pela proximidade geográfica, embora esse movimento só tenha ocorrido nos anos mais recentes, porque, curiosamente, nos finais dos anos 80, havia zero jogadores espanhóis no futebol português!»

Deste modo, as presenças de Jugoslávia e Bulgária nos quatro países com mais estrangeiros no futebol português são as mais surpreendentes. Depois de estudado o fenómeno, os dois investigadores do Centro de Pesquisa de Desporto e Sociedade da Universidade de Leicester concluíram que «a presença dos jogadores do Leste da Europa foi sendo cada vez maior nos últimos anos». Mais números a sustentar esta ideia: «Houve, entre 86 e 2001, 562 futebolistas do Leste em Portugal. A Jugoslávia é o maior fornecedor, depois vem a Bulgária, logo a seguir Croácia e Roménia».

A Leste tudo de novo

O caso jugoslavo tem muito a ver com a guerra civil que afectou o país no início da década de 90. A vontade de mudar, de melhorar as condições financeiras, de ingressar num futebol que reconhecem como tendo qualidades, são algumas das explicações avançadas. Depois da desagregação do sistema soviéticos, com as consequências que isso trouxe para os países do antigo bloco de Leste, um novo mercado floresceu.

Estas tendências verificam-se facilmente por estes dados: entre 86-89, a percentagem de jugoslavos entre os estrangeiros no futebol português era de 2,1 por cento; no quadriénio seguinte (90/93), disparou para 18,9.

A título de curiosidade, diga-se que, olhando ainda para os anos de 1986 a 2001, houve um total de 1920 jogadores de países oriundos da CPLP (sendo que 87 por cento eram brasileiros e 4,8 angolanos); 421 futebolistas oriundos de países da UE (Espanha à frente com 37 por cento; França, 23 e Bélgica 10 por cento).