Confesso que já acabei de ler o livro há algumas semanas e poucos segundos depois de ter voltado a última página, olhado mais uma vez para a lombada e tê-lo deixado entregue à sua sorte numa daquelas mesas de sala ¿ onde colocamos os pés quandos os outros não olham ¿ apeteceu-me escrever de imediato alguma coisa sobre ele.  

«Os meus futebolistas e eu», de Johan Crujff, não é uma pérola de literatura, um clássico ou um daqueles livros demasiado leves que apenas servem para nos divertir e fazer esquecer da vida. Não, «Os meus futebolistas e eu» é apenas um relato, extremamente interessante, do futebol. Visto do lado de lá. Que nos tenta dar o lado escuro, desconhecido, desse fenómeno que é o futebol.  

Aqueles que esperam encontrar revelações escandalosas, descobertas surpreendentes ou qualquer aspecto menos positivo do jogo não deve nunca ir buscar o livro à prateleira, isto se já o tiver comprado. O relato que Crujff escreveu a pedido de uma editora espanhola, quando treinava ainda o Barcelona, sob o pretexto de falar dos melhores futebolistas da actualidade (e não só) levanta-nos o ponto do véu sobre determinados aspectos da vida conjunta de treinador e estrela da companhia. 

Quando Crujff, também ele uma grande figura do futebol mundial, reconhece que nunca poderia ser considerado melhor do que Pelé porque os títulos conquistados eram pouco mais que zero, encontramos o fio de uma meada que queremos desenrolar rapidamente, como se houvesse um fim no final do «romance». E não paramos nas palavras, em espanhol, do discurso do homem que imortalizou o número 14 na camisola laranja da selecção holandesa. 

Van Basten, Romário, Stoichkov, Zamorano, Rijkaard, Bebeto são os jogadores do «seu tempo», de treinador do Barcelona, de que fala. Uns bem, outros menos bem. Tentando explicar o sucesso de uns o falhanço de outros. Analizando-os a um ritmo voraz e revelando-lhes a própria natureza. Sobre Paulo Futre, grande estrela do Atlético de Madrid, Crujff escreveu que seria «sempre um jogador de contra-ataque». E pronto. Aceitam outros, outros não. É, como ele próprio reconhece, a sua opinião. 

Quando chegamos ao fim, temos a sensação de termos ficado a conhecer um pouco melhor o fenómeno do futebol. E sabemos que aquelas folhas já são passado. Que Crujjf terá tão mais para dizer... Só falta mesmo é convencê-lo. 

Título: Mi futbolistas y yo 
Autor: Johan Crujff

Ediciones B

Ano: 1997