Afinal, o que é que se passa com a... nandrolona? Esta pergunta terá sido feita, repetidas vezes, por jogadores, treinadores, médicos e dirigentes de clubes e selecções em toda a Europa. 

Um surto de casos positivos relacionados com este esteróide anabolisante disparou no final da época passada. O fenómeno não foi só português. Os primeiros casos apareceram em Itália: sete num curto espaço de tempo. Fernando Couto foi uma das vítimas, o holandês Edgar Davids outro dos visados. Outro holandês, mas a jogar em Espanha, Frank De Boer, protagonizou um dos casos que mais polémica científica gerou em relação à nandrolona: o laboratório português foi um dos que tratou da contra-análise do processo relacionado com o capitão da selecção holandesa. 

O alerta foi dado de imediato. Além das óbvias dúvidas que se levantam em relação à necessidade de jogadores da craveira de Couto, De Boer e Davids tomarem substâncias ilícitas, para mais um esteróide anabolisante que visa fortalecer a massa muscular ¿ sendo que os três se caracterizam por ter uma estrutura física bastante sólida ¿ a coincidência temporal gerava, e ainda gera, perplexidades. Em Portugal, o surto foi exponencial. 31 casos entre a I e II Ligas, com uma enorme incidência de casos no final da época passada... Desses 31, só quatro levaram, pelo menos para já, o CNAD a intervir, considerando-se que existiram dados suficientes para se elaborar um castigo, que tem como pena mínima seis meses de suspensão de actividade. 

Certo, certo é que ninguém tem... certezas sobre as explicações objectivas deste fenómeno. A nandrolona é um caso complicado. Isto porque o organismo pode produzir, fisiologicamente, esta hormona masculina. A questão está nos níveis apresentados. Estima-se que cerca de 11 por cento da população mundial tenha valores que podem estar muito próximos dos valores limite previstos pelos regulamentos. A justificação para o passar dos limites, dada por médicos e jogadores, tem sido este fenómeno fisiológico, mas os especialistas têm muitas dúvidas sobre isso. 

A questão é esta: por que é que só agora estão a aparecer casos, se essa produção no organismo pode surgir a qualquer momento? «Há anos que fazemos controlos em relação à nandrolona. Por que raio só agora estão a ocorrer casos positivos?», pergunta, em tom retórico, Manuel Brito. Os factores de subida no organismo da nandrolona são cinco: ingestão de carne de porco; ingestão de carne de cavalo; uso de champôos; uso de dentífricos; relações sexuais. Manuel Brito sobe o tom da ironia: «Será que os jogadores só começaram a fazer amor no final da época??»  

Chave pode estar nos suplementos nutricionais 

Mas estas dúvidas podem não implicar uma ingestão ilícita de nandrolona. A chave pode estar nos suplementos nutricionais. Prática corrente nos desportistas de alta competição, estes suplementos contêm componentes que nem sempre estão devidamente especificados. A solução para o mistério-nandrolona pode estar aí: «É essa a minha convicção. Os atletas que foram apanhados podem ter ingerido suplementos nutricionais perfeitamente legais, mas que não especificavam na sua composição tudo o que tinham. É uma questão que temos que resolver. Queremos obrigar os fabricantes destes produtos a uma rotulagem exaustiva. Mas há interesses comerciais muito poderosos que complicam este problema», refere Manuel Brito. 

Nos EUA, muitos destes suplementos são de venda livre. Em Portugal, a toma de suplementos nutricionais em atletas de alta competição passa sempre pelos departamentos médicos. Estes podem, por isso, estar a ser vítimas da falta de informação. Um caso recente na América mostrou que um produto que no seu rótulo garantia não conter uma determinada substância ilícita, foi sujeito a análise laboratorial e afinal... continha mesmo.  

Este fenómeno está a preocupar os laboratórios de análise. Todo o desporto pode estar a ser vítima dos grandes interesses da indústria farmacológica.