Dentro do campo, disputa cada lance como se fosse o primeiro, sempre em correria constante à procura do golo. Só pára quando alcança o objectivo, depois de aterrorizar os defesas e deixar os guarda-redes à beira de um ataque de nervos. Mas fora das quatro linhas tudo é diferente. Pena despe a pele de ponta-de-lança e opta por uma postura mais retraída. Porque não dizê-lo: o avançado do F.C. Porto não sabe disfarçar a timidez e muitas vezes revela-se introvertido, ao mesmo tempo que coloca a nu a sua simplicidade. 

Há pouco mais de dois meses em Portugal, o líder dos melhores marcadores da I Liga ainda se sente pouco à vontade na presença dos jornalistas. Em cada pergunta, medita durante breves segundos, fixa o olhar no chão e raramente fala na primeira pessoa. «Eu» é uma palavra que excepcionalmente se ouve da sua boca, porque o discurso assenta no «nós», apenas para reforçar até à exaustão o nome do clube que representa, o F.C. Porto. Tudo isto num tom dócil, ausente de qualquer tipo de proveito fácil. 

Para trás ficava mais um jogo, uma vitória e dois golos. Mas não foi um desafio qualquer. Frente ao Salgueiros, Pena igualou o recorde de Jardel: em nove jornadas consecutivas colocou sempre a bola no fundo das redes. A proeza foi realçada, mas o avançado respondeu de forma subtil, guardando para dentro a satisfação do triunfo. Mas fê-lo de uma forma natural, sem forçar expressões faciais, recusando mesmo as luzes da fama. 

«Só tenho de empurrar a bola» 

«O futebol vive de espaços. O Jardel é um grande jogador, fez história no F.C. Porto, mas já saiu. Apenas procuro o meu espaço nesta equipa e estou a conseguir», destaca Pena com frontalidade. «Os golos surgem graças ao trabalho e à ajuda dos colegas, que fazem as assistências. Só tenho de empurrar a bola, porque jogo na frente», completa, privilegiando o colectivo e negando qualquer tipo de louros. 

Para já, lidera a lista dos melhores marcadores com 13 golos e arrisca-se a ser o artilheiro da I Liga. Mas isso é uma questão fútil: «Não penso nisso, apenas quero ajudar o F.C. Porto», sublinha, ao mesmo tempo que alguém o apelida de modesto. «Conheço as minhas capacidades e estou aqui para falar do grupo, porque o Pena sozinho não faz golos», realça, sem individualismos.