A tentação de passar em revista as muitas polémicas em que Cruijff se envolveu, no Barcelona, no Ajax ou na selecção holandesa, serve para ilustrar a insatisfação com um estado de coisas que, em seu entender, dura há demasiado tempo: «Os conflitos por que passei na minha etapa de jogador explicam uma parte desta necessidade de ajudar à mudança. A capacidade para interferir mais directamente nas decisões que envolviam a minha vida profissional foi uma das coisas que me falharam nesse tempo», admite.  

Se Cruijff, que era Cruijff, sentiu essas limitações, o que não terão a dizer outros jogadores de menor projecção e menor capacidade interventiva? O holandês pega neste tema para aprofundar o conceito da sua escola: «Quando reencontras velhos colegas e amigos - alguns dos quais não viste durante 20 anos ¿ e lhes perguntas o que fazem agora, muitas das vezes a resposta é se tivesse estudado poderia estar melhor. É para essas pessoas que se destina o curso, para evitar que essas situações continuem a acontecer. De uma forma geral, aos 17 anos um desportista já não estuda. Aos 24/25 já começa a ser velho para o meio em que está. Ao mesmo tempo é um jovem para a vida, que sabe muito pouco do que o rodeia», resume.  

Por momentos, poderia pensar-se que a ideia padece de corporativismo excessivo. Mas Cruijff rejeita essa crítica logo à partida: «O nosso objectivo é formar um novo tipo de dirigentes vindos do mundo do desporto, pessoas que investem anos da sua vida na prática desportiva e não podem, por isso, aceder facilmente à escolaridade normal. Não somos elitistas, não queremos apenas os grandes nomes, os profissionais, os mais rápidos, ou mais fortes. Queremos dirigir-nos àqueles que sentem ter capacidade e vontade para aprender algo mais do meio em que passam grande parte das suas vidas», conclui. 

O objectivo de Cruijff estará cumprido no dia em que, da FIFA à UEFA, do Barcelona ao Real, do Milan à Juventus, forem ex-jogadores a tomar as decisões? Por momentos, o holandês parece namorar a ideia, mas opta por uma resposta politicamente correcta: «No geral, creio que quem conhece bem o desporto está mais preparado para tomar as decisões que importam. Mas fico contente se tudo for bem dirigido, sejam quais forem os responsáveis. Num mundo que muda tanto, e tão rapidamente, cada ideia será bem vinda. Há muitas formas de chegar aos mesmos objectivos», concede diplomaticamente.