O Conselho Nacional Anti-Dopagem (CNAD) vai solicitar ao Instituto Nacional do Desporto (IND) a abertura de um inquérito à Federação Portuguesa de Futebol sobre o seu comportamento na luta contra o doping e tenciona ainda apresentar uma exposição à UEFA e à FIFA. A medida foi hoje anunciada por Manuel de Brito, presindente do IND e por inerência do CNAD, na sequência de uma reunião extraordinária do CNAD, e ja constituiu um grupo de trabalho, formado por três advogados, que serão os inquisidores no processo contra a FPF.

O inquérito poderá levar o IND a suspender o estatuto de Utilidade Pública Desportiva da FPF e Manuel Brito garantiu, em declarações à agência Lusa, que «não terá qualquer dúvida em tomar essa medida». O CNAD e o IND estão ainda a estudar a possibilidade de comunicar ao Ministério Público «factos que confiram o auxílio ou o inicitamento ao tráfico e ao consumo de substâncias dopantes», pois «há fortes indícios de que existem pessoas que estão a dopar atletas em Portugal», adiantou ainda Manuel de Brito, que teceu duras criticas aos procedimentos pela FPF em relação aos últimos casos de doping.

A absolvição de Marco Almeida e Laelson, antigos jogadores do Campomaiorense que acusaram o consumo ilícito de nandrolona, levantou a polémica que, agora, promete prosseguir com o caso de Quim, guarda-redes do Sp. Braga que se encontra preventivamente suspenso pela FPF a aguardar uma decisão da Comissão Disciplinar da Liga. 

«O acórdão proferido pela Liga é a medida mais grave tomada até hoje contra a luta anti-doping»

O CNAD decidiu comunicar à UEFA e à FIFA os comportamentos da FPF e da Liga nos recentes casos de doping. «O acórdão da Liga está suportado em gravíssimos erros científicos, estudos que não correspondem ao citado, pelo que as autoridades judiciais também têm de ter conhecimento do assunto», referiu Manuel de Brito. A decisão da Liga em absolver os dois referidos jogadores abriu uma «guerra» entre o CNAD e FPF e a Liga de Clubes. «O acórdão proferido pela Liga é a medida mais grave tomada até hoje contra a luta anti-doping, mostrando pouco conhecimento da área desportiva e da sua estrutura sistemática», adiantou ainda Manuel de Brito.

O presidente do IND lançou ainda criticas contra dirigentes e treinadores que têm saído em defesa dos jogadores envolvidos nos casos de doping, considerando que frases como «estou solidário com o jogador x» ou «o futebolista y está inocente» colocam em causa o bom nome e a legalidade do Laboratório de Análises de Bioquímica e Anti-Doping (LABD), o CNAD e outras instituições que representam interesses públicos.

Manuel de Brito, recorrendo à ironia, recordou as referências públicas em defesa dos jogadores dopados, considerando que «há um mistério sobrenatural do tipo ET», com os agentes a tentarem colocar as «culpas» no CNAD e no laboratório.