As duas contratações frustradas para o Benfica ocupam agumas páginas do livro «Os meus segredos», lançado por Mário Jardel esta segunda-feira. De Gaspar Ramos a Manuel Vilarinho, passando por Toni, António Simões, Paulo Autuori e Paulo Barbosa. A história de um amor nunca concretizado, contada pelo goleador.

Porto Alegre, Brasil

O telefone de Jardel toca. Do lado de lá, o empresário, Minguella, diz que há um grande de Portugal interessado em tê-lo. Depois da transferência falhada para o Glasgow Rangers, o Benfica é um nome agradável. No dia seguinte, «duas notícias, uma boa e outra má». Gaspar Ramos, chefe de departamento de futebol do Benfica, recusara a proposta «por causa de 100 mil dólares», mas havia outro clube português interessado: o Porto.

Jardel diz no livro que «nunca tinha ouvido falar no Porto», mas Minguella explicou-lhe. Ficava para nunca mais a dupla ofensiva que fazia Autuori sonhar: Donizete-Jardel. Visto de longe, fazia todo o sentido. Uns dias depois, já num restaurante da Ribeira, Pinto da Costa haveria de «perder a cabeça» e gastar quatro milhões de dólares na compra definitiva do passe. E foi o que se sabe.

Istambul, Turquia

O Benfica reaparece na vida de Jardel mais tarde. As coisas estão más para o jogador, na Turquia, e piores para o candidato à presidência dos «encarnados», Manuel Vilarinho, em Lisboa.

O primeiro telefonema, de Paulo Barbosa e António Simões, aconteceu em Outubro, conta o jogador no livro. Primeiro pensou que «fosse engano», mas mostrou disponibilidade para conversar. O assunto foi encaminhado para os empresários e as conversas andaram enroladas até ao dia do debate televisivo entre Manuel Vilarinho e Vale e Azevedo. Foi nessa altura que se assinou o contrato.

Na noite das eleições, relata o jogador, Paulo Barbosa ligava-lhe «de 15 em 15 minutos» a contar como iam os resultados. Ficaram até às quatro da manhã à espera dos resultados finais. «Ganhámos!», gritou Karen, a mulher do jogador. E o telefone tocou. Do outro lado, Paulo Barbosa. Na televisão, Vilarinho aparecia, no pavilhão gritava-se Jardel.

Uma semana depois das eleições, primeiro telefonema de Vilarinho. Queria trazê-lo logo em Dezembro, apesar de a cláusula de rescisão só ser válida a partir de Maio. Dois ou três telefonemas depois, o entusiasmo do agora presidente do Benfica já não se assemelhava ao do primeiro contacto. Em Dezembro Paulo Barbosa e António Simões foram à Turquia sugerir que Jardel assumisse que não continuava na Turquia. O jogador disse que não. A partir daí tudo mudou e Jardel conclui: «Ajudei a ganhar uma eleição e fui enganado». Vilarinho tinha sido «arrogante e prepotente», mais uma vez não seria jogador do Benfica. A indemnização, se existir, será decidida pelos tribunais.